Jailson e Vanderlei não têm o perfil para terceiro goleiro em Copa do Mundo
A história da seleção brasileira em Copas do Mundo, com rara exceção, conta que o terceiro goleiro, o 23º convocado para a competição, pode ter dois perfis: primeiro o de um jogador jovem, com potencial para estar nos próximos Mundiais. Segundo, o de um atleta mais experiente e que tenha identificação com o treinador e, consequentemente, a sua confiança.
Nem Vanderlei, do Santos (34 anos), nem Jailson, do Palmeiras (36), têm esses perfis. Não são garotos a ponto de sonhar com o Qatar, em 2022, nem goleiros com histórico de trabalhos com Tite ou com o preparador de goleiros da seleção, o campeão mundial de 1994 Taffarel.
A fase de ambos é excelente, e por isso é normal uma comoção para que tenham chance na Copa da Rússia, que terá início em junho — pressão normal às vésperas de convocações para Mundial (a lista final sai no começo de maio). Mas Tite, ao que parece, vai seguir a linha de perfis de terceiros goleiros que a história conta.
Alisson, 25, da Roma, e Ederson, 24, do Manchester City, estão garantidos na Copa, salvo algo ocorra até maio (lesão ou algum grave problema comportamental). Alisson, que tem sido a grande aposta de Taffarel para o gol da seleção na Rússia desde o início desse ciclo de Copa, quando assumiu o cargo com Dunga, será o titular. Ederson, o primeiro reserva.
Ambos são jovens, e podem ter tranquilamente mais duas (ou até três) Copas no currículo. O perfil goleiro jovem para o futuro está preenchido. É por isso que Tite pende hoje para preencher a vaga de 23º jogador com alguém de sua confiança: Cássio, 30, foi seu jogador no Corinthians, e como Vanderlei e Jailson está em boa fase — veja, pende, pois ainda não está fechado (leia mais abaixo).
Cássio foi um dos responsáveis pela ótima campanha do Corinthians em 2017, que nos títulos dos campeonatos Paulista e Brasileiro teve como pilar principal um eficiente setor defensivo. Para alguns treinadores, o terceiro goleiro em Copa precisa ser alguém de confiança para não tumultuar o ambiente de trabalho e passar ao restante do elenco os pontos de vista que o comandante acredita ser essencial. O número três não vai jogar, e com essa informação chegamos ao ponto: ele não precisar ser aquele que, neste momento, esteja melhor tecnicamente.
Nunca entrou em campo
A Fifa criou a vaga para um terceiro goleiro em Copa do Mundo em 1970, no México. E nunca um atleta chamado para essa função entrou em campo pelo Brasil. Mesmo o primeiro reserva pouco jogou: nas Copas de 1930 e 1938, na era amadora, houve revezamento dos dois arqueiros do elenco. Em 1966, pior participação brasileira em Mundiais, Manga substituiu Gilmar na última partida da primeira fase e, em 2006, Rogério Ceni entrou no segundo tempo da vitória de 4 a 1 sobre o Japão no lugar de Dida, uma espécie de homenagem de Parreira ao goleiro que quatro anos antes havia participado da campanha do Penta.
O terceiro goleiro foi uma solicitação dos europeus para 1970, já que temiam problemas de condicionamento físico com jogos sendo realizados, na maioria, às 12h (horário local). O argumento foi de que poderia ser inviável para um arqueiro atravessar o Atlântico a tempo hábil de substituir um dos dois goleiros que se machucassem. A Fifa topou, e depois nunca mais mudou a regra.
Emerson Leão foi o primeiro terceiro goleiro convocado pela seleção brasileira para uma Copa. Aos 20 anos, era uma aposta de Zagallo para o futuro, iniciando uma era de perfis jovens para a posição — com Leão a tese se comprovou, já que ele foi o titular nos Mundiais de 1974 e de 1978.
Até 1982, o terceiro goleiro convocado tinha esse perfil "jovem se preparando para as próximas Copas". Foi assim com Waldir Peres, 23 em anos em 1974, e com Carlos, 22, em 1978. Para o Mundial da Espanha, Telê Santana quebrou essa escrita ao chamar Paulo Sérgio, de 28 anos e em ótima fase no Botafogo.
À época questionava-se Telê por deixar de fora o experiente Leão, então no Grêmio, ainda com bom rendimento, mas o curioso é que não se lamentava as convocações de Carlos (como reserva imediato) e Paulo Sérgio de número três: o problema era Waldir Peres, o titular, que não era unanimidade, mas tinha a confiança do técnico. Paulo Sérgio talvez seja a exceção em uma regra e foi um terceiro goleiro que, naquele momento, merecia isso tecnicamente.
Quatro anos depois, no México em 1986, Telê Santana se redimiu com Emerson Leão e o levou como terceira opção para o gol, aos 36 anos. A explicação foi a de que precisava de alguém experiente para transmitir o que é jogar um Mundial para o elenco, formado boa parte por estreantes. Telê não sabia mas iniciava ali a era dos terceiros goleiros de confiança.
Na sequência, com duas interrupções no meio: Zé Carlos (1990), Gilmar (1994), Rogério Ceni (2002), Gomes (2010) e Victor (2014). Em 1998, com Dida (24 anos), e em 2006, com Júlio César (26), foi usado o outro perfil para terceiro goleiro, jovens se pensando no futuro (que se concretizaram, pois tanto Dida, em 2006, e Júlio, em 2010 e 2014, foram titulares em Copas).
Voz aos críticos?
Antes da lista definitiva da Copa da Rússia, Tite fará uma convocação dia 2 de março para amistosos contra a Alemanha (em Berlim) e Rússia (em Moscou), no fim do mesmo mês. Alisson e Ederson estão dentro, Cássio é o favorito ainda, mas informação publicada pelo Globoesporte.com mostra que o treinador está olhando com carinho Neto, revelado pelo Atlético-PR e que hoje vai muito bem no Valencia.
Aos 28 anos, Neto foge dos perfis tradicionais de terceiro goleiro: não é tão jovem pensando em outro Mundial (é mais velho que Alisson e Ederson), e não tem histórico com Tite. Talvez o arqueiro, se conseguir passar Cássio e ficar com a vaga, se torne o Paulo Sérgio de Tite, aquele que Telê levou em 1982 por realmente estar em boa fase.
Se isso acontecer, aqueles que defendem Jailson, Vanderlei, Marcelo Grohe (Grêmio), entre outros, terão bons argumentos para questionar Tite: se a opção não foi por idade, ou confiança, por que não olhou para esses nomes? A tendência, porém, ainda é que Cássio esteja na lista final de maio.
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