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Marcel Rizzo

Tem federação que depende quase 100% do dinheiro da CBF para sobreviver

Marcel Rizzo

15/05/2019 04h00

Rogério Caboclo assumiu a presidência da CBF, que teve o balanço de 2018 aprovado (Crédito: Lucas Figueiredo/Divulgação CBF)

O subsídio anual que a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) repassa representou mais de 50% da receita de dez das 27 federações estaduais de futebol em 2018. Os R$ 828,8 mil doados à Federação Amapaense de Futebol (FAF) foi o equivalente a mais de 98% de tudo o que a entidade do norte do país arrecadou no ano passado — os R$ 14,5 mil restantes foram de recursos próprios, com taxas pagas por clubes locais. Algumas federações receberam mais de R$ 1,5 milhão da CBF.

Todo ano a CBF envia em forma de doação um fixo de R$ 975 mil a cada uma das federações, para o "fomento do esporte na região". Mas não é só essa a ajuda. Algumas recebem mais dinheiro para auxílio na organização dos campeonatos nacionais realizados nos estados, como as Séries B, C e D, Copa do Brasil e regionais — que é usado para pagamento de controle de dopagem, arbitragem, entre outros gastos. Há casos, como da FAF, que o valor pago fica um pouco menor do que o fixo para abater adiantamentos ou custos que a federação devia para a CBF.

Amapá, Amazonas, Rondônia, Tocantins, Mato Grosso, Piauí, Acre, Alagoas, Roraima e Espírito Santo foram as federações que tiveram no auxilio da CBF mais da metade de suas receitas. Todas com orçamentos que não chegam aos R$ 3 milhões por ano e que, com exceção de Alagoas que tem o CSA na Série A este ano, não têm times na elite do futebol brasileiro. Mato Grosso (com o Cuiabá) e novamente Alagoas (CRB) têm times na Série B.

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Esses valores pagos às federações não incluem os R$ 75 mil mensais que a CBF paga a cada presidente, como "verba de representação". O salário é pago há alguns anos, diretamente aos cartolas, e é uma das principais críticas ao modus operandi da confederação brasileira, já que são as federações quem elegem o presidente da entidade no sistema de votação incluído no novo estatuto — votam as 27 federações, com peso 3, totalizando 81 votos, contra 40 votos dos 20 clubes da Série A (peso 2) e 20 da B (peso 1).

Em abril de 2018 houve a eleição para presidente da CBF, com vitória de Rogério Caboclo, à época diretor executivo da entidade e candidato único. Ele assumiu um ano depois, em abril de 2019. Presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Reinaldo Carneiro Bastos ensaiou uma oposição, mas depois recuou. Não à toa a entidade de São Paulo é a que menos depende de qualquer ajuda da CBF e o subsidio representou apenas 1,6% dos mais de R$ 60 milhões que a FPF arrecadou no ano passado.

As também ricas federações do Rio (3,6%), Minas Gerais (7,1%) e Rio Grande do Sul (R$ 8,3%) foram proporcionalmente as que menos precisaram do auxílio para ganhar dinheiro e tiveram mais de R$ 10 milhões de receita. Todas as outras 22 federações com dados disponíveis (a do Distrito Federal não disponibilizou esses números) tiveram aos menos 20% das receitas atreladas ao subsídio da CBF.

Muitas, como as do Espírito Santo, do Acre, de Rondônia e até do Pará, estado do ex-presidente da CBF Antônio Carlos Nunes, só alcançaram superávits por causa do auxílio da confederação brasileira. Em 2018, 17 das 27 federações tiveram lucro apontado em seus balanços financeiros, resultado melhor do que em 2017, quando 14 obtiveram superávit. 

VEJA A DEPENDÊNCIA DAS FEDERAÇÕES AO SUBSÍDIO DA CBF EM 2018:

AP – 98,2% da receita total de R$ 843,3 mil
AM – 79,1% da receita total de R$ 1,34 milhão
RO – 76,5% da receita total de R$ 1,41 milhão
TO – 70,2% da receita total de R$ 1,65 milhão
MT – 68% da receita total de R$ 1,72 milhão
PI – 67,8% da receita total de R$ 2,2 milhões
AC – 67,8% da receita total de R$ 1,74 milhão
AL – 57,9% da receita total de R$ 2,59 milhões
RR – 54,2% da receita total de R$ 1,69 milhão
ES – 50,4% da receita total de R$ 2,11 milhões
PA – 46,6% da receita total de R$ 2,11 milhões
MS – 44,5% da receita total de R$ 2,58 milhões
SE – 39,7% da receita total de R$ 2,57 milhões
CE – 34,3% da receita total de R$ 3,87 milhões
PB – 30,7% da receita total de R$ 3,13 milhões
MA – 29,9% da receita total de R$ 2,82 milhões
RN – 27,3% da receita total de R$ 3,57 milhões
GO – 24,9% da receita total de R$ 3,51 milhões
PR – 24,9% da receita total de R$ 6,22 milhões
SC – 24,8% da receita total de R$ 5,28 milhões
PE – 20,1% da receita total de R$ 5,1 milhões
BA – 20,1% da receita total de R$ 4,8 milhões
RS – 8,3% da receita total de R$ 11,7 milhões
MG – 7,1% da receita total de R$ 12,67 milhões
RJ – 3,6% da receita total de R$ 26,7 milhões
SP – 1,6% da receita total de R$ 60,7 milhões

*DF – sem dados de quanto faturou e quanto recebeu da CBF

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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