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Marcel Rizzo

Estaduais recebem dinheiro estatal e viram barganha em eleição da CBF

Marcel Rizzo

03/04/2018 04h00

A manutenção dos Campeonatos Estaduais com calendário nos primeiros meses do ano foi usada pela cúpula da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para garantir o apoio das federações em torno do candidato único para presidente da entidade, o diretor executivo Rogério Caboclo.

Com apoio de ao menos 24 das 27 federações, Caboclo, indicado pelo presidente afastado Marco Polo Del Nero, neutralizou qualquer chance de uma chapa de oposição, já que é preciso a assinatura de ao menos oito federações para a inscrição em uma eleição da CBF.

Cartolas de estados mais pobres têm nos Estaduais o principal rendimento da temporada, por isso a promessa de manutenção como está agrada a todos e garante votos no pleito — que será realizado em 17 de abril, com Caboclo como único candidato. Seu mandato começaria apenas em abril de 2019, mas há articulações na CBF para tentar antecipar isso. Por enquanto, quem preside a CBF é o vice Antônio Carlos Nunes, já que Del Nero continua suspenso pelo Comitê de Ética da Fifa enquanto é investigado por suspeitas de corrupção.

Colocar fim, ou diminuir, o calendário dos Estaduais, que hoje ocupa os meses de fevereiro a maio, com exceção de anos de Copa do Mundo, como 2018, em que é antecipado de janeiro a abril, seria criar uma cisão com a cartolagem, e é fácil entender o motivo. Só este ano a Caixa Econômica Federal, banco estatal, fechou patrocínio a pelo menos três torneios estaduais de federações mais pobres: o Paraibano e o Piauiense vão receber R$ 500 mil cada, já o Sul-mato-grossense R$ 400 mil.

O valor desses patrocínios equivale a boa parte da receita dessas federações. Por exemplo: em 2016, ano do último balanço divulgado, os paraibanos faturaram R$ 1,9 milhão, ou seja, o que a Caixa pagará pelo Estadual equivale a 25% de tudo o que a Federação Paraibana recebeu dois anos atrás.

A CBF avalia, apurou o blog, mexer em alguns pontos do calendário nos primeiros meses, mas focado em alterações de tabela de campeonatos regionais, o que pouco afetaria os times do Sul e Sudeste. A Copa do Nordeste é disputada junto com os Estaduais e com a Copa do Brasil, o que gera sobrecarga a alguns times. O Ferroviário, do Ceará, teve jogos em dias simultâneos nesta temporada. Na quarta atuou pelo Nordestão, e na quinta, dia seguinte, jogou pelo Cearense, o que contraria inclusive regulamentação da CBF da necessidade de descanso de 66 horas entre partidas.

Outro problema é que no ano que vem, por exemplo, terá a Copa América, que será disputada no Brasil e sem a parada de torneios mais importantes, como na Copa do Mundo. Mais aperto para os clubes grandes, que costumam reclamar reservadamente dos Estaduais, mas na prática também não fazem muito por mudanças já que recebem cotas gordas principalmente de televisionamento — no Paulista, Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos faturaram da Globo R$ 20 milhões cada em 2018.

Mexer nos Estaduais, portanto, está fora de cogitação por enquanto.

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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Notícias dos bastidores do esporte, mas também perfis, entrevistas e personagens com histórias a contar.