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Marcel Rizzo

Os laços comerciais que podem levar a final da Libertadores ao Qatar

Marcel Rizzo

28/11/2018 04h28

A decisão da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) de que a final da Libertadores entre River Plate e Boca Jrs. será em país neutro também teve como ingrediente agradar a seus patrocinadores. Parceiros atuais e futuros acenaram que seria ruim para a imagem da competição uma partida sem torcida, e havia consenso na entidade que se fosse realizada no país dos finalistas o sensato seria atuar com portões fechados — o River deve ser proibido pelo Tribunal de Disciplina da Conmebol de jogar como mandante com torcida depois que o ônibus do Boca foi atacado por seus fãs na chegada ao estádio, o que resultou em dois adiamentos do confronto até o momento.

Duas das cidades que se candidataram a receber as partidas, Miami e Doha, têm ligação com empresas com negócios com a Conmebol. A capital do Qatar, por sinal, não é favorita à toa. Três são os motivos que podem levar a partida para lá: primeiro a proximidade com os Emirados Árabes Unidos, sede do Mundial de Clubes da Fifa onde o campeão da Libertadores (River ou Boca) jogará pouco dias depois da decisão da Libertadores, anunciada para 8 ou 9 de dezembro. Os dois outros motivos são comerciais.

Em 31 de outubro a Conmebol anunciou que a aérea Qatar Airways será uma das patrocinadoras de seus torneios de clubes (Libertadores, Sul-Americana e Recopa) a partir de 2019 e até 2022. A empresa, por sinal, será responsável pelo transporte dos clubes quando necessário e caso River x Boca joguem por lá a final daqui alguns dias já poderá leva-los — a Conmebol avisou que arcará com todos os custos do jogo, incluindo deslocamento e hospedagem para 40 membros de delegação dos dois clubes. A Qatar Airways também patrocina o Boca Jrs., o que pode facilitar ainda mais a realização do confronto por lá.

Meses antes, em maio, a Conmebol anunciou que o Qatar jogará como convidado a Copa América de 2019, que será no Brasil entre junho e julho. Como mostrou o blog, a sugestão da participação do país foi da Fifa, que quer ver o Qatar se fortalecendo disputando torneios competitivos já que será sede da Copa-2022. Nas conversas com os quatarianos para estar no torneio de seleções da América, inclusive, foi quando a Conmebol passou a namorar a Qatar Airways. Doha, portanto, é quase como um quintal da Conmebol atualmente. O Qatar se ofereceu, inclusive, para pagar o ressarcimento aos torcedores do River Plate que compraram ingressos para a partida no Monumental que nunca acontecerá.

Miami, que perdeu força por conta de barreiras logísticas, tem forte lobby para receber no futuro a final única da Libertadores, que terá a primeira edição em 2019 (será em Santiago, no Chile). Além do forte apelo comercial, com muitos latinos morando por lá, há também a questão das tratativas da Conmebol com times da MLS, a liga de futebol dos EUA e do Canadá, para jogarem a Libertadores a partir de 2020. E a final em Miami é uma das exigências desses clubes para entrarem no torneio sul-americano.

O Boca batia o pé de que não jogaria no Monumental de Nuñez com torcedores do River presentes depois de ter o ônibus atacado. Topava jogar com portões fechados, antes de se apegar a tentar ganhar a taça na justiça. Isso, porém, desagradaria aos patrocinadores e desvalorizaria a competição em momento que a Diez Media FC, empresa criada por IMG e Perform, companhias americanas que ganharam o direito de comercializar os direitos comerciais dos torneios de clubes da Conmebol, vendem cotas para o período de 2019 a 2022. Além da Qatar Airways, recentemente foi anunciado acordo com a Unilever.

O que a Conmebol teme desde o começo de toda a confusão é que o torneio acabe no tapetão, ou seja, decidido na Justiça desportiva. O Boca ainda diz que só vai falar sobre jogo depois que o Tribunal Disciplinar da Conmebol der seu parecer sobre a punição ao River, que pode ser perda de pontos ou apenas multa, que é a aposta de todos.

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Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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