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Marcel Rizzo

O VAR deve ver exatamente a mesma imagem que você na transmissão da partida

Marcel Rizzo

25/03/2019 12h00

FPF aprovou decisão de Raphael Claus em jogo entre Novorizontino x Palmeiras (Crédito: Reprodução FPF)

As imagens que você vê na transmissão do jogo de seu time são as mesmas que os árbitros acompanham na sala de comando do VAR (árbitro de vídeo, na sigla em inglês) para analisarem as jogadas que podem ter a marcação de campo alteradas. O protocolo exige que os responsáveis pela difusão da partida cedam todos os lances captados para a arbitragem. Se há dez câmeras instaladas no estádio, a sala de comando terá acesso as imagens de todas  — o mínimo exigido para o funcionamento do VAR são oito câmeras.

No fim de semana o VAR se envolveu em polêmicas no Campeonato Paulista, competição na qual está sendo usado pela primeira vez — os quatro confrontos das quartas de final tiveram a tecnologia ao alcance. Mas como não viram que a bola bateu na mão do jogador do Novorizontino, perguntaram os palmeirenses após o empate por 1 a 1, no sábado (23). Não viram que foi pênalti em Everton Felipe no 2 a 1 para o São Paulo, reclamaram são-paulinos nas redes sociais no domingo (25). Uma dúvida se repetiu entre torcedores: o árbitro de vídeo não tem acesso à imagem que vi na TV?

Tem. A questão crucial para se entender como funciona o VAR é que a marcação de campo do árbitro funciona, digamos, como um desempate em caso de dúvida. Só vai haver alteração do que foi sinalizado se o VAR e depois o juiz principal, o que está no gramado, tiverem certeza disso. E a subjetividade no futebol continua existindo, apesar de agora a imagem estar ao alcance da arbitragem durante os 90 minutos.

No lance de Everton Felipe, na vitória são-paulina sobre o Ituano, ele cai dentro da área após dividida com Jonas e jogadores do São Paulo pedem pênalti. O lance segue, a bola vai para a lateral e o árbitro José Cláudio Rocha Filho aguarda sinalização da cabine do VAR sobre o lance, após revisão. Todas as câmeras disponíveis são analisadas. Nesse caso, duas situações podem ocorrer: 1) o árbitro de vídeo diz, com certeza, que foi pênalti ou não foi pênalti, e no campo o juiz desfaz ou mantém a marcação. Foi o que ocorreu, seguindo o jogo. 2) o pessoal na sala de comando diz não ter certeza, e o principal opta por ver na beirada do gramado. A decisão então caberá totalmente a ele.

O ponto é que, mesmo vendo a imagem, pode haver discordância. Uns acham que Everton Felipe foi derrubado por Jonas, outros, como o comentarista de arbitragem da Globo, o ex-árbitro Paulo César de Oliveira, que foi o são-paulino quem se projetou para cima do adversário, portando jogada normal. A subjetividade no futebol não acaba com o VAR e, sem ter certeza, a orientação para o árbitro é sempre manter a primeira impressão que teve — conceito que é usado como regra, por exemplo, na NFL, a principal liga de futebol americano e que há anos usa a imagem para tirar dúvidas.

O lance que originou o gol do Novorizontino rendeu mais discussões devido ao relacionamento conturbado entre Palmeiras e FPF (Federação Paulista de Futebol) desde a final do Paulista de 2018 e a acusação do clube de que houve interferência externa em decisão que anulou pênalti sobre Dudu contra o Corinthians – na decisão por penalidades, os corintianos venceram e ficaram com o título. Uma câmera mostra que a bola teria batido no braço de Murilo Henrique antes dele arrancar e chutar para o gol — no rebote de Fernando Prass, Cléo Silva fez o gol. Em outra, divulgada pela Federação Paulista de Futebol, não fica claro o toque de mão, ela parece bater na barriga.

O responsáveis pelo VAR, pelo protocolo, analisaram todas essas imagens e a conclusão foi de que não tinham certeza do toque de mão. No campo, o árbitro mandou seguir e deu o gol. Na dúvida, diz a regra, fica o que o juiz de campo assinalou inicialmente.

O VAR é novidade e não vai, infelizmente, acabar com todas as discussões e dúvidas sobre arbitragem. Casos subjetivos, como do pênalti ou não em Everton Felipe, e de imagens que dão dupla interpretação como em Novorizontino x Palmeiras vão gerar polêmicas como erros graves que alteraram resultados no passado. Um dos caminhos pela transparência é que os organizadores dos campeonatos que usem o VAR mostrem quais imagens foram usadas para tomada de decisão em cada lance analisado. Mesmo assim a discussão não terá fim.

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Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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