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Marcel Rizzo

Rogério Ceni fica no Fortaleza com carta branca que elevou patamar do clube

Marcel Rizzo

25/04/2019 04h00

Ceni vai estar no banco de reservas do Fortaleza na Série A (Crédito: Divulgação Fortaleza)

Quem convive o dia a dia do Fortaleza diz que há uma piada interna que brinca com a história centenária do clube: ela pode ser dividida em "AC" e "DC". Antes de Ceni o time vivia um período de maus resultados dentro de campo e uma deterioração da estrutura que já tinha sido considerada uma das melhores do Nordeste, mas que piorou muito ao amargar anos na Série C. Depois de Ceni foram dois títulos (o inédito da Série B e um Estadual sobre o maior rival), mas também uma reestruturação que ajuda a explicar a decisão do treinador em permanecer mesmo com a proposta do Atlético-MG.

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Ceni comanda não só o time nas quatro linhas, mas tem participação ativa em decisões que afetam diretamente seu trabalho. Campos de treinamento, estrutura do CT e do estádio do Pici, bairro onde está o clube, horário das refeições dos atletas, trabalho integrado com os departamentos físico e médico, tudo passa pelo radar do treinador, além, claro, de decidir junto com a diretoria os nomes que o clube deve contratar. Ceni não receberá no Fortaleza um atleta que acha que não encaixa em sua filosofia. No Atlético-MG ou qualquer outro clube de maior porte isso seria possível?

Em algum momento Ceni estará treinando os clubes de maiores torcida e orçamento do Brasil. Mas, hoje, a permanência no Fortaleza tem muita relação com a confiança que ele tem na direção. O ajuste financeiro feito pelo hoje senador Luis Eduardo Girão ao assumir interinamente em maio de 2017, quando o clube faturava R$ 300 mil mensais e gastava mais de R$ 1 milhão, teve prosseguimento mesmo quando ele renunciou no fim daquele ano e Marcelo Paz assumiu. Não há atraso de salário, outro fator que pesou e muito para Ceni ficar no Pici.

No Fortaleza ele não tem o orçamento do Atlético-MG, mas está com um trabalho consolidado. O time cearense brigará pelo título nacional ou até por vaga na Libertadores? Provavelmente não. Mas tem ainda um título em disputa bem próximo, na Copa do Nordeste (está na semifinal, onde enfrenta o Santa Cruz no dia 9 de maio) e a Copa do Brasil no caminho. Se Ceni conseguir que o Fortaleza permaneça na Série A sem sustos e belisque uma vaga na Sul-Americana, por exemplo, terminará seu contrato com os objetivos alcançados.

Em Belo Horizonte receberia um elenco com peças que não são do seu agrado (normal para um técnico que pega um time no meio da temporada) e com pressão por resultado muito rápido. Sua decisão de permanecer no Fortaleza pode ser importante caminho para outros técnicos que recebam propostas semelhantes no futuro: o melhor talvez seja apostar no trabalho que está bem feito e não em um que você pegará pela metade.

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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