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Marcel Rizzo

Castelão pode ser primeiro estádio público da Copa-2014 gerido por clubes

Marcel Rizzo

14/12/2018 04h00

Arena Castelão voltou para a administração do governo do Ceará (Crédito: Jarbas Oliveira/UOL)

A Arena Castelão, em Fortaleza, pode ser o primeiro dos estádios públicos da Copa do Mundo de 2014 a ser gerido por clubes de futebol. Nesta quinta-feira (13), o governo do Ceará retomou a administração que desde 2010 estava na mão do setor privado, inicialmente para ser reconstruído para ser uma das 12 sedes do Mundial organizado pela Fifa e depois para receber jogos e shows.

O plano do poder público é realizar uma nova licitação, mas não descarta uma concessão direta aos principais clubes da capital cearense — seria uma gestão compartilhada entre o governo e Ceará e Fortaleza. Em 2019, os times disputarão juntos a primeira divisão do futebol brasileiro pela primeira vez desde 1993 e poderiam ser responsáveis por dividir a administração, com os bônus (receber, por exemplo, parte das receitas dos shows realizados com frequência no estacionamento do estádio) e os custos de manutenção.

"É justo para os clubes, que conseguiram 38 grandes eventos para o equipamento em 2019 [jogos da Série A do Brasileiro], ter mais participação. Hoje os clubes não têm receita nenhuma de bares e de estacionamento e somos nós que promovemos os espetáculos, que corremos os riscos. É uma janela de oportunidade para todos", disse Marcelo Paz, presidente do Fortaleza.

Até uma nova licitação, ou acerto com os clubes, a Arena Castelão estará 100% nas mãos do governo estadual, que precisa resolver logo o que fará com o equipamento. Reeleito, o governador Camilo Santana (PT) está promovendo grande corte de gastos para 2019, com diminuição inclusive de secretarias. A do Esporte será fundida com a da Juventude, portanto não está nos planos ficar com um estádio que tem a manutenção alta — pelo contrato de concessão com a Luarenas, o Estado repassava à empresa gestora cerca de R$ 400 mil mensais.

O desejo dos clubes deve ter forte concorrência de interessados na nova concessão, dessa vez de 20 anos. Não somente a Luarenas, mas também outras empresas, como a Lusoarenas, a GL Events e a AEG Global demonstram vontade em administrar o estádio. Uma definição deve ocorrer nos próximos meses.

"Seria algo inovador. Se der certo vamos mostrar que ninguém opera um estádio como um clube de futebol. Precisamos sentar [com o governo] e desenhar um modelo de gestão compartilhado, o que cabe a quem. Hoje existe uma sinergia muito grande entre as diretorias do Ceará, do Fortaleza e a Secretaria do Esporte", disse Robinson de Castro, presidente do Ceará.

Raio-x dos estádios da Copa

Dos 12 estádios reformados ou construídos para receber jogos da Copa-2014, três eram privados, ou seja, pertenciam a clubes de futebol: a Arena do Corinthians, em São Paulo, a Arena da Baixada, do Atlético-PR, em Curitiba, e o Beira-Rio, do Inter, em Porto Alegre. Os nove restantes eram públicos e foram construídos, a maioria, com parcerias entre os governos e empreiteiras.

Desses, três até hoje ainda são administrados pelo poder público: a Arena da Amazônia, em Manaus, a Arena do Pantanal, em Cuiabá, e o Nacional Mané Garrincha, em Brasília. Os outros seis foram concedidos a consórcios que administrariam por prazos determinados. No caso da Arena Castelão, o contrato assinado em 2010 com o grupo formado pela Galvão Engenharia e pela Andrade Mendonça foi por 96 meses, até o fim de 2018 portanto. Em 2014, pouco antes do Mundial, a Galvão repassou a gestão do Castelão pelos quatro anos seguintes à Luarenas, empresa formada pela francesa Legardére e pela brasileira BWA. Por meio de sua assessoria, a Luarenas informou que tem interesse em participar de uma nova licitação para manter a administração do estádio.

A inovação citada pelo presidente do Ceará se deve ao fato de que, até hoje, nenhum dos estádios públicos usados na Copa foram geridos diretamente por clubes de futebol. Houve contratos assinados para a utilização dos equipamentos, como do Bahia com a Fonte Nova, em Salvador, do Náutico com a Arena Pernambuco, na região metropolitana do Recife, Flamengo e Fluminense no Maracanã, no Rio, o Cruzeiro, no Mineirão em Belo Horizonte, e América com a Arena das Dunas, em Natal. Os clubes acertaram recebimento de cotas para usar o espaço, mas não tinham participação em receitas extras ao futebol ou gastos com manutenção.

No caso da Arena Castelão todo início de ano havia negociação da administradora para o uso do espaço com Ceará e Fortaleza, no mesmo molde dos citados acima, mas sempre em conflito com relação a custos. Nos primeiros meses de 2018 os clubes chegaram a mandar alguns jogos no Presidente Vargas, estádio mais acanhado no centro de Fortaleza e que pertence à prefeitura. Mesmo na Série A o Ceará optou por atuar no PV, indo de vez ao Castelão após a Copa do Mundo da Rússia quando iniciou sua recuperação no torneio e a arena, com maior capacidade (63 mil espectadores), acabou se adequando melhor ao momento do clube.

"Temos que criar condições para diminuir os custos do estádio e gerar maiores receitas para os clubes e mais conforto aos torcedores. Acredito muito que Ceará e Fortaleza podem ter lucros com a gestão do Castelão", disse Robinson de Castro.

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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