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Marcel Rizzo

Assunção, onde está a Conmebol, era o destino preferido do avião da Lamia

Marcel Rizzo

01/12/2016 01h02

Assunção, no Paraguai, foi nos últimos cinco meses o destino preferido do avião da Lamia que se acidentou com a delegação da Chapecoense, matando 71 pessoas, na última terça-feira (29). A aeronave caiu próximo a Medellin, na Colômbia.

Na capital paraguaia fica a sede da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol). Como publicou o UOL Esporte, havia uma orientação informal da confederação para que clubes do continente usassem o serviço da pequena companhia aérea boliviana.

A maioria dos voos deste avião, sem surpresa, saiu ou chegou a Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. É lá que fica a sede da Lamia Corporation S.R.L., que tem apenas um avião em operação, matrícula CP 2933, modelo BAe Avro 146. Ou seja, voltava e saía de casa. Mas chama a atenção Assunção ser a principal rota, se a sede da companhia é a Bolívia e sua fundação foi na Venezuela.

O blog cruzou todos os voos do avião acidentado nos últimos cinco meses, utilizando dados do site Flight Radar 24. Foram 21 deslocamentos partindo ou chegando ao Aeroporto Internacional Silvio Pettirossi, que fica na verdade em Luque, cidade da Grande Assunção – e, também, município onde está o moderno prédio da sede da Conmebol.

Para Santa Cruz de La Sierra foram 34 deslocamentos, entre pousos e decolagens. Cochabamba, também na Bolívia, aparece como terceiro destino preferido do Lamia 2933, com 20 saídas ou chegadas.

Houve deslocamentos diretos de Assunção chegando ou partindo de Santa Cruz de La Sierra, Cochabamba, Salta (ARG), Buenos Aires e Cobija (BOL).

A presença do avião em Assunção, em duas oportunidades, foi para levar times locais para partidas. Em junho, o Olimpia foi de Assunção a Salta fazer um amistoso contra o Boca Juniors. Em setembro, o Sol de América viajou a Medellin para encarar o mesmo Atlético Nacional que seria o rival da Chapecoense, nesta quarta, na final da Sul-Americana — fez escala em Cobija.

Os outros deslocamentos não estão claros. Em nota em seu site oficial, a Conmebol negou ter relação com a Lamia. "[a Conmebol] esclarece que entre as atividades de logística que a confederação oferece para realizar torneios não está incluída a coordenação de nenhum tipo de transporte, assim como a recomendação de provedores".

A empresa não se pronunciou.

Combustível

Cobija, uma pequena cidade de 50 mil habitantes ao norte da Bolívia, na divisa com o Acre, tem 14 deslocamentos no período porque era ali, no pequeno aeroporto, que o Lamia 2933 abastecia quando precisava fazer deslocamentos mais longos.

Uma das hipóteses levantadas para a queda do avião é de que houve pane seca, ou seja, acabou o combustível no trajeto de Santa Cruz de La Sierra a Medellin. Segundo o Fligh Radar, a distância entre essas cidades da Bolívia e Colômbia é de 2.975 km, pouco menos do que a autonomia da aeronave, que segundo informações da própria Lamia é de 3 mil km.

O levantamento do blog identificou que o voo de Santa Cruz de La Sierra para Medellin foi o mais longo da aeronave no período. Em outras quatro oportunidades, a cidade da Colômbia foi destino do avião, mas em todas elas Cobija foi usada como escala de abastecimento – o que especialistas dizem que deveria ter sido repetido agora.

Duas vezes o deslocamento de Medellin tinha Assunção como destino ou partida, uma outra vez Caracas, na Venezuela era o destino e, na outra, Santa Cruz de La Sierra, em voo idêntico ao feito com a delegação da Chapecoense dentro, só que em destino contrário e, desta vez, com parada em Cobija para reabastecer.

Houve somente mais um voo que beirou os 3 mil km de autonomia da aeronave. Em 28 de outubro, o Lamia 2933 partiu de Cochabamba direto para Medellin, em voo de 2.816 km que durou 4h27 min.

Para o Brasil, o Lamia 2933 fez uma viagem de Santa Cruz de La Sierra a Natal, com escala em Brasília para reabastecimento, em 5 de outubro com volta no dia 7 – estava dentro a seleção da Bolívia, que enfrentou o Brasil pelas eliminatórias.

No dia 6 de novembro, com volta dia 11, o trajeto foi Buenos Aires- Belo Horizonte, direto, para levar a seleção argentina para enfrentar o Brasil. Em 20 de outubro, o avião fez um pouso em Foz do Iguaçu – a saída foi de Barranquilla, na Colômbia, com escala em Cobija, passagem por Foz e destino final em Ciudad del Leste, no Paraguai. Não há registro do motivo do voo.

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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Notícias dos bastidores do esporte, mas também perfis, entrevistas e personagens com histórias a contar.