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Marcel Rizzo

China e Mundial de Clubes travado podem ressuscitar Copa das Confederações

Marcel Rizzo

07/12/2018 04h00

A indefinição sobre um novo Mundial de Clubes com 24 participantes deu sobrevida a um torneio que estava fadado ao fim: a Copa das Confederações. A Fifa, antes decidida a acabar com o torneio deficitário, não descarta agora realizá-lo ao menos mais uma vez, em 2021, e ganhou uma entusiasta para essa ideia: a China. O país asiático, que era o favorito a ser a primeira sede do Mundial de Clubes que parece que não sairá do papel tão cedo, quer que a Copa das Confederações seja em seus estádios daqui a dois anos e meio.

A Fifa nunca decretou oficialmente o fim da Copa das Confederações, mas nos bastidores trabalhava para que esse torneio de seleções fosse trocado por um de clubes, inicialmente com a mesma periodicidade: a cada quatro anos, nos ímpares que antecedem às Copas. O problema é que os times europeus não estão dando bola para esse novo Mundial e toda vez que que o presidente da Fifa, Gianni Infantino, tenta colocar em pauta nas reuniões do Conselho ele não obtém êxito.

O máximo que conseguiu até agora foi a criação de um grupo de estudos que vai avaliar se é viável a criação deste Mundial de Clubes turbinado e de uma nova competição de seleções, batizada de Liga das Nações, para ser disputada entre as Copas do Mundo. Tudo seria financiado por parceiros privados dispostos a pagar mais de R$ 85 bilhões.

Sem a certeza de que tudo isso sairá do papel, a Fifa não descarta mais realizar a Copa dos Confederações em 2021. No fim de outubro, na reunião do Conselho realizada em Kigali, na Ruanda, o calendário de futebol para o período de 2018 a 2024 foi atualizado para incluir a Copa América de 2020 (de 12 de junho a 12 de julho, ainda sem sede) e mudar a Copa das Nações Africana de 2023 do início para meados do ano. Mesmo com a atualização, para junho e julho de 2021 se manteve ali no calendário a "Fifa Confederations Cup in Asia" (Copa das Confederação Fifa na Ásia) em comunicado enviado a todas as associações filiadas.

O torneio, se realizado, não será no Qatar. Isso já está definido há algum tempo, já que será no meio do ano e o calor na terra da Copa do Mundo de 2022 impede que seja disputado nesse período (tanto que o Mundial ocorrerá pela primeira vez na história entre novembro e dezembro, quando a temperatura é menor). Ficou decidido em 2013, ao fim da Copa das Confederação do Brasil, que a edição de 2021 seria mantida na Ásia, mas nunca se definiu uma sede. Agora a China levantou o braço e quer receber a competição.

Os chineses hoje são os principais parceiros da Fifa. O Grupo Wanda, conglomerado com hotéis, empreendimentos imobiliários e lojas de luxo, é um dos patrocinadores globais da entidade ao lado de empresas com contratos antigos, como Coca-Cola, Adidas e Visa e de novatos como a russa Gazprom e a Qatariana Qatar Airways — não por coincidência companhias dos países que foram sedes da última (Rússia-2018) e próxima (Qatar-2022) Copas do Mundo. Somam-se a elas a coreana Kia/Hyundai.

Mas o apoio chinês à Fifa não se resume ao Grupo Wanda. Na Copa-2018, a Vivo, de telefones celulares (sem ligação com a empresa brasileira de mesmo nome), a Hisense, de eletrodomésticos e eletrônicos, e a Mengniu, de produtos lácteos, patrocinaram o torneio. Nos últimos anos, portanto, quatro empresas chinesas injetaram dinheiro na entidade que convive com denúncias de corrupção que levaram dezenas de cartolas para a prisão ou exclusão do futebol.

Na Fifa sabe-se que a China receberá torneios importantes nos próximos anos. Uma Copa do Mundo é vista como certo, mas como 2022 será no Qatar, também na Ásia, espera-se que os chineses entrem fortes por 2034 — 2030 já há uma candidatura tripla de Argentina-Uruguai-Paraguai e provavelmente a Inglaterra e outros países europeus estarão na disputa (2026 será nos EUA-México-Canadá). Dar aos chineses a Copa das Confederações pode ser uma maneira de fazer com que esperem com mais calma sua chance de ter um Mundial.

Criada na Arábia Saudita

A Copa das Confederações foi criada pela Fifa em 1997, tomando para si o torneio organizado por duas vezes (1992 e 1995) pela Arábia Saudita reunindo os campeões de cada uma das seis confederações filiadas, mais o país-sede e o último campeão da Copa do Mundo (formato que seria mantido para 2021).

Até 2005 foi realizada a cada dois anos, alternando entre a sede da Copa do Mundo seguinte e um outro país que se candidatasse. A partir do torneio realizado na Alemanha, como prévia do Mundial de 2006, estipulou-se o calendário a cada quatro anos, sempre um ano antes da Copa e para testar instalações do país-sede do principal torneio do mundo.

Após a Copa das Confederações realizada no Brasil, em 2013, a Fifa começou a repensar o torneio, que financeiramente não era vantajoso e esportivamente também deixava a desejar — mesmo times fortes algumas vezes poupavam atletas e  não priorizavam o torneio, realizado em meio às férias dos jogadores. Em 2017, na Rússia, arrecadou US$ 22 milhões com bilheteria, menos da metade do que pretendia (US$ 45 milhões). O torneio deu prejuízo, apesar de a Fifa não dizer quanto em seus relatórios financeiros.

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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