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Marcel Rizzo

Fim da era Del Nero pode acabar também com o formato atual dos Estaduais

Marcel Rizzo

02/01/2018 12h00

A suspensão provisória por 90 dias do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, levantou debate na confederação sobre a possibilidade de mudança no calendário nacional caso o cartola seja banido por longo período pela Fifa — o Comitê de Ética da entidade investiga denúncias de que Del Nero recebeu propina para vender direitos comerciais de campeonatos.

Del Nero tem, nos últimos anos, barrado qualquer iniciativa de alteração, seja o de adequação às datas da temporada europeia (torneios começando em agosto e terminando entre maio e junho do ano seguinte), ou a simples diminuição de jogos para os clubes, mantendo o calendário nacional de janeiro a dezembro, mas que resultaria no encurtamento, ou até o fim, de alguns campeonatos estaduais.

Os Estaduais ainda são uma das únicas fontes de renda das federações (a outra é a própria CBF), que são os principais eleitores da confederação — as 27 federações, pelo novo estatuto, têm peso 3 na eleição para presidente, totalizando 81 votos. Os 20 clubes da Série A têm peso 2 e os 20 da B peso 1, o que somam 60 votos. Ou seja, as federações têm o poder de eleger quem elas quiserem.

Na CBF, porém, há executivos que há tempos tentam convencer Del Nero a atualizar o calendário. A ideia não é radicalizar e igualar datas à Europa, até mesmo porque a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) evitou fazer isso e seus torneios, hoje, duram o ano inteiro, de janeiro a dezembro.

O objetivo é fazer com que o principal produto, o Campeonato Brasileiro, seja jogado quase toda a temporada, o que flexibilizaria datas para os clubes descansarem mais, viajarem mais (se quiserem fazer intercâmbio com clubes europeus, buscando dinheiro) e evitando também que haja sempre conflito entre partidas da seleção brasileira e do Brasileiro. Isso sempre faz com que clubes percam atletas importantes durante o torneio ou faz com que não consigam cumprir a regra mínima de descanso entre as partidas, agora de 66 horas.

O entrave para tudo isso, porém, são os Estaduais, que consomem datas de janeiro a começo de maio. Executivos da CBF avaliam que os principais desses torneios (Rio, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, entre outros) poderiam ser realizados em espaços mais curtos, entre fim de janeiro e fim de fevereiro, como uma pré-temporada para os clubes. Outros Estaduais, menos importantes, poderiam ser mais espaçados, e funcionar como classificatórios para a Copa do Brasil e a Série D do Brasileiro.

O tema, porém, esbarra sempre na discordância das federações em diminuírem seus torneios. Como são importantes na eleição, o comando da CBF evita interceder, mas a questão é que uma saída definitiva de Del Nero abre um leque de possibilidades. Inicialmente a entidade será comandado por Antônio Carlos Nunes, o Coronel Nunes, ligado à federação do Pará e que não teria interesse em mudar o sistema.

Mas a partir de abril de 2018, um ano antes do fim do mandato atual, já pode haver eleições, e há movimentação para que os clubes tenham seu candidato, o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello. Como mostrou o blog, o próprio Del Nero não desaprova o nome, longe de ser um radical que faria uma devassa na entidade.

Dentro da entidade, a visão de executivos é que a possibilidade de que o calendário mude nos próximos anos cresce com  o possível fim da era Del Nero. Resta saber como que presidentes de federações estaduais, que estão anos e anos nos cargos, podem reagir ao verem a galinha de ovos de ouro, seus estaduais, indo para a geladeira.

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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