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Marcel Rizzo

Corinthians incha contratações com atletas até 20 anos e gera crise na base

Marcel Rizzo

19/04/2017 04h00

Pouco mais de 70% dos jogadores com contratos profissionais registrados pelo Corinthians têm até 20 anos, idade para atuar na base. O número é alto, e explica um pouco a crise que o clube vive no departamento de formação de atletas.

Nos últimos oito meses foram três diretores no comando do setor, que conviveu com acusações de jogadores contratados mesmo reprovados em testes e de venda de direitos econômicos a terceiros, o que é proibido atualmente pela Fifa. 

O inchaço, apurou o blog, é motivo de descontentamento no clube porque "há jogadores de qualidade duvidosa", segundo pessoa com trânsito no departamento.

O Corinthians tem hoje 105 atletas registrados sob contrato profissional. Destes, 74 (70,4%) têm até 20 anos. Alguns já se destacam e são titulares do profissional, como o lateral-esquerdo Guilherme Arana, 20, mas boa parte se acumula principalmente entre as categorias sub-17 e sub-20.

Em comparação com os outros três grandes clubes de São Paulo, o Corinthians tem mais atletas com idade de base registrados profissionalmente: o Santos possui atualmente 98 jogadores com acordos profissionais, destes menos da metade, 47, têm até 20 anos (47,9%). No Palmeiras, com 82 atletas sob contrato profissional, 48 têm idade para atuar na base (58,5%) e no São Paulo, com 76 registros profissionais, 48 são sub-20 (63,1%).

Segundo dois executivos de futebol ouvidos pelo blog, o número ideal de atletas até 20 anos com acordo profissional varia de 40% a 60% do total dos jogadores que o clube tem sob contrato. E depende do perfil da agremiação, se o é de formador, que vende muitos jovens e terá mais garotos consequentemente, ou se é aquele montado para disputar títulos importantes, com elenco mais experiente.

Procurado, o Corinthians não comentou o assunto.

É importante diferenciar os tipos de contratos. O profissional é aquele em que o jogador, mesmo com 20 anos ou menos, tem uma remuneração mensal garantida. É uma maneira mais segura de o clube ter aquele jovem sob contrato, pois prevê multas altas de rescisão. Esta é outra reclamação daqueles contra o inchaço da base, já que todos os registrados profissionalmente têm salários, aumentando a folha salarial do clube.

No contrato amador, ou de formação, o atleta pode até não receber um salário, vai de acordo com o que foi fechado entre as partes. Serve como garantia ao clube de que terá prioridade sobre aquele atleta caso queira fazer um contrato profissional — se gasta menos, portanto, nesse caso.

Como mostrou o repórter Dassler Marques no UOL Esporte, três jogadores nesses contratos de formação com o Corinthians foram reprovados em testes, em mais uma denúncia no departamento mergulhado em crise.

A crise

Sob a gestão de Roberto de Andrade, que assumiu a presidência  do Corinthians em fevereiro de 2015, comandaram o departamento de base José Onofre Almeida, Fausto Bittar Filho e, agora, Carlos Nujud.

Onofre deixou o cargo em agosto de 2016 após informações de que atleta reprovado havia sido contratado. Houve também acusações de um empresário norte-americano, Helmut Niki Apaza, de que havia pago para comprar os direitos econômicos de um atleta de 15 anos, em uma operação ilegal, já que a Fifa proíbe que terceiros tenham participação econômica em atletas. Onofre negou os problemas, mas mesmo assim saiu.

Bittar assumiu a vaga em setembro passado e ficou no cargo por quase sete meses. Alegando pressão de dirigentes no setor, pediu demissão. Para evitar que o processo de impeachment fosse adiante, o presidente Roberto de Andrade, acusado de falsificar documentos (ele nega), fez diversos acordos com grupos políticos, e num deles cedeu espaço na base a alguns conselheiros, que passaram a dar palpites no setor, irritando Bittar.

Diretor de futebol profissional no início dos anos 2000 na era Alberto Dualib, Carlos "Nei" Nujud assumiu então o setor em meio à crise e numa das primeiras medidas contratou para ser técnico do sub-20 Alexandre Macia, o Pepinho, filho do ex-ponta do Santos e seleção brasileira Pepe.

Isso fez com que Dyego Coelho, ex-lateral do clube e que treinava o sub-20, fosse rebaixado para cargo de auxiliar, gerando mais um pouco de descontentamento no setor. Também houve chiadeira com a contratação de Fernando Yamada, ex-goleiro do clube, como coordenador da base porque ele atuava antes como funcionário de uma empresa de agenciamento de atletas, fazendo negócios com o clube como a transação de retorno do meia Jadson.

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

Sobre o Blog

Notícias dos bastidores do esporte, mas também perfis, entrevistas e personagens com histórias a contar.