Topo

Marcel Rizzo

Futebol às 21h30 atende desejo de torcedores. Mas há também outros motivos

Marcel Rizzo

05/10/2018 04h00

O teto estabelecido de 21h30 pela CBF para início de jogos noturnos em suas competições teve como origem dois fatos principais: a concorrência pelo direito de transmissão do Brasileiro da Série A e a determinação da Conmebol de que nos torneios sul-americanos o horário limite para partidas à noite será também 21h30.

Em 2019, pela primeira vez em anos, o Grupo Globo não terá exclusividade nos direitos de transmissão de partidas do Campeonato Brasileiro da Série A em uma das plataformas oferecidas. A Turner, empresa norte-americana que detinha os canais Esporte Interativo no Brasil, acertou com 16 clubes contratos para passar as partidas dessas equipes em TV fechada, ou seja, concorrendo com o SporTV. Dessas 16, sete estão hoje na Série A, portanto os contratos estariam válidos.

Acontece que nos acordos firmados entre a Turner e os clubes há promessa de que as partidas não comecem após às 21h30. Foi um dos principais pontos da proposta oferecida, já que muitos dirigentes reclamam de jogos iniciando entre 21h45 e 22h devido ao afastamento de público dos estádios. Portanto quando clubes como Palmeiras, Inter, Santos, Bahia, Atlético-PR, Paraná e Ceará, para citar aqueles na Série A em 2018 que optaram pela Turner em TV fechada, se enfrentassem teriam que, por contrato assinado, não atuar depois das 21h30 nas partidas de noite — confrontos que obrigatoriamente teriam transmissão pelos canais da Turner.

Isso poderia causa um impasse já que o Grupo Globo, por outro lado, também poderá transmitir algumas dessas partidas, em TV aberta e pay-per-view, mesmo não tendo exclusividade. Já fechou, por exemplo, com Santos e Inter, então quando esses times jogarem a Turner transmitirá em TV fechada e a Globo, se quiser, na aberta. Se for uma quarta-feira não poderá acontecer depois das 21h30, o que poderia chocar as grades de transmissão da Globo e da Turner.

A CBF optou então por tirar da gaveta seu plano de antecipar o início do horário nas rodadas noturnas. Já havia conversa com a Globo sobre o assunto há alguns anos, sobre prejuízos que partidas muito tarde podem dar às bilheterias e acordos comerciais que envolvam visibilidade de marca de parceiros (as audiências em jogos noturnos são menores do que aos finais de semana). Em 2018 já houve a antecipação no horário de início das partidas de 22h para 21h45, então não foi traumático mudar para 21h30 e chegar a um consenso.

Estudo comercial

Ajudou a CBF o fato de a Conmebol decidir que as partidas da Libertadores e Copa Sul-Americana não terão início pós-21h30 já em 2019. A confederação sul-americana não foi simplesmente boazinha e pensou que os torcedores muitas vezes perdem o transporte público ou dormem pouco para trabalhar na manhã seguinte após uma partida que termina quase de madrugada. Tudo foi baseado em um estudo elaborado para a venda dos direitos comerciais dos torneios.

Chegou-se a conclusão que desagradava potenciais parceiros jogos terminando na madrugada justamente porque a audiência cai com o decorrer dos 90 minutos, principalmente em fases iniciais das competições — lembrando que, ao contrário de competições da CBF que tem partidas aos fins de semana, os confrontos por Libertadores ou Sul-Americana são sempre nos meios de semana (a partir de 2019 as finais únicas ocorrerão aos sábados).

E nem foi o Brasil, e suas partidas com início 22h até anos atrás, o principal vilão para a Conmebol, já que na Argentina ocorreram temporadas em que jogos começavam 22h30. Pesou também o fuso horário existente no continente. Por exemplo: se um time brasileiro atua, por exemplo, na Colômbia, uma partida começando 22h30 significa ter início às 0h30 do dia seguinte no horário de Brasília.

Leia mais

CBF define o calendário do futebol brasileiro para 2019

Clubes reclamam ao Cade de discriminação da Globo em proposta por Brasileiro

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

Sobre o Blog

Notícias dos bastidores do esporte, mas também perfis, entrevistas e personagens com histórias a contar.