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Marcel Rizzo

O erro de Roberto de Andrade e o dedo de Tite para o Corinthians ser líder

Marcel Rizzo

26/06/2017 04h00

Quem conversa com Roberto de Andrade, presidente do Corinthians, ouve dele qual foi o principal erro do mandato iniciado em 2015: não ter efetivado de fato Fabio Carille em setembro de 2016, quando demitiu Cristóvão Borges.

Alguns conselheiros que ouvem isso de Andrade o cutucam e perguntam por que ele não retrocede alguns meses e lamenta não ter efetivado o auxiliar Carille assim que Tite deixou o clube rumo à CBF e ao comando da seleção brasileira. Foi em junho, mas ali, diz Andrade, não havia dúvida para ele que era preciso um treinador experiente, já que Tite deixava o time na quarta posição do Brasileiro.

Daria para brigar pelo título, e a avaliação é que Carille não estava pronto para isso. Cristovão foi contratado, o time caiu de produção e ele foi demitido em setembroCarille ficou quase um mês como um "interino efetivado", já que Andrade disse que ele permaneceria até dezembro, mas nesse meio tempo, sem certeza, prospectou nomes e acabou contratando, em outubro, Oswaldo de Oliveira.

O time caiu ainda mais de produção, e acabou o campeonato em sétimo. Para Andrade, o erro não foi o fato de que com Carille talvez o time tivesse se classificado para a Libertadores, por exemplo, mas sim porque ele já teria iniciado antes o trabalho que dá frutos agora. Um trabalho que hoje, no clube, é considerado quase como uma continuidade do legado de Tite.

Gêmeos

Campeão brasileiro incontestável em 2015, com 12 pontos à frente do segundo colocado (Atlético-MG), o Corinthians de Tite era um time seguro. Entrava em campo, não corria riscos, e no ataque, mesmo se tivesse uma chance apenas, resolvia. É isso o que Carille tem feito agora, em uma equipe que pode se considerar que tem um, ou até dois ou três dedos de Tite.

Não, Tite não liga para Carille no sábado para escalar o time de domingo. O que Carille herdou de Tite foi o conceito de jogo. Claro que há contato entre os treinadores, Tite conversa com vários profissionais, e com Carille, como não poderia deixar de ser diferente, há um carinho especial. A convocação de Rodriguinho à seleção aconteceu não só depois de análise de vídeo e in loco da comissão técnica da seleção — o bate-papo entre os técnicos foi fundamental.

O Corinthians de 2017 foi montado com o conceito de Tite em campo, e com o estilo de Edu Gaspar fora dele. O executivo foi com Tite para a CBF um ano atrás, mas jamais deixou de manter contato com Alessandro Nunes, diretor que permaneceu no Parque São Jorge.

Há quem diga que o dedo de Edu no Corinthians 2017 é muito maior do que qualquer legado que Tite possa ter deixado para Carille, devido à grande amizade de Gaspar e Alessandro — e isso já gerou críticas de pessoas ligadas ao ex-presidente Andrés Sanchez, que queriam ter mais voz no futebol corintiano.

O legado de Tite, mesmo um ano após deixar o Corinthians, permanece. Dentro e fora de campo. E o erro de Andrade vai ser esquecido (e poderia ter se repetido, já que ele procurou Guto Ferreira e Reinaldo Rueda para o lugar de Carille em 2017).

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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