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Marcel Rizzo

Federações recebem até 10% do total pago por negociar TV dos Estaduais

Marcel Rizzo

20/02/2017 10h25

As federações estaduais de futebol têm seus torneios regionais como principal fonte de renda, o que explica porque até hoje os Campeonatos Estaduais não tiveram um fim nas principais praças e uma mudança de formato naquelas com clubes de menor expressão e torcida.

E o dinheiro da televisão é um ativo importante no faturamento vinculado aos estaduais – em alguns casos chega a 10% do total pago por ano. Por isso que a Federação Paranaense de Futebol comprou briga com seus dois principais filiados, Atlético-PR e Coritiba, que resolveram transmitir por conta própria jogo do Estadual.

Ao contrário do que ocorre no Campeonato Brasileiro da Série A, organizado pela CBF mas com os clubes negociando diretamente com as emissoras de TV o televisionamento em cada uma das plataformas, nos Estaduais são as federações quem sentam com as TVs para tratar de valores e tempo de contrato. E, na maioria dos casos, são remuneradas por isso.

No domingo (19), o clássico paranaense Atlético-PR e Coritiba foi cancelado porque a Federação local proibiu que uma equipe de transmissão contratada pelos clubes fizesse a transmissão da partida pela internet. Os rivais não aceitaram a proposta da Globo, de R$ 1 milhão para cada pelo Estadual de 2017, em negociação intermediada pela Federação Paranaense, e não assinaram o contrato.

São dois os motivos financeiros que fazem as federações não abrirem mão desse protagonismo nas negociações dos direitos de TV.

Primeiro porque, na maioria dos casos, há pagamento direto da TV que assinou contrato para a federação, pelo direito de transmitir o torneio organizado por ela. A Federação Paranaense, em seu último balanço patrimonial divulgado, do exercício de 2015, não informa separadamente o quanto recebeu por direitos comerciais. No documento, esse valor é de R$ 2,015 milhões, contando R$ 950 mil de doação da CBF, que dá dinheiro anual a todas as federações.

Comissão

Mas o blog apurou, por exemplo, que a Federação Paulista de Futebol recebe 10% do total pago pelo Grupo Globo por seu Estadual – fechado por cerca de R$ 160 milhões por ano, em todas as plataformas (TVs aberta e fechada, pay-per-view e internet) até 2021.

A Federação do Rio, que fechou recentemente contrato com a Globo de mais de R$ 120 milhões por ano até 2020 por seu Estadual, colocou em seu último balanço divulgado (de 2015) que recebeu R$ 5,401 milhões de "direitos televisivos e comerciais".

Diz a Federação do Rio que "os direitos comerciais e televisivos se referem aos valores pagos pelos canais de televisão em que as partidas são transmitidas em rede nacional e/ou estadual". Ou seja, se deixar de negociar diretamente, talvez perca essa verba, ou parte dela.

Há um segundo ponto, entretanto. Negociar diretamente com a TV faz com que a federação tenha mais facilidade para encontrar patrocinadores para os torneios, atrelando o direito de transmissão com sua marca. Hoje, algumas federações vendem até o nome do torneio, chamado de "naming rights", e veem no contrato da TV uma forma de incentivar que empresas fechem acordos pelos campeonatos.

Por isso não é estranho que a federação paranaense peite seus dois principais filiados que não assinaram os direitos de TV com quem a entidade gostaria. Por Lei, o direito de transmissão é propriedade dos clubes. Portanto, mesmo as federações negociando e acertando, se os clubes não assinarem, não há jogo. Como se viu em Curitiba neste domingo.

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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