Topo

Marcel Rizzo

Futebol brasileiro tem estouro de doping; infiltrações lideram casos

Marcel Rizzo

23/06/2017 04h00

Explodiu em 2017 casos de doping positivos por corticoides no futebol brasileiro. Classe de medicamentos com potente ação anti-inflamatória, ele é usado nas chamadas infiltrações feitas principalmente em joelhos e tornozelos para que os atletas possam jogar sem dor. Mas também aparecem em outros medicamentos, como colírios e pomadas.

Durante toda a temporada de 2016 foram detectados nos exames antidoping realizados quatro casos de uso inapropriado de corticoide. Até junho de 2017, pouco menos da metade do ano portanto, já são nove casos positivos de doping por esse medicamento (quase todos os casos esperam ainda um julgamento, por isso não foram revelados). Doping por outras substâncias proibidas se mantêm na média de outros anos.

A CBF está preocupada com o aumento e promete tratar da situação na próxima conferência médica. Um livro deve ser lançado para orientar médicos, principalmente particulares (que não trabalham em clubes), para os cuidados que devem ser tomados ao receitar medicamentos a jogadores de futebol.

A Wada (sigla em inglês para a Agência Mundial Antidoping) proíbe em sua lista o uso do corticoide por via oral, intramuscular, endovenosa e retal – além da ação anti-inflamatória, o corticoide aumenta a capacidade respiratória e diminui a fadiga quando entra na corrente sanguínea.

Não há na lista da Wada, porém, proibição para a utilização do corticoide via intra-articular, como o nome diz quando é aplicada diretamente na região articular machucada. Isso faria com que a substância não entrasse na corrente sanguínea, evitando dar a vantagem indevida ao atleta.

Muitas dessas aplicações, as chamadas infiltrações, não são feitas da maneira correta e a substância vai à corrente sanguínea, sendo detectada nos exames antidoping. Mas não são apenas infiltrações que preocupam a CBF, mas também prescrição médica a atletas que muitas vezes acaba resultando em doping positivo.

"É algo que preocupa porque é um aumento significativo, e na maioria dos casos o uso acontece por indicação do médico. Por exemplo: desses casos de 2017, somente um sabemos que o jogador pediu para usar o corticoide, o pai dele tem uma farmácia e teve acesso. Para um outro foi receitado um colírio, ele usou e havia o corticoide. É preciso a orientação para que, nos casos de atletas, a orientação seja clara sobre a substância usada ", disse o médico Fernando Solera, que comanda a comissão de controle de doping da CBF.

Em um dos casos mais curiosos, atleta de um time que mudou de fornecedor de material esportivo teve alergia por causa do tecido do novo calção. O médico receitou uma pomada, com antibiótico e corticoide, e que ele a passasse a cada oito horas, porque evitaria o risco de acusar no doping. O atleta, porém, a utilizou várias vezes no dia e véspera da partida, e acabou sendo flagrado no exame.

Número alto

De 2010 até 2016, a CBF contabilizou 62 casos positivos de doping no Brasil. A maioria, 22% (14 casos), foi por uso de corticoides. O número assusta justamente porque em seis meses de 2017 foram relatados mais de 60% do número de casos ocorridos em sete anos.

A segunda substância mais encontrada nos casos positivos no período foi a cocaína, com 14,5% (nove situações), seguido por anabolizantes, 11% (sete casos), e depois maconha, 6,5% (4 dopings testados positivos).

"Ainda assim o número de casos de doping no futebol Brasil, comparado com o restante do mundo, é pequeno. Ligo isso ao fato que o exame antidoping aqui é feito de maneira ostensiva. Fazemos em todos os jogos das Séries A e B do Brasileiro, e levamos para partidas da Série C também", disse Solera, que nesta quinta (22) participou de um seminário sobre saúde no esporte organizado pela CBF em Fortaleza.

Esses números surgem algumas semanas depois de uma denúncia sobre problemas no controle de doping no Brasil. Uma TV alemã, a ARD, informou que existe há anos no Brasil uma rede clandestina de doping, que burla as regras e exames oficiais.

A emissora citou o ex-lateral esquerdo Roberto Carlos , campeão mundial em 2002 com a seleção brasileira, como um dos atletas que usaram medicamentos proibidos ministrados por um médico brasileiro. O jogador negou o uso de substâncias dopantes. Para a CBF, o controle feito é seguro.

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

Sobre o Blog

Notícias dos bastidores do esporte, mas também perfis, entrevistas e personagens com histórias a contar.