Empresa paraguaia intermediava contato entre Lamia e clubes de futebol
A Flight Service Internacional S.A, com sede em Assunção, no Paraguai, era quem intermediava os contatos entre a Lamia Corporation S.R.L e os clubes e seleções de futebol que usavam para deslocamento pela América do Sul o avião prefixo CP-2933, que caiu próximo a Medellin, na Colômbia, com a delegação da Chapecoense, em 29 de novembro.
O dono da Flight Service era Gustavo Feliciano Encina Nuñez, 42, único paraguaio entre os 71 mortos no acidente. Piloto, ele estava no voo como despachante aéreo – o responsável pela parte burocrática do deslocamento.
O blog apurou que Encina fazia as propostas aos clubes brasileiros. Mas não só. Ao jornal colombiano "El Heraldo", o gerente esportivo do Junior Barranquilla, Héctor Baez, confirmou que Encina o procurou para oferecer um fretado até o Brasil para enfrentar a Chapecoense, em outubro, pela Sul-Americana, mas o clube recusou e preferiu viajar de voo comercial.
Pelo menos desde 2013, três anos antes de a Lamia se especializar em levar times de futebol para jogos continente afora, a Flight já intermediava acordos entre clubes e empresas aéreas para fretamento de voos para partidas na América do Sul.
O trabalho começou no Paraguai, primeiro levando equipes como Olímpia, Cerro Porteño e Guaraní, mas também chegou à Argentina, com o Racing, e até o México, com o Tigres. Entre as empresas aéreas que prestaram serviço estavam a chilena Chilejet e a argentina Andes.
Por uma vez, ao menos, o trabalho de Encina envolveu também a seleção do Paraguai, mas não exatamente como intermediário de voos charters – na época, o diretor de seleções da AFP (Associação Paraguaia de Futebol) era Alejandro Dominguez, atual presidente da Conmebol.
Em outubro de 2013, os paraguaios viajaram de Assunção para San Cristóbal, onde enfrentaram a Venezuela. O voo fretado (que não era da Lamia, e sim da argentina Flying America) teve problemas na saída, voltando ao aeroporto após decolagem – a situação foi resolvida e a viagem seguiu.
Na volta, mais problemas. Houve uma escala em Campo Grande, no Brasil, mas o avião ficou parado por quatro horas porque houve entrave na documentação de acesso ao aeroporto. Do Paraguai, Encina, na época chefe de operações no aeroporto de Assunção, dizia que estava resolvendo a questão.
"Estamos falando com as autoridades paraguaias em Campo Grande e com as autoridades da aeronáutica brasileira", disse Encina, na ocasião.
Negociação
Reportagem do UOL Esporte mostrou que a Conmebol orientava os clubes da América do Sul a usarem o serviço da Lamia. Este blog revelou que nos últimos cinco meses, o principal destino do Lamia 2933 era Assunção, no Paraguai, onde está a Conmebol – a sede da Lamia é em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia.
Gustavo Encina trabalhava desde abril com a Lamia, empresa inicialmente venezuelana, que mudou a sede para a Bolívia e alugou três aviões britânicos BAe Avro 146 aos novos donos, os pilotos Miguel Quiroga, que morreu no voo da Chapecoense, e Marco Rocha Venegas – somente uma aeronave, a acidentada, operava.
Foi quando Encina começou a parceria com a Lamia que a empresa passou a levar equipes de futebol. Além da Chapecoense usaram o serviço no período Olímpia, Sol de América (PAR), Atlético Nacional (COL), e as seleções da Argentina e da Bolívia, entre outros.
Encina já tinha prestado serviço para o avião presidencial brasileiro, trabalhando com Lula, Dilma Rousseff e, mais recentemente, Michel Temer– não com a Lamia como empresa aérea contratada.
Ninguém da Flight Service foi encontrado para comentar o assunto. A Conmebol afirmou, em nota divulgada em seu site, que não indica ou paga qualquer serviço de transporte aéreo às equipes e seleções da América do Sul. A direção da Chapecoense também negou que houvesse indicação da Conmebol para voar com a Lamia.
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