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Marcel Rizzo

Palmeiras desconfia que protestos contra Dudu tenham interesses políticos

Marcel Rizzo

25/04/2018 10h07

Dudu tem sido alvo dos torcedores palmeirenses (Crédito: Daniel Vorley/AGIF)

Há no Palmeiras a desconfiança de que os recentes protestos de torcedores direcionados a alguns jogadores, principalmente ao atacante Dudu, tenham objetivos políticos. Isso foi passado aos atletas, para que tentem manter a tranquilidade. No fim do ano haverá eleição para presidente no clube e Mauricio Galiotte, mandatário desde 2016, poderá concorrer à reeleição.

Dudu virou o principal alvo, na análise de dirigentes palmeirenses, por ser a personificação da atual administração. Foi contratado em janeiro de 2015, momento em que Paulo Nobre, antecessor de Galiotte (vice na ocasião), se reelegeu e fez mudanças no comando do futebol acertando, por exemplo, com Alexandre Mattos como diretor.

Dudu, na época pretendido por Corinthians e São Paulo, foi uma contratação que surpreendeu a todos e pôs fim, na visão da cartolagem alviverde, ao complexo de vira-lata à época – o time brigou, em 2014, para não ser rebaixado pela terceira vez no Brasileiro e dizia-se que jogadores rejeitavam propostas até financeiramente mais vantajosas porque avaliavam que o clube não tinha um projeto.

A partir de Dudu, do patrocínio milionário com a Crefisa, de um salto no número de sócios torcedores e de rendas altíssimas proporcionadas pela nova arena, o clube passou a ser destino de jogadores que interessavam a outros times, como Borja, Lucas Lima e Gustavo Scarpa (este não está podendo jogar por causa de um imbróglio jurídico com o Fluminense).

A gota d´água para a associação política das vaias e xingamentos foi o ambiente encontrado pelos jogadores em Buenos Aires, na Argentina, onde o time tem jogo importante na noite desta quarta (25) contra o Boca Juniors, pela Libertadores. No aeroporto e na porta do hotel pessoas apareceram para xingar os atletas, o que causou estranheza na direção do clube. Normalmente, em viagens assim, palmeirenses que moram na cidade se deslocam para tentar uma foto ou autógrafo, e não para protestar. Integrantes de organizadas, mais críticos, costumam chegar somente na hora da partida porque viajam de ônibus em caravanas.

Na terça (24), quando a delegação deixava o hotel rumo ao estádio La Bombonera, para o treinamento final antes da partida, xingamentos voltaram a ocorrer, direcionados a Dudu, principalmente, mas também a outros atletas, e Felipe Melo, que tem sido poupado, foi até o grupo pedir para que parassem.

A crise

As críticas começaram após a derrota nos pênaltis para o Corinthians na final do Paulista, no Allianz Parque, em 8 de abril. Dudu perdeu um das cobranças (Lucas Lima a outra), e desde então tem sido alvo. Na vitória sobre o Inter pelo Brasileiro, domingo passado, Dudu fez o único gol do jogo e não comemorou, como protesto — no começo do ano ele rejeitou uma oferta da China e em março renovou com o Palmeiras até 2022.

A direção do clube tem mostrado aos atletas que, mesmo nas redes sociais, que normalmente refletem o sentimento de uma minoria, há estranhamento com relação às criticas por parte de palmeirenses e muitos têm recebido apoio.

Há uma disputa política no Palmeiras e que tem como pano de fundo o patrocínio com a Crefisa. Uma das donas da empresa, Leila Pereira se tornou conselheira em 2017, com apoio do ex-presidente Mustafá Contursi — na época se questionou se ela teria tempo de associada necessário para ocupar o posto e que poderia ter sido ajudada por Mustafá. Ambos negaram irregularidades.

Só que uma polêmica sobre ingressos que seriam da Crefisa e estavam sendo vendidos, e que acabou envolvendo Mustafá, acabou gerando o rompimento entre ele e Leila. Ela abertamente fala que, no futuro, pretende ser presidente do clube (pelo estatuto ainda não pode disputar a próxima eleição), o que gera desconforto entre alguns cartolas mais antigos.

O Conselho de Orientação e Fiscalização (COF) do clube, que tem como membros todos os ex-presidentes vivos, tem questionado a diretoria sobre os ajustes feitos no contrato com a Crefisa, a pedido da Receita Federal, com relação às contratações de jogadores. O que antes era uma espécie de investimento em que a empresa receberia de volta o que gastou em caso de venda do atleta, agora virou um empréstimo, que o clube precisaria pagar de qualquer maneira.

Há até aqueles que acham que o clube deve vender o quanto antes todos os jogadores adquiridos com a ajuda da Crefisa, como o atacante Borja, por exemplo.

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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