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Marcel Rizzo

Análise: crise no Flamengo explica por que não há hegemonia longa no Brasil

Marcel Rizzo

07/01/2020 10h15

No início do século o São Paulo ensaiava uma hegemonia longa no futebol brasileiro: venceu três vezes seguidas a Série A por pontos corridos, algo que jamais se repetiu, e de quebra ganhou Libertadores e Mundial no formato atual, anual e com sete participantes, que será aposentado em 2020 pela Fifa.

Quem acompanhou de perto naquela época não tinha dúvidas de cravar o principal motivo de o clube ter se organizado para reinar: a estabilidade política. Enquanto os rivais paulistas conviviam com crises internas geradas principalmente por ciumeira entre cartolas despreparados, o São Paulo manteve uma rotatividade de presidentes que seguia uma linha de pensamento que explicava o sucesso.

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Pulamos no tempo mais de uma década e vemos o São Paulo ano a ano com dirigentes que não se entendem, presidente renunciando e entendemos porque o clube se tornou do mais organizado a um dos mais bagunçados e que hoje convive com uma falta de títulos inimaginável tempos atrás.

A demissão de Paulo Pelaipe do departamento de futebol do Flamengo toca no ponto chave da seguinte questão: por que não se criam hegemonias duráveis no futebol brasileiro? A resposta é bem simples: o amadorismo dos dirigentes brasileiros impede isso.

É óbvio que em um meio que circula tanto dinheiro e no qual pessoas ficam famosas da noite para o dia ao assumir um cargo executivo no departamento de futebol pode ser difícil controlar egos. É óbvio que não é preciso ter amizade com seu companheiro de trabalho para que a produtividade apareça, e o Flamengo do segundo semestre de 2019 mostra isso: os diretores Marcos Braz e Luiz Eduardo Baptista, o Bap, nunca se entenderam, como diversas reportagens nos últimos meses mostraram isso. Mas o time venceu e convenceu.

Com dinheiro em caixa, um time já desenhado e um técnico ousado fica difícil imaginar que em 2020 o Flamengo possa perder a hegemonia do futebol brasileiro. Isso, claro, se um clube de futebol fosse administrado como uma empresa. Com paixão envolvida acontecem coisas estranhas, como a demissão de Pelaipe por meio do RH sem que seu superior soubesse.

O Flamengo deveria olhar para o passado, é sempre bom. Nunca houve hegemonia  longa no futebol brasileiro moderno porque dirigentes, enciumados com o sucesso dos outros, boicotaram seus clubes, mesmo que não soubessem disso à época. Citei o São Paulo no início do texto, mas há outros exemplos, como o Palmeiras e o Corinthians dos anos 1990, que nadaram em dinheiro mas sofreram com cartolas amadores depois.

A ver como o clube reagirá.

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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