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Marcel Rizzo

Diretor que dublou Lost e Crepúsculo é braço-direito de interino da CBF

Marcel Rizzo

11/01/2018 04h00

Coronel Nunes e a segunda vez como presidente interino (Crédito: YASUYOSHI CHIBA/AFP)

Antônio Carlos Nunes, o coronel Nunes, mais uma vez assumiu interinamente a presidência da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) enquanto o titular da função, Marco Polo Del Nero, está afastado para se defender de denúncias de corrupção. E o coronel da reserva da Polícia Militar e presidente licenciado da Federação Paraense tem um braço-direito na confederação: o diretor de registro e transferência, Reynaldo Buzzoni.

Os dois passaram a virada de ano em Fortaleza, acompanhados do presidente da Federação Cearense, Mauro Carmélio, amigo antigo de Nunes. A aproximação do presidente interino e do diretor começou no início de 2016, quando Nunes foi presidente interino pela primeira vez, e tem uma peculiaridade: o cartola paraense gosta de cinema, e Buzzoni é muito conhecido por ser dublador.

Ele fez personagens de filmes conhecidos como Matrix e Velocidade Máxima (dando voz ao ator Keanu Reeves), Crepúsculo (personagem do vampiro interpretado por Robert Pattinson), American Pie, e de séries como Power Rangers, Glee e Lost (nesse último dublava Charlie, personagem de Dominic Monaghan). Buzzoni é quase um pop star entre cinéfilos, e isso acabou levando a um contato mais próximo com Coronel Nunes na CBF.

Buzzoni trabalha desde o início dos anos 2000 na Confederação, inicialmente em cargos administrativos, e chegou à diretoria de registro em agosto de 2014 depois da saída de Luiz Gustavo Vieira de Castro. O setor é um dos mais delicados da CBF, por trabalhar com mais de 20 mil contratos de jogadores por ano, e a queda de Castro ocorreu por uma falha nas inscrições de atletas do Brasília na Copa Verde. O time do Distrito Federal foi campeão no campo, mas o Paysandu acionou a Justiça alegando que quatro profissionais do rival estavam irregulares.

A ida ao tapetão causou mais um estresse na CBF por causa de registros de atletas menos de um ano depois do "caso Heverton", quando a Portuguesa escalou o jogador irregularmente na última rodada do Brasileiro de 2013, acabou perdendo pontos no STJD e sendo rebaixada para a Série B, ajudando Fluminense e Flamengo. O novo problema acarretou a demissão de Castro, e ascensão, inicialmente de maneira interina, de Buzzoni.

O trabalho dele agradou nos anos que passaram, e acabou efetivado no cargo. A cúpula da CBF tinha pavor de que torneios fossem decididos judicialmente, como os de 2013 e 2014, por isso avalia bem o setor atualmente, principalmente no contato com os clubes para evitar que se escalem atletas de maneira equivocada.

Futuro

A situação de Del Nero continua incerta. Ele está suspenso pelo Comitê de Ética da Fifa provisoriamente por 90 dias, desde meados de dezembro, por causa das acusações em processo aberto pelo Departamento de Justiça dos EUA de que teria recebido propina para vender direitos comerciais de torneios de futebol. Seu antecessor na presidência da CBF, José Maria Marin, foi condenado por seis crimes na mesma acusação, e na Fifa já se trabalha com a real possibilidade de Del Nero ser banido por um período longo.

Isso faria com que Nunes, eleito vice da CBF em dezembro de 2015 e que antes já havia assumido a presidência interina de janeiro a abril de 2016, após licença de Del Nero no auge das acusações de corrupção, se tornasse presidente de fato. O mandato atual termina em abril de 2019, e sem nenhuma manobra radical (como a renúncia de todos os vices para que a entrada de uma nova diretoria fosse antecipada), Nunes cumpriria o período — a eleição ainda não tem data marcada, mas pode acontecer a partir de um ano antes do término do mandato, ou seja, em abril de 2018.

Se Nunes assumir efetivamente, na CBF se imagina que Buzzoni possa ganhar força na entidade e ter até mesmo novas funções. A sucessão hoje da entidade está embaralhada, com nomes de agrado de Del Nero como o diretor-executivo, Rogério Caboclo, e do presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro Bastos, sem unanimidade entre os presidentes de federações estaduais, os principais eleitores da confederação.

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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Notícias dos bastidores do esporte, mas também perfis, entrevistas e personagens com histórias a contar.