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Marcel Rizzo

Drones não são comuns; principal espião no futebol ainda é o 'dedo-duro'

Marcel Rizzo

22/11/2017 11h40

A revelação da jornalista Gabriela Moreira, da ESPN, de que o Grêmio tem utilizado em 2017 drones e câmeras em árvores e muros para receber informações de treinos fechados de adversários poderia ter causado uma gritaria entre cartolas e técnicos que teriam sido espionados pelo clube gaúcho, mas isso não aconteceu.

Nem mesmo Jorge Almirón, treinador do Lanús, o rival gremista nesta quarta (22) na primeira partida da final da Libertadores, e clube que teve o centro de treinamento invadido por um drone, como flagrado pela ESPN, reclamou: ele mesmo disse ter seus espiões e que qualquer informação que receba pode ser relevante em uma decisão.

O motivo de técnicos e dirigentes de adversários do Grêmio ignorarem o espião rival é simples: quase todos também usam métodos para descobrir segredos do rival. "Pergunte a 40 técnicos do Brasil, escolha qualquer técnico e pergunte como eles descobrem as jogadas do adversário", disse o treinador gremista Renato Gaúcho na terça (21), quando admitiu que recebe informações sigilosas de um profissional.

A espionagem ocorre desde sempre no futebol e se intensificou com a adoção de treinos fechados pelos times, algo que se tornou viável quando se construíram CTs com acesso restrito — antes se trabalhava normalmente em campos dentro dos clubes sociais, onde era mais difícil impedir que algum curioso acompanhasse a movimentação.

O leque de opções para se espionar aumentou com a ajuda tecnológica, como drones ou câmeras de longo alcance. Cartolas e profissionais de clubes ouvidos pelo blog apontaram que são três os principais métodos usados hoje em dia, e mesmo com toda a parafernália disponível o mais recorrente ainda é buscar informações com colegas de profissão. Sim, há pessoas que trabalham no dia a dia de um clube e passam dicas a adversários.

Veja como se espionam o adversário atualmente:

1) A troca de informações entre jogadores, dirigentes, membros de comissões técnicas de times rivais é mais comum do que se pensa e a principal maneira de se conseguir informações sigilosas sobre escalações, esquemas táticos e jogadas ensaiadas que vão ser usadas. O perfil principal do "dedo-duro" é o de atletas e profissionais que estejam insatisfeitos do lado de lá, seja por não estarem sendo utilizados, ou por não terem tido a promoção desejada. Esse é um dos motivos que faz treinadores exigirem levar consigo o maior número de pessoas de confiança quando assumem uma equipe, ou colocar para treinar separadamente aquele jogador que não agrada naquele momento.

2) O uso de um espião observando o treinamento in loco se tornou mais difícil com a utilização, quase diária, de treinos fechados (no Brasil ainda se abrem alguns trabalhos para a imprensa, mas na Europa, por exemplo, todos os times treinam à portas fechadas diariamente). Mas naqueles trabalhos que são abertos ainda se tenta colocar um olheiro para analisar possíveis estratégias do adversário. Hoje em dia é usado muito quando equipes fazem reconhecimento do gramado do time rival — se pode colocar o espião em camarotes, por exemplo.

3) Por último o uso da tecnologia, como drones e câmeras. Está se tornando mais comum, como se notou com o trabalho realizado pelo profissional contratado pelo Grêmio, mas ainda é algo caro. Há a manutenção do equipamento, edição de imagem, e outros detalhes que fazem com que muitos clubes ainda prefiram o "boca a boca".

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

Sobre o Blog

Notícias dos bastidores do esporte, mas também perfis, entrevistas e personagens com histórias a contar.