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Marcel Rizzo

Déficit de R$ 1 bi: Fifa avalia criar 'banco' contra calote a time formador

Marcel Rizzo

19/02/2019 04h00

Neymar rendeu R$ 34 mi ao Santos por venda ao PSG pelo mecanismo de solidariedade (Crédito: Franck Fife/AFP)

A Fifa pretende criar uma espécie de banco que vai gerenciar o repasse do mecanismo de solidariedade, quando é pago parte do valor de uma negociação a um clube por ter sido o formador do atleta. Somente em 2018, segundo dados da entidade, quase US$ 300 milhões (R$ 1,1 bilhão) não foram repassados corretamente – total pago de US$ 67,7 milhões (R$ 252,5 milhões) contra os US$ 351,5 milhões (R$ 1,3 bilhão) que deveriam de fato ter caído na conta de vários times.

Hoje há certa confusão sobre quem é o responsável pelo pagamento ao formador, se é o clube que vende o jogador e recebe a quantia da transação ou se o que compra (maioria dos especialistas entende que é o comprador que tem que separar a quantia) – o valor pode chegar a 5% da transação, dividido entre todas as equipes com qual o atleta teve contrato dos 12 aos 23 anos (que vai subindo proporcionalmente quando a idade vai aumentando). Essa confusão faz com que o calote seja comum e comprometa a fiscalização. Em 2017, por exemplo, o Santos embolsou R$ 34 milhões pela venda de Neymar do Barcelona ao PSG, pago pelos franceses.

Muitos clubes que teriam direito ao pagamento muitas vezes nem sabem que ocorreu uma transação e, por isso, nem cobram o valor de direito. Por isso a ideia da Fifa é simples: criar um órgão dentro da entidade que seja o responsável por receber os 5% destinados ao formador de todas as negociações que ocorram no futebol. Esse sistema seria o responsável por repassar a quantia a cada clube que apresente corretamente a documentação de que participou da formação do atleta.

No Brasil, por causa de legislação, os times só podem assinar acordos de formação com atletas a partir dos 14 anos — há um lobby forte da CBF e de clubes para diminuir a 12 anos, idade mínima na Fifa para se receber dinheiro como formador.  A discussão se tornou mais complexa depois do incêndio em alojamento de centro de treinamento do Flamengo que ocasionou a morte de dez jovens entre 14 e 16 anos. O clube tinha o certificado de formador emitido pela CBF e gerenciado pela Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj), mas havia problemas com alvarás para o funcionamento do Ninho do Urubu.

Clubes que não recebem hoje o pagamento do mecanismo de solidariedade podem acionar, por exemplo, o Tribunal Arbitral do Esporte (CAS, na sigla em inglês), na Suíça, mas muitas vezes isso não é feito ou porque o valor a ganhar é baixo, e só para pagar advogados se gastaria boa parte do que tem a receber, ou porque simplesmente o clube não sabe que um jogador que passou por sua base foi vendido. Há equipes que até contratam escritórios internacionais somente para vasculhar transações que possam render direito com o mecanismo.

Se o plano da Fifa sair do papel, esse trabalho será facilitado porque se o clube tiver em dia com o registro de todas as suas negociações no software da entidade, automaticamente o órgão responsável vai cruzar os dados e chegar ao valor que cada formador tem a receber, fazendo o repasse do dinheiro que foi depositado em seu "banco" pela equipe compradora, provavelmente.

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Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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