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Marcel Rizzo

Estratégia de Andrés de lançar duas candidaturas o fez presidente de novo

Marcel Rizzo

04/02/2018 10h40

O lançamento da candidatura a presidente do Corinthians de Paulo Garcia, que já havia tentado algumas vezes o cargo, sem sucesso, foi uma bem sucedida estratégia da situação para vencer pela quinta vez seguida a eleição do clube.

Garcia se apresentou como postulante à vaga em 13 de dezembro, quase um mês depois que os outros dois principais candidatos, Andrés Sanchez, vencedor do pleito deste sábado (3), e Antonio Roque Citadini. Não bastasse entrasse numa corrida eleitoral contra alguém de quem se aproximou nos últimos anos (Sanchez), Garcia ainda tomou dois importantes diretores da atual gestão, em momentos importantes do ano, como seus candidatos a vice.

Flávio Adauto, que comandava o futebol, saiu em momento importante da temporada para se definir contratações e renovações. Emerson Piovezan, do financeiro, em época do ano que mais se trabalha para fechar sem problemas o balanço financeiro que será apresentado no ano posterior.

Nada disso foi estranho a quem acompanhou de perto a negociação para Garcia apresentar-se como candidato. Pela primeira vez desde que o grupo denominado Renovação e Transparência chegou ao poder, em 2007, havia o temor de que pudesse de fato perder uma eleição, mesmo com o candidato apresentado sendo o deputado federal Andrés Sanchez, líder da chapa e presidente por dois mandatos entre 2007 e 2012.

O principal motivo pelo medo foi o lançamento de uma candidatura sem pretensões de vitória neste momento, mas que arrebentou de vez a base aliada do Renovação e Transparência. Com o advogado Felipe Ezabella estavam os principais cabeças das gestões de Sanchez no Corinthians: Raul Correa, que cuidou das finanças, Sérgio Alvarenga, do jurídico, o próprio Ezabella, que teve cargos na direção, entre outros.

O diagnóstico do grupo no poder foi imediato: a candidatura de Ezabella tirava votos dele, não do principal adversário, Roque Citadini — vice de futebol na gestão de Alberto Dualib, no início dos anos 2000, e membro do Tribunal de Contas do Estado (SP). O que fazer então? Alguém sugeriu que era preciso preciso diluir os votos para que Sanchez, que ainda contava com o apoio de cerca de um terço dos associados, segundo pesquisas, não perdesse.

Paulo Garcia então se lançou candidato, chegou a ser impugnado pelo Comitê Eleitoral acusado de dar dinheiro para sócios inadimplentes pagarem as mensalidades para poder voltar, conseguiu uma liminar na Justiça para participar e foi o segundo mais votado, pouco à frente de Citadini. Os números do pleito de sábado mostram que a teoria do grupo de Sanchez estava correta: Sanchez recebeu 33,9% dos votos, com 1.235, Garcia teve 22,9% (834) e Citadini 22% (803). A oposição (que ainda teve o candidato Romeu Tuma Jr.) teve os votos diluídos, e margem que a base da situação sempre teve lhe garantiu a vitória.

Membros da situação desdenham dessa informação porque dizem que muitos dos eleitores de Paulo Garcia só deixaram suas casas para depositar a escolha na urna porque ele era o candidato (o voto não é obrigatório). É possível que parte dessas 834 pessoas realmente não votasse, mas muitos ainda estariam no Parque São Jorge e a distância entre Sanchez e Citadini seria bem menor do que pouco mais de 400 votos. Em uma eleição em que não se sabe quem irá votar, perigoso demais.

A candidatura de Garcia ainda servia de uma outra maneira à situação: como o "adversário", como o grupo de Sanchez, também era acusado de pagar mensalidades a associados, mas teoricamente com provas mais robustas, era mais fácil sua chapa ser a impugnada, deixando a da diretoria atual livre para participar — e, como mostrou o Blog do Perrone, a direção corintiana nem fez questão de acionar a Justiça para tentar manter a impugnação de Garcia.

No fim ninguém deixou de concorrer (Citadini também foi impugnado, por supostamente não poder ser o presidente por ser membro do TCE, o que feria a legislação, mas conseguiu reverter na Justiça), e a divisão dos votos fez com que Sanchez fosse eleito para seu terceiro mandato. Não se sabe ainda como será esse seu novo "governo", principalmente porque boa parte da inteligência que esteve com ele até 2012 está agora na oposição, mas há uma certeza: Sanchez e seu time ainda são muito bons em fazer política.

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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