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Marcel Rizzo

Por que a Conmebol se frustrou com o desempenho do Grêmio contra o Real

Marcel Rizzo

21/12/2017 04h00

Cristiano Ronaldo passa por gremistas na final do Mundial (Crédito: Amr Abdallah Dalsh/Reuters)

Um dos assuntos discutido por cartolas de clubes, confederações sul-americanas e Conmebol nos dois dias de encontros na sede da entidade essa semana em Luque, no Paraguai, foi a final do Mundial em que o Grêmio perdeu por 1 a 0 para o Real Madrid, sábado passado, nos Emirados Árabes Unidos.

O placar apertado não refletiu a desvantagem técnica e tática do time brasileiro — foram, por exemplo, 20 chutes a gol dos espanhóis, contra apenas um dos gremistas, e em cobrança de falta. A disparidade frustrou a Conmebol e acabou, pelo menos em um primeiro momento, com uma das teses usada pela confederação para estender em 2017 para o ano todo o calendário da Libertadores — de que o seu representante chegaria ao Mundial embalado e melhor preparado para encarar o milionário adversário europeu.

Até 2016 a decisão da Libertadores se realizava até julho, o que na visão da cartolagem causava um problema: nos meses seguintes ao Mundial o campeão ou se desmanchava na janela de transferências de agosto, perdendo atletas para mercados mais ricos como Europa, Oriente Médio e China, ou se acomodava já como o melhor da América do Sul e perdia ritmo para chegar em boa forma ao Mundial. No Brasil, por exemplo, nunca um time que venceu a Libertadores ganhou no mesmo ano o Campeonato Brasileiro como conhecemos no formato atual, que tem seu calendário por pontos corridos quase o ano todo.

Aos sul-americanos incomoda a freguesia que se transformou o Mundial de Clubes da Fifa: nos últimos 11 torneios, os europeus venceram dez. O Corinthians foi a exceção, ganhando do Chelsea a decisão, em 2012. Desde a criação do modelo atual desse campeonato, em 2005, somente outros dois times pararam os europeus, o São Paulo, em 2005, e o Inter, em 2006.

Ou seja, em 13 edições está 10 a 3 para a Europa, sendo que em três ocasiões os sul-americanos nem na final chegaram, parando já na semi (Inter, em 2010, Atlético-MG, em 2013, e Atlético Nacional-COL, em 2016) — o Corinthians foi campeão em 2000, batendo outro brasileiro na final, o Vasco, em formato diferente de disputa do primeiro Mundial organizado pela Fifa.

No estudo realizado pela Conmebol em 2016 para transformar a Libertadores em um torneio disputado o ano todo, um dos tópicos que mostrava benefício para isso era o de que o time campeão estaria a poucas semanas de ir para o Mundial, o que só traria benefícios técnicos, já que viajaria embalado e sem grandes modificações no elenco.

Tinha mais: o documento mostrava que poderia ter efeito contrário com o adversário europeu, já que a final da Liga dos Campeões ocorre normalmente até maio, e muitas vezes o vencedor já nem é o europeu mais forte sete meses depois, no Mundial. Quase tudo isso se seguiu à risca logo no primeiro ano do novo calendário, mas não deu certo.

Na prática…

O Grêmio, de fato, foi o melhor time da América do Sul em 2017, e com um dos jogadores mais talentosos do futebol brasileiro na atualidade, Luan, que poderia ter ido embora em agosto se a decisão da Libertadores tivesse sido mais cedo, mas acabou mantido pela equipe brasileira.

Do outro lado, o Real Madrid neste momento realmente não é o melhor time nem do mundo, nem da Europa, e nem da Espanha. No campeonato local aparece apenas em quarto, com um jogo a menos, é verdade, mas está 11 pontos atrás do líder Barcelona. Na Liga dos Campeões, se classificou às oitavas apenas em segundo em sua chave perdendo a liderança para o Tottenham-ING. Manchester City-ING, PSG-FRA e Barcelona, hoje, vivem melhores fases, portanto de fato o Grêmio não enfrentou o melhor europeu.

Na teoria a tese se sustentou, mas na prática não. Mesmo um Real capenga é melhor que o embalado time da América. O Mundial de Clubes no formato atual está com os dias contados porque não dá retorno financeiro à Fifa. Por outro lado, a Conmebol e a Uefa querem ressuscitar a Copa Intercontinental, o jogo entre os campeões da Libertadores e da Liga dos Campeões que funcionou de 1960 a 2004.

Nesse torneio, que recentemente a Fifa elevou a status de campeonato mundial, os sul-americanos venceram uma vez a mais: 22 a 21, em 43 edições. Eram, porém, outros tempos, com graus de investimento até parecidos. Hoje parece ser improvável ver um time da América do Sul batendo um europeu sem ser uma gigantesca zebra.

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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