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Marcel Rizzo

Só 11% dos filiados à Fifa usam modelo brasileiro de venda de direito de TV

Marcel Rizzo

13/12/2019 04h00

Os clubes de somente 23 das 211 associações filiadas à Fifa, 11% portanto, negociam individualmente os contratos de direito de transmissão das partidas dos campeonatos nacionais. O Brasil está nesse grupo, que tem ainda Portugal e México como competições que podem ser consideradas de alto nível — países minúsculos no futebol como Bermudas, Gibraltar, Laos, Lesoto, Granada e Comores, por exemplo, adotam esse modelo. Os números estão em relatório da Fifa enviado a seus membros e que analisou dados esportivos, comerciais e financeiros dos torneios nacionais com base em informações enviadas pelas confederações.

A Fifa destrinchou outros dados dos campeonatos de seus filiados — na temporada 2018/2019 somente seis das 211 associações não tiveram competições nacionais. Por exemplo: 60% vendem para uma empresa o nome do torneio, o chamado "naming rights". O Brasileirão tem o atacadista Assaí, mas no mundo as empresas de telecomunicação são a maioria com esses patrocínios, mais de 30%, seguida pelas do ramo financeiro, como bancos, e de comidas e bebidas — a Europa é exceção e por lá sobressaem casas e sites de apostas.

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Mas o que chamou mesmo atenção dos responsáveis pelo relatório foi o modelo de negociação para direitos de transmissão, principalmente porque as principais ligas usam o coletivo. Das 23 que adotam a transação individual, ou seja, cada clube trata diretamente com as empresas interessadas, cinco informaram à Fifa que não têm times profissionais. Laos, Cabo Verde, Comores, Granada e Bermudas organizam torneios amadores e cada equipe negocia como quer com as TVs locais.

No Brasil, o acordo coletivo funcionou dos anos 1980 até o início da década atual. Em 2011 o Clube dos 13, que reunia os times de maiores torcida e orçamento do país e quem negociava os contratos de direito de transmissão coletivamente, ruiu após uma briga política que envolveu o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e o chefão do Clube dos 13, Fábio Koff. Pesou também o fato de que pela primeira vez em anos a TV Globo, principal emissora do país, tinha concorrência e fechar contratos individuais com cada clube acabou sendo sua preferência.

Hoje, para TV aberta e pay-per-view, a Globo continua soberana no Campeonato Brasileiro, mas ganhou concorrência em TV fechada, perdendo o direito de transmissão via SporTV de alguns clubes importantes, como Palmeiras, Santos, Inter e Athletico-PR para a norte-americana Turner, que usa seus canal de entretenimento TNT, além do streaming, para transmitir jogos dos times que têm sob contrato. Pela legislação brasileira um jogo só é transmitido se os clubes têm acordo com a mesma empresa, por isso é preciso que uma emissora tenha contratos com vários times.

Países em que os clubes negociam individualmente os contratos de direito de transmissão dos campeonatos nacionais*

Europa (Uefa)
Chipre
Portugal
Ucrânia
Grécia
Gibraltar

Ásia (AFC)
Laos

África (CAF)
Angola
Cabo Verde
Comores
Etiópia
Gabão
Lesoto

Américas do Norte, Central e Caribe (Concacaf)
Bermudas
Costa Rica
Rep. Dominicana
El Salvador
Granada
Guatemala
Honduras
México
Trinidad e Tobago

América do Sul (Conmebol)
Brasil
Peru

*segundo dados de relatório da Fifa apresentado às 211 associações filiadas

 

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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