Caminhão de dinheiro: Carille é engrenagem de projeto árabe para Copa-2022
O projeto da Arábia Saudita para o futebol, citado pelo técnico Fabio Carille ao explicar um dos motivos que o fez deixar o Corinthians pelo Al-Wehda, está ligado à Copa do Mundo de 2022, que será pela primeira vez realizada no Oriente Médio (Qatar), e também à proposta bilionária recebida pela Fifa de investidores dispostos a organizar dois torneios novos: um de seleções, chamado de Liga das Nações, e um Mundial de Clubes turbinado com 24 equipes.
O dinheiro que vai circular pela região nos próximos quatro anos fez com que os clubes árabes, após intervenção do governo local, voltassem a receber investimento para adquirir profissionais que ajudem no desenvolvimento do futebol. Algo que teve início nos anos 1980 e 1990, mas que parou principalmente porque os sheiks decidiram investir seus petrodólares em clubes europeus e no futebol dos EUA — vide o PSG, controlado pelo dinheiro do Qatar. Tudo por dinheiro, já que o investimento no futebol abria porta a outras áreas, como aviação e hotelaria.
Chegou ao ponto de, na Arábia Saudita, clubes antes milionários ficarem devendo salário a atletas, com casos parando em comissões da Fifa e times tradicionais como o Al-Nassr sendo proibidos de disputar competições internacionais, como a Liga dos Campeões da Ásia. A proximidade do Mundial do Qatar, entretanto, fez esse direcionamento de dinheiro para fora do Oriente Médio ser freado, apesar de problemas políticos na região.
Arábia Saudita e Qatar não vivem as melhores relações diplomáticas atualmente, com os sauditas acusando os qatarianos de financiarem o terrorismo. Há até uma proposta maluca de se criar um canal que separaria territorialmente os dois países, o que transformaria o Qatar em uma ilha. No futebol, porém, os países do Oriente Médio perceberam que o ciclo 2018-2022 que levará à Copa local pode também gerar muito dinheiro a clubes e federações, e consequentemente aos governos que os controlam. No futebol, portanto, há trégua.
E a expectativa é que empresas olhem com mais carinho à região por investimentos no pré-Copa. Para isso, porém, era preciso reativar a contratação de profissionais e jogadores para o futebol local. Carille, que receberá com sua comissão técnica R$ 40 milhões em dois anos, é um pedacinho dessa engrenagem ao chegar com o título brasileiro no currículo — aliás conquista que foi colocada no topo de sua biografia quando anunciado pelo Wehda.
A Fifa tem um plano de integrar a região durante o Mundial. Inicialmente, seria ter como sede outros países na Copa das Confederações, que deveria ocorrer em 2021 e poderia ter jogos na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes, talvez até no Kuwait. Mas esse torneio será extinto, então há uma ideia na entidade, ainda embrionária, de que se abra uma exceção e possam se criar bases de treinamentos para as seleções que jogarem a Copa em outros países, algo que hoje é proibido. Isso pode se tornar ainda mais real caso se aumente o número de participantes do torneio de 32 para 48, como quer o presidente Gianni Infantino já para 2022.
Com relação aos dois novos torneios que a Fifa tenta aprovar em seu Conselho, e colocará em votação dos filiados a elaboração de um projeto de viabilidade em 13 de junho, durante o seu Congresso, há dinheiro da Arábia Saudita entre os R$ 85 bilhões que investidores querem colocar para comprar os direitos dessas competições. Tanto que a nova casa de Carille é bem cotada para receber justamente a primeira edição do Mundial de Clubes inchado, se sair do papel, em 2021. Japão e EUA também estariam na fila para ter a competição.
"A Arábia vai ser a nova China", disse na quarta ao blog o presidente corintiano Andrés Sanchez, frase que repetiu horas depois em entrevista coletiva no Parque São Jorge, se referindo à enxurrada de propostas milionárias que devem aparecer nos próximos quatro anos. Na verdade, o futebol árabe voltará a ser o futebol árabe…
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