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Marcel Rizzo

Castelão busca mais do que Wesley Safadão para não ser novo elefante branco

Marcel Rizzo

30/05/2017 04h00

Arena Castelão conseguiu um jogo do Ceará na Série B, e espera ter mais (Crédito: Marcel Rizzo)

Junto com o Mineirão, em Belo Horizonte (MG), a Arena Castelão, em Fortaleza (CE), foi o estádio preparado para a Copa-2014 que mais rápido ficou pronto. Em janeiro de 2013, cinco meses antes do torneio preparatório, a Copa das Confederações, e um ano e meio antes do Mundial, estava apto a receber partidas. Como prêmio ganhou até jogo do Brasil na primeira fase em 2014.

Agora, quase três anos após a Copa, o Castelão luta para não ficar ocioso. Os contratos que a empresa que controla a arena tinha com os dois principais clubes do Estado terminaram.  O Fortaleza, na Série C, tem marcado seus próximos três confrontos como mandante para o Presidente Vargas. Já o Ceará, na Segunda Divisão, fez um aditivo somente para usar o Castelão na próxima sexta (2), contra o Londrina — as duas próximas partidas como mandante continuam agendadas para o Presidente Vargas.

O PV, como é conhecido na cidade, é estádio que pertence à prefeitura e passou por pequena reforma de pouco mais de R$ 1 milhão para estar apto a receber jogos do Brasileiro – foram colocados corrimões na arquibancada, assentos numerados e houve melhoria no vestiário.

O Fortaleza, por enquanto, está satisfeito com o PV. O Ceará viu problemas no gramado na partida que fez contra o Boa Esporte, pela segunda rodada da Segundona, e achou o aluguel do campo e quadro móvel caros, e por isso optou por um aditivo no contrato, que vence no fim de maio, para atuar na sexta no Castelão. Por enquanto, o Ceará é a esperança da Luarenas, a empresa que administra o Castelão, a ter partidas em sequência em 2017.

Há negociação para que isso ocorra, e será fundamental para a concessionária. O contrato com o governo do Ceará que cedeu a gestão do Castelão à empresa diz que é preciso que ocorram 60 partidas de futebol por ano por ali. E jogos beneficentes, como o que acontece no fim do ano organizado pelo cantor Wesley Safadão, não contam.

Negociação

A Luarenas tem como uma das sócias a Lagardére, empresa francesa que estava interessada em pegar a concessão do Maracanã, no Rio (por enquanto, não houve acerto). No Castelão, assim como na Arena Independência, em Belo Horizonte, administra o estádio junto com a BWA, empresa que ficou conhecida, principalmente, em São Paulo nos anos 1990 e 2000 por gerenciar a entrada (catracas) e recolhimento de ingressos em partidas de futebol.

Segundo a Luarenas, todo ano acontece a mesma coisa: os clubes "fazem jogo duro" para renovar o contrato, e jogam algumas partidas no PV antes de voltarem ao Castelão. Duas são as principais reclamações dos clubes quanto à arena: distância para os torcedores chegarem (o PV fica no centro da cidade, enquanto o Castelão está a cerca de dez km), e custo para as partidas, levando em conta que os clubes não levam mais de dez mil pessoas nessas primeiras fases das competições que disputam.

"Tem toda essa questão do custo no Castelão. Vou dar um exemplo: se eu quero fazer algum evento com um patrocinador meu, a Arena Castelão cobra. Hoje, para o Fortaleza, o PV é mais atraente", disse Marcello Desidério, presidente em exercício do Fortaleza – o clube vive crise política, a diretoria antiga renunciou e Desidério, que preside o Conselho Deliberativo, assumiu interinamente.

Robinson de Castro, presidente do Ceará, é menos enfático em sua preferência pelo PV. Ao blog, ele reclamou do gramado do estádio da prefeitura, e disse que esperava um valor mais baixo para o uso. "Ainda precisa melhorar [o PV] com relação à estrutura. Pretendo conversar com o prefeito [Roberto Cláudio-PDT] a respeito. O ideal seria Ceará e Fortaleza fazerem juntos essa negociação, para conseguirem melhores condições", avalia Castro.

No Campeonato Cearense, quando o Castelão foi utilizado em 29 partidas, o valor da taxa de aluguel do campo foi de 7% da renda bruta. Nos primeiros jogos do Ceará e do Fortaleza no Brasileiro, o custo para o PV foi de 6% da renda bruta. "Está caro, se comparada a estrutura dos dois estádios", disse Castro.

Contra o Boa Esporte, no PV, único jogo que fez como mandante até agora na Série B, o Ceará teve uma renda bruta de R$ 51.052,08, mas com o pagamento de todas as taxas e de pessoas que trabalharam na partida, ficou no final com o valor líquido de R$ 4.794.

Eventos

A administração do Castelão informou ao blog que o custo mensal do estádio é de R$ 280 mil, e que eventos extra ao futebol, como show que aconteceram nos dois últimos meses com artistas famosos na região, como o Safadão e o Aviões do Forró, fazem com que haja receita de manutenção (não há valores divulgados). Existe, por exemplo, negociação com a organização do Rock in Rio, que será em setembro, para que alguns dos artistas internacionais do evento possam se apresentar em Fortaleza — os shows são preparados no estacionamento da arena, portanto não prejudicam o gramado, por exemplo.

Mesmo assim, sem jogos de futebol, a razão para existência de qualquer estádio, o Castelão ficaria semelhante a estádios construídos ou reformados para a Copa-2014 que, hoje, acabam tendo pouquíssimas partidas ou jogos com públicos irrisórios. A Arena Amazônia, em Manaus, a Pantanal, em Cuiabá, e o Nacional Mané Garrincha, de Brasília, são os principais exemplos.

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

Sobre o Blog

Notícias dos bastidores do esporte, mas também perfis, entrevistas e personagens com histórias a contar.