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Marcel Rizzo

Arena das Dunas: nenhum estádio da Copa precisou tanto do dinheiro do BNDES

Marcel Rizzo

06/06/2017 10h38

A Arena das Dunas foi o estádio da Copa-2014 que, proporcionalmente, mais utilizou dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) em sua construção. Dos R$ 400 milhões totais da obra, 99% vieram do banco estatal (R$ 396,5 milhões). O restante, R$ 3,5 milhões, foi pago pelo Governo do Rio Grande do Norte.

O estádio em Natal (RN) recebeu quatro jogos do Mundial e foi protagonista na manhã desta terça (6) de ação da polícia federal em desdobramento da Operação Lava Jato, batizada de Manus, por suspeita de superfaturamento. O ex-ministro do turismo e ex-presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), foi preso. Há suspeita de que a arena tenha tido um sobrepreço de R$ 77 milhões.

Para a Copa do Mundo no Brasil, o BNDES criou uma linha de crédito para ser usado na construção dos estádios, chamado de ProCopa, no limite de R$ 400 milhões por arena. Das 12 reformadas ou construídas para a competição, 11 utilizaram dinheiro do banco.

Somente o estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília, não pegou o empréstimo e o R$ 1,4 bilhão foi integralmente pago pelo Governo do Distrito Federal. O mais caro equipamento da Copa, o Mané Garrincha também é investigado por superfaturamento.

O Beira-Rio, em Porto Alegre, um dos três estádios privados da Copa (junto com a Arena da Baixada, em Curitiba, e a Arena de Itaquera, em São Paulo), foi o segundo que proporcionalmente mais utilizou dinheiro do BNDES na reforma, 83,3% do total gasto. Na sequência aparece a Arena Pernambuco, na região metropolitana de Recife (PE), com 75% (veja ao fim do texto o levantamento completo).

Na construção das arenas, o modus operandi de financiamento foi basicamente o mesmo: dinheiro do BNDES, usado quase sempre no limite de crédito possível (R$ 400 milhões), completado depois por verba dos governos estaduais, quase todos donos dos estádios reformados. O valor total das obras foi de R$ 8,3 bilhões.

Arena das Dunas recebeu quatro partidas da Copa-2014 (Crédito: Divulgação)

R$ 50 milhões a mais

Em Natal, o projeto inicial previa gasto de R$ 350 milhões para demolir o antigo Machadão, estádio da década de 1970 construído na esteira de obras em campos de futebol patrocinadas pelo governo militar, e levantar a arena moderna, batizada de Dunas, referência à principal atração turística da capital potiguar.

Deste valor, o governo estadual gastaria R$ 16 milhões para a elaboração do projeto básico, e mais R$ 83,5 milhões na obra em si (principalmente para a demolição do Machadão). Do BNDES viriam os R$ 250,5 milhões para o complemento da obra.

Aos poucos, o estado passou a ter problemas para pagar sua parte, e mais dinheiro do BNDES precisou ser captado, além de um acréscimo de R$ 50 milhões no total da obra, principalmente, segundo documentos, por pagamentos referentes a assentos temporários necessários e certificações ambientais que foram pedidas no decorrer da construção.

Dos 12 estádios da Copa-2014, a Arena das Dunas só não foi mais cara do que o Beira Rio (R$ 330 milhões) e a Arena da Baixada (R$ 391,1 milhões), estádios privados, de Inter e Atlético-PR, respectivamente, e que foram reformados, não colocados a baixo e construídos de novo.

Mesmo assim, o Ministério Público Federal, a Receita Federal e a PF afirmam que houve o superfaturamento de R$ 77 milhões na arena em Natal, valor que deixava até mesmo a previsão inicial da obra, de R$ 350 milhões, acima de uma quantia real. Segundo o Tribunal de Contas do Estado (TCE) do Rio Grande do Norte, se os pagamentos referentes ao estádio continuarem sendo feitos (de juros, por exemplo), os danos aos cofres públicos em 15 anos chegarão a R$ 457 milhões.

 Quanto cada estádio usou do BNDES

Arena das Dunas (99% da obra financiada pelo BNDES) – Total da obra: R$ 400 milhões – BNDES: 396,5 milhões.

Beira-Rio (83,3%) – Total da obra: R$ 330 milhões – BNDES: 275,1 milhões

Arena Pernambuco (75%) – Total da obra: R$ 532,6 milhões – BNDES: 400 milhões

Castelão – (67,6%) – Total da obra: R$ 518,6 milhões – BNDES: 351,5 milhões

Arena da Amazônia (60,6%) – Total da obra: R$ 660,5 milhões – BNDES: 400 milhões

Arena Pantanal (57,9%) – Total da obra: R$ 583 milhões – BNDES: 337,9 milhões

Mineirão (57,5%) – Total da obra: R$ 695 milhões – BNDES: 400 milhões

Fonte Nova (47,3%) – Total da obra: R$ 684,4 milhões – BNDES: 323,6 milhões

Maracanã (38%) – Total da obra: R$ 1,050 bilhão – BNDES: 400 milhões

Arena Itaquera (37%) – Total da obra: R$ 1,080 bilhão – BNDES: 400 milhões

Arena da Baixada (33,5%) – Total da obra: R$ 391,5 milhões – BNDES: 131,1 milhões

Mané Garrincha (0) – Total da obra: 1,4 bilhão (100% Governo do Distrito Federal) 

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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