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Marcel Rizzo

A liga europeia dos clubes 'rebeldes' pode acabar com novo Mundial da Fifa

Marcel Rizzo

03/11/2018 09h25

O périplo do presidente da Fifa, Gianni Infantino, nos últimos meses aos escritórios dos chefes dos principais clubes europeus para convencê-los de que um Mundial de Clubes inchado seria financeiramente e esportivamente interessantes a eles teve também, como pano de fundo, a tentativa do cartola dinamitar a criação de uma Superliga Europeia com os principais times do continente. Isso tem o potencial de atrapalhar o bilionário projeto da Fifa de realizar novas competições com dinheiro de empresas parceiras.

O plano de 11 gigantes europeus de elaborar um torneio à parte da Liga dos Campeões da Europa e dos torneios nacionais foi revelado nesta sexta (2) pelo Football Leaks, grupo que com base em documentos e e-mails vêm há algum tempo fazendo reportagens bombásticas do meio do futebol. No projeto, encabeçado por potências como Real Madrid, Barcelona, Bayern de Munique e Juventus, os 11 fundadores não seriam, por exemplo, rebaixados e poderia haver uma receita anual de 500 milhões de euros (R$ 2,1 bilhões) a cada participante.

As conversas, segundo a reportagem, vêm desde 2015 e tem minado os planos da Fifa de colocar em prática novos projetos, como um Mundial de Clubes com 24 participantes e que é um dos pilares da proposta oferecida por um grupo privado, encabeçado pelo conglomerado japonês SoftBank, de injetar US$ 25 bilhões (R$ 93 bilhões) em novas competições. Além do torneio de clubes expandido há projeto de uma nova competição de seleções, chamada de Liga das Nações, que seria uma espécie de mini-Copa do Mundo disputada a cada dois anos.

A possibilidade de os clubes europeus criarem seu próprio campeonato fez com que Infantino levantasse da cadeira e fosse ao encontro da cartolagem do continente. As reuniões com chefes do Manchester United, Real Madrid, Barcelona e PSG, alguns divulgados, tinham como mote principal convencer esses clubes de que o novo Mundial seria lucrativo e não atrapalharia o calendário, já que a previsão é que seja disputado entre junho e agosto, quando os torneios nacionais e continentais estão parados e os clubes em pré-temporada.

Mas as visitas tinham também, apurou o blog, o objetivo de minar a ideia da Superliga Europeia que, na visão da Fifa, não só prejudicava seu plano de um novo Mundial, mas também poderia prejudicar até sua galinha de ovos de ouro, a Copa do Mundo. Nos documentos a que o Football Leaks teve acesso havia clubes, como o Bayern de Munique, que consultaram juristas para saber se seriam obrigados a ceder jogadores para suas seleções em datas Fifa e torneios caso saíssem de suas ligas nacionais e da Uefa (o time alemão negou essas informações em nota). Isso para a Fifa seria desastroso economicamente, já que seus principais patrocinadores pagam bilhões justamente para ter a marca associada aos melhores o mundo atuando em suas seleções nas competições da entidade.

Membros da Fifa dizem há meses que os encontros de Infantino foram produtivos e que os clubes toparam ouvir com carinho a proposta e como poderiam faturar alto com essa nova competição. Não à toa, como já mostrou o blog, o presidente da Fifa indicou aos gigantes que eles poderiam entrar na competição como convidados, e não por critérios técnicos (leia mais aqui). A revelação da Superliga Europeia explica porque a ideia do convite surgiu, já que essas equipes que querem criar sua própria competição precisavam de uma garantia de que teriam vaga no Mundial.

Juridicamente pode haver empecilhos para a formação de uma liga europeia nos moldes estudados nos últimos anos, mas a Fifa está tensa com essa possibilidade não só por motivos financeiros mas também por políticos. Hoje, a base eleitoral de Infantino, que tentará a reeleição em junho de 2019, é formado por países periféricos, não pelas potências europeias. Não por acaso ele quer inchar a Copa do Mundo com 48 seleções já em 2022, no Qatar, abrindo para que mais países da região, como Bahrein, Arábia Saudita e Emirados Árabes recebam partidas.

Esses países mais fracos poderiam ser impactados com um novo cenário do futebol em que os times milionários se fechassem em um clube exclusivo que nem mesmo as seleções teriam o privilégio de ter os maiores craques do planeta. A concentração financeira, avalia-se, ficaria nesse segmento, relegando clubes de países menores a uma fatia inexpressiva do dinheiro que circulasse no futebol. Se confirmado isso seria um desastre político para a Fifa e o futebol como conhecemos atualmente teria uma mudança nunca antes imaginado.

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Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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