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Marcel Rizzo

Financeiro, jurídico e TI: como Fifa orienta CBF para deixar Del Nero longe

Marcel Rizzo

28/04/2018 04h00

Marco Polo Del Nero foi banido por toda a vida do futebol (Crédito: Sérgio Moraes/Reuters)

A Fifa costuma enviar para as associações que tenham dirigentes banidos do futebol recomendações sobre procedimentos a adotar para evitar que esse cartola mantenha vínculo com a entidade e com o esporte.

É o que vai ocorrer com a CBF, já que Marco Polo Del Nero, suspenso para o resto da vida nesta sexta-feira (27) pela Fifa acusado de corrupção, ocupava o cargo de presidente da confederação brasileira antes de ser suspenso provisoriamente, em dezembro de 2017.

As recomendações visam deixar claro o bloqueio do acesso do banido a informações de departamentos chaves da entidade, como o financeiro e o jurídico, mas aborda com ênfase um terceiro setor que muitas vezes é considerado menos importante dentro de uma instituição: a tecnologia da informação.

Para a Fifa, é fundamental que o cartola suspenso perca qualquer acesso a email vinculado à entidade, ou a programa de computador que tenha relatórios ou contratos relacionados ao cargo que ocupava. Para isso, a federação internacional entende que é necessário que a TI da confederação seja de completa confiança da diretoria atual, principalmente se a função ocupada pelo dirigente punido era de alto escalão.

Del Nero, por exemplo, já não podia ter acesso desde que foi suspenso provisoriamente a documentos, emails, contratos e programas de computadores ligados à rede da CBF. Mas como a punição era preventiva, não se recomendava que destruísse esse acesso definitivamente, já que ele poderia, por exemplo, ser inocentado. Agora, o cenário mudou. Mesmo podendo recorrer ainda ao Comitê de Apelação da Fifa, e mais tarde à Corte Arbitral do Esporte, a recomendação é que se apague qualquer acesso e histórico virtual do cartola na CBF.

O blog apurou que, nas recomendações que a Fifa fez a outras federações que tiveram cartolas banidos, não se sugere diretamente a troca de funcionários de confiança, até porque seria uma ingerência em uma administração que tem vida própria. Mas, nos bastidores, a federação internacional costuma aconselhar a trocar cargos justamente nas áreas financeira, jurídica e de TI.

No lugar de Del Nero fica definitivamente o vice mais velho (em idade), Antônio Carlos Nunes, o Coronel Nunes, ex-presidente da Federação do Pará e que já ocupava o cargo interinamente. Ele se manterá no posto até abril de 2019, quando Rogério Caboclo, atual diretor-executivo, assumirá como novo presidente. Ele foi eleito em abril, indicado por Del Nero, que mesmo suspenso fez toda a articulação.

É improvável que Nunes faça mudanças a curto prazo, mas Caboclo pode, aos poucos, tomar as rédeas. E mexer por exemplo na tecnologia da informação pode ser algo menos doloroso do que em outras áreas. Hoje o chefe do departamento, indicado por Del Nero, é Fernando França.

Quem trabalhou de perto com Del Nero desde os tempos de presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF) diz que ele sempre foi centralizador, querendo acesso a todas as informações importantes. Faz sentido, portanto, qualquer recomendação para cuidado com as informações que circulam em rede na CBF.

Del Nero é acusado de receber propina para vender direitos comerciais de torneios para empresas de marketing esportivo, o que fere o Código de Ética da Fifa. Ele nega irregularidades e sua defesa disse que vai recorrer. Além do banimento, Del Nero foi condenado a pagar para a Fifa cerca de R$ 3,5 milhões.

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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