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Marcel Rizzo

Cargo na Fifa de chefe do River pressionou Conmebol à final em campo neutro

Marcel Rizzo

27/11/2018 16h32

Entre reuniões, ligações, troca de e-mails, entrevistas e pronunciamentos desde sábado (24), quando a finalíssima da Libertadores foi adiada pela primeira vez depois do ônibus da delegação do Boca Jrs. ter sido atacado por torcedores do River Plate, a posição da Conmebol de insistir na realização do jogo no Monumental de Nuñez com os portões abertos gerou constrangimento entre a cúpula da entidade e dirigentes sul-americanos devido a um pequeno detalhe: Rodolfo D'Onofrio, presidente do River Plate, tem um cargo na Fifa indicado pela confederação sul-americana.

Nesta terça (27), a Conmebol decidiu que a decisão será em país neutro, no final de semana de 8 e 9 de dezembro. Segundo o "Globoesporte.com", as opções seriam Miami, que agrada a patrocinadores, Doha (Qatar), por já estar próximo dos Emirados Árabes Unidos, sede do Mundial de Clubes (o campeão da Libertadores disputará) e Assunção, no Paraguai, sede da entidade sul-americana. Entre os motivos de mudança de rota da Conmebol estão reclamações que recebeu de proteção ao River que, mesmo indiretamente, causou todo o problema.

D'Onofrio foi indicado, em janeiro de 2017, como um dos integrantes do Comitê de Interesse do Futebol que, segundo a Fifa, tem como função lidar "com a relação entre clubes, jogadores, ligas, associações afiliadas, confederações e FIFA", além de aconselhar a entidade sobre questões "técnicas sobre o futebol". 

Chamou a atenção na discussão sobre o problema da final da Libertadores que, dos 19 cargos que a América do Sul tem nas comissões da Fifa, somente um foi dado a presidente de clube na ativa, no caso o cartola do River Plate. Há outros com perfil parecido, mas ou que já presidiram clubes, como o uruguaio Eduardo Ache, ex-chefão do Nacional, também um político em seu país e que está no Comitê de Governança e Revisão, ou que exercem cargos honoríficos, como o equatoriano Michel Deller, um dos mecenas do Independiente Del Vale no Comitê de Status dos Jogadores.

As indicações aos comitês da Fifa são feitas pelas confederações filiadas. A Conmebol as faz, mas normalmente recebe sugestões das associações, como a AFA (Associação de Futebol da Argentina) e a CBF (Confederação Brasileira de Futebol). O Brasil, por exemplo, tem três membros nesses comitês: o ex-jogador Cafu no de interese do futebol, o mesmo de D'Onofrio, Castelar Guimarães Netto, ex-presidente da Federação Mineira no de status de jogadores, e Wilson Luiz Seneme, no de arbitragem. No caso deste último a indicação foi diretamente pela Conmebol porque ele é o chefe da comissão de árbitros na América do Sul.

A Argentina, como o Peru, tem quatro indicados para os comitês, que são nove ao total. Mas há um detalhe: desde outubro Claudio Tapia, presidente da AFA, foi indicado ao Conselho da Fifa, o que faz cinco argentinos terem cargos dentro da entidade máxima no futebol — nenhum país da América do Sul tem tantos representantes assim. Tapia substituiu ao uruguaio Wilmar Valdez, que renunciou à presidência de sua federação em meio à crise política que fez a Fifa intervir na entidade. Ele está no Conselho junto com o paraguaio Alejandro Dominguez, o colombiano Ramon Jesurún, a equatoriana Maria Sol Muñoz e o brasileiro Fernando Sarney, vice da CBF.

O blog apurou que a foi colocado à Conmebol que diversos problemas envolvendo o River de D'Onofrio nesta Libertadores acabaram resolvidos favoravelmente ao time argentino: uso de atleta irregular (Zuculini jogou suspenso), o técnico Marcelo Gallardo ir ao vestiário sem poder, na semifinal contra o Grêmio, e agora, com o ataque ao ônibus do Boca, mais um que estava se decidindo favoravelmente ao River.

A presença do presidente da Fifa, Gianni Infantino, no Monumental no sábado (24), participando inclusive da reunião para decidir o que se faria, chamou a atenção quando a Conmebol insistia em adiar o horário de início de jogo, em vez de adiá-lo. D'Onofrio e o presidente do Boca Jrs, Daniel Angelici, estavam presentes também no encontro. A imprensa argentina chegou a publicar que Infantino forçou a realização da partida, mas o cartola, em entrevista, negou isso.

A decisão da Conmebol de se antecipar a qualquer decisão do Tribunal de Disciplina e tirar o jogo da Argentina ocorreu após pressão do Boca Jrs, que avisou que não jogaria no Monumental de Nuñez, e para mostrar que não há preferência por time A ou B. Pesou também o fato de a entidade não querer portões fechados, e atuar com torcida em solo argentino seria demasiado arriscado.

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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