Topo

Marcel Rizzo

'Del Nero se entregou', avaliam cartolas sobre a provável suspensão na Fifa

Marcel Rizzo

09/03/2018 10h05

"O Marco Polo se entregou". A frase é de um presidente de federação estadual que esteve com Marco Polo Del Nero na quinta (8), em encontro que articulou a candidatura do diretor-executivo da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) Rogério Caboclo à presidência da entidade no próximo mandato, que começa em abril de 2019.

Outros dois dirigentes que conversaram com o blog não usaram a palavra entrega, mas afirmaram que o tom era de desânimo e de despedida. Apesar de o Comitê de Ética da Fifa ainda não ter comunicado sua decisão sobre investigação que faz sobre possíveis problemas de gestão cometidos por Del Nero quando teve cargos na CBF e na Conmebol, a informação passada aos cartolas na reunião é de que Del Nero considera que sua suspensão é certa. E por isso antecipou a decisão para que a eleição da confederação tenha um candidato único, apoiado por ele, e que fosse seu homem de confiança.

Marcos Motta, advogado de Del Nero na Fifa, disse que não há novidade nenhuma sobre o caso e que a Fifa costuma ser rápida quando decide, comunicando no mesmo dia — justamente para evitar vazamentos. O cartola nega toda as acusações.

Del Nero está suspenso provisoriamente por 90 dias de qualquer atividade do futebol desde 15 de dezembro, para que membros do Comitê de Ética investigassem as denúncias feitas pelo Departamento de Justiça dos EUA de que o presidente da CBF recebeu propina para vender os direitos comerciais de torneios no Brasil e na América do Sul a empresas de marketing esportivo. Isso fere o código de ética da entidade, e a suspensão pode ser longa.

No fim de fevereiro, durante encontro de dirigentes da Conmebol em Punta Del Este, no Uruguai, a informação que circulava era de que a Fifa decidiria por uma prorrogação da suspensão, por mais 45 dias, para esperar a sentença de José Maria Marin, ex-presidente da CBF acusado dos mesmos delitos de Del Nero e que sairia incialmente dia 4 de abril. Marin já foi condenado por seis crimes, mas sua sentença ainda não saiu e o resultado é importante para dimensionar o tamanho dos problemas causados pela corrupção no futebol das Américas.

O problema é que na semana passada a juíza responsável pelo caso na corte de Nova York (EUA), Pamela Chen, decidiu adiar para 30 de maio o anúncio da sentença da Marin, a pedido dos advogados dele. Com isso, mesmo se prorrogasse a suspensão de Del Nero por mais 45 dias a decisão teria que ser tomada no fim de abril, portanto um mês antes da sentença de Marin ficar conhecida.

A possibilidade de prorrogação não está descartada, apurou o blog, mas não faz mais sentido agora, portanto a expectativa na CBF é que até 15 de março, na próxima quinta, o destino de Del Nero será conhecido. Também por negociações consideradas irregulares pelos códigos da Fifa, o ex-presidente da federação internacional Joseph Blatter e o ex-vice Michel Platini foram suspensos por oito anos de qualquer atividade no futebol. Estima-se que a pena de Del Nero possa ser a mesma, o que praticamente inviabilizaria qualquer volta dele ao comando da CBF um dia.

Por isso ele quis antecipar o processo eleitoral da CBF (o pleito pode ocorrer a partir de um antes do início do próximo mandato, ou seja, 16 de abril de 2018), para colocar um aliado como candidato único e minar a chance de Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol, assumir o posto. Bastos não era desafeto de Del Nero, tanto que tem cargo de diretoria na CBF e é o representante da entidade no Conselho da Conmebol.

Mas provavelmente ele tomaria as rédeas da entidade, como fez ao assumir a Federação Paulista de Futebol (FPF) em 2015, quando Del Nero foi para a CBF. Ele trocou diretorias, fez diversas mudanças de procedimentos, ou seja, tomou conta de fato o mandato. Com Rogério Caboclo, a CBF continuaria parecida com o que é hoje. Mais próxima de Del Nero.

Caso Marco Polo seja realmente banido do futebol, até o próximo presidente assumir a CBF, em abril de 2019, o comando no papel continua com Antônio Carlos Nunes, o vice mais velho (em idade). O comandante de fato já é Rogério Caboclo.

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

Sobre o Blog

Notícias dos bastidores do esporte, mas também perfis, entrevistas e personagens com histórias a contar.