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Marcel Rizzo

A casca de banana e o dia que Neymar ganhou a fama de cai-cai na Inglaterra

Marcel Rizzo

04/07/2018 13h07

Neymar é orientado por Mano Menezes em jogo que a fama de cai-cai começou (Crédito: Tom Hevezi AP)

Emirates Stadium, o moderno estádio do Arsenal, em Londres, 27 de março de 2011. O local, e o dia, em que pela primeira vez Neymar foi vaiado pelos ingleses por, na visão deles, simular faltas.

Naquele tarde na Inglaterra, fria, o Brasil de Mano Menezes venceu em amistoso a Escócia por 2 a 0, dois gols do garoto de 19 anos que fazia apenas seu terceiro jogo pela seleção brasileira principal, mas já pintava como candidato a protagonista. Era, também, sua primeira exibição na Europa pelo Brasil — os dois anteriores foram nos EUA, a estreia ao lado do parceiro de Santos Paulo Henrique Ganso, e no Oriente Médio.

Aos 20 minutos do primeiro tempo, Neymar trombou com um zagueirão escocês, e desabou no gramado — o relato foi feito por mim, que estava no estádio, ao portal iG, onde trabalhava à época. O juiz ignorou, a partida seguiu, mas os torcedores, boa parte escoceses, outros ingleses, não perdoaram. A cada toque no brasileiro, vaias começavam.

Os jornalistas brasileiros que estavam no estádio demoraram a entender porque vaiavam o garoto. Pressão porque avaliaram que ele seria decisivo no jogo (como foi) ou no futebol mundial no futuro? Não, explicaram repórteres ingleses ao final da partida. "Por aqui, qualquer simulação é tratada assim. Não se pode tentar enganar, futebol é sério", disse um deles.

Os jornais ingleses, que deram destaque pequeno ao jogo em suas páginas no dia seguinte, usaram essas vaias como chamada. E parece que pegou. O tempo passou, Neymar se tornou um dos grandes, atuando por times milionários na Europa, camisa 10 da seleção brasileira (naquele dia foi o 11), mas os ingleses parecem nunca ter esquecido aquele 27 de março.

Mas eu também não esqueci, por outro motivo. Naquele dia, Neymar recebeu a fama de cai-cai, mas também sofreu racismo. Uma casca de banana foi atirada ao gramado, próximo a ele, quando estava perto da linha lateral. Ninguém foi preso, nem sequer investigado, já que a Federação Escocesa, que participava da organização do amistoso, não quis abrir procedimento para tentar identificar o autor. Mas é claro que o problema é se jogar demais no gramado.

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

Sobre o Blog

Notícias dos bastidores do esporte, mas também perfis, entrevistas e personagens com histórias a contar.