Argentino na Fifa causa apreensão antes de semis de Palmeiras e Grêmio

Coronel Nunes (esquerda) ao lado do argentino Claudio Tapia (Crédito: Jorge Adorno/Reuters)

Nas próximas semanas a cúpula da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) deve confirmar o argentino Claudio Tapia, presidente da AFA (Associação de Futebol da Argentina), como um dos quatro representantes da América do Sul no Conselho da Fifa. Ele herdará a vaga do uruguaio Wilmar Valdez.

A indicação de Tapia à Fifa consolida a retomada de influência argentina na Conmebol, que havia diminuído após a morte do ex-presidente da AFA Julio Grondona, em 2014, e dos problemas administrativos por quais a entidade passou que resultou até em interferência da Fifa. Em 2016 um comitê foi criado para gerir a associação até a eleição de Tapia, em março de 2017.

Há um sinal amarelo ligado entre dirigentes de alguns clubes brasileiros com a provável indicação do argentino à Fifa porque avalia-se que se romperá um equilíbrio de forças entre os dois principais países do continente, Brasil e Argentina. Esse equilíbrio havia ficado definido, mesmo que extraoficialmente, no início de 2018, quando Tapia foi indicado como segundo vice-presidente da Conmebol.

Como o Brasil tem uma vaga na Fifa, com o vice da CBF Fernando Sarney, entendia-se que as duas fortes confederações estavam representadas igualmente dentro da confederação sul-americana. A ida de Tapia à Fifa, se confirmada, fará a balança pender para os argentinos e pode dar energia às reclamações de times brasileiros contra a arbitragem em jogos das competições sul-americanas, o que já vem ocorrendo com frequência. As semifinais da Libertadores serão confrontos entre Brasil e Argentina, com Grêmio x River Plate e Palmeiras x Boca Jrs.

Em setembro, a CBF precisou enviar uma reclamação oficial à Conmebol contra a arbitragem do paraguaio Eber Aquino, que expulsou o cruzeirense Dedé nas quartas de final contra o Boca. O zagueiro acertou sem querer uma cabeçada no goleiro Andrada, em lance dividido, e mesmo após consultar as imagens via VAR Aquino expulsou Dedé. A reclamação da CBF deu resultado e o Tribunal de Disciplina cancelou a suspensão do zagueiro, mas o estrago maior estava feito já que os brasileiros perderam por 2 a 0 a partida de ida e não conseguiram reverter em casa.

Clubes brasileiros reclamam há anos de que o Brasil está fraco nos bastidores da Conmebol, principalmente depois que o ex-presidente da CBF Marco Polo Del Nero deixou de viajar à reuniões da entidade sul-americana, em 2015. Ele não viajava ao exterior aconselhado por seus advogados depois de aparecer nas investigações do Fifagate (dirigentes que receberam propina para vender direitos comerciais de torneios). A situação piorou quando em junho de 2018, na eleição para sede da Copa-2026, o atual presidente da CBF, Antônio Carlos Nunes, votou em Marrocos e não na candidatura tripla de EUA/Canadá/México como estava combinado entre todos os membros da Conmebol, causando mal-estar entre a cartolagem.

A Argentina tomará a vaga do Uruguai na Fifa porque a associação deste país está sob controle de Zurique até 2019, com um comitê de regularização. Wilmar Valdez, que tentava se reeleger, renunciou depois que vazaram áudios sobre supostos problemas em processo de licitação para a compra de câmeras para o estádio Centenário. A Fifa decidiu intervir, mas os clubes uruguaios não gostaram e acionaram judicialmente para tentar marcar nova eleição. Por esse motivo Valdez será retirado do cargo na Fifa e Tapia indicado.

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