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Marcel Rizzo

Para Fifa, Neymar vale quase 20 vezes mais do que Marta para jogar Copa

Marcel Rizzo

21/05/2019 04h00

Marta, seis vezes a melhor do mundo mas com ganhos bem inferiores aos homens (Crédito: Stuart Franklin – FIFA/FIFA via Getty Images)

A Fifa pagará pela primeira vez a clubes de futebol feminino o chamado programa de benefício para aqueles que cederem jogadoras para a Copa do Mundo que será realizada entre 7 de junho e 7 de julho, na França. Só que a indenização para a competição dos homens foi quase 20 vezes maior do que a do torneio das mulheres. A estrela da seleção brasileira, mais uma vez, será Marta, camisa 10 como Neymar.

Em 2018, no Mundial masculino da Rússia, a Fifa desembolsou total de US$ 209 milhões (R$ 854 milhões) a 416 clubes de 63 federações que tiveram jogadores convocados – por dia, cada atleta homem custou à entidade US$ 8,53 mil (R$ 35 mil). Cada jogadora custará US$ 450 (R$ 1,83 mil) por dia na Copa feminina, totalizando pagamento de US$ 8,48 milhões (R$ 34,6 milhões) dividido entre as equipes.

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Um clube que tiver uma atleta chegando até a final da competição na França receberá total de US$ 20,25 mil (R$ 82,7 mil), enquanto que no ano passado uma equipe que cedeu jogadores franceses ou croatas às seleções, as finalistas em solo russo, embolsaram US$ 401 mil (R$ 1,6 milhão) por cada um dos liberados.

A Fifa alardeou há alguns meses o acréscimo dos valores pagos às seleções femininas na Copa do Mundo de 2019. Além de um aumento de US$ 15 milhões para US$ 30 milhões na premiação do campeonato, também garantiu mais US$ 11,5 milhões para se dividir entre as 24 participantes na preparação para o torneio, principalmente para a logística da realização de amistosos, e mais os US$ 8,48 milhões de ressarcimento aos clubes. O total chega a quase US$ 50 milhões, mas ainda há um abismo ao que é pago aos homens. A Fifa distribuiu às seleções masculinas na Copa-2018, só de premiação, US$ 400 milhões. Fora os US$ 209 milhões de indenização aos clubes.

Aos que reclamam, internamente a Fifa argumenta que o custo de clubes com seus departamentos femininos são bem inferiores ao que gastam com o masculino. A brasileira Marta, eleita em 2018 pela sexta vez a melhor jogadora do mundo, recebe aproximadamente US$ 380 mil por temporada (R$ 1,5 milhão) do Orlando Pride (EUA), segundo a revista "France Football". É a quinta mais bem paga do planeta — a norueguesa Ada Hegerberg, do Lyon (FRA), é a de maior salário, US$ 450 mil (R$ 2 mi) por ano. O argentino Lionel Messi, do Barcelona, o jogador mais bem pago do mundo recebe US$ 145 milhões (R$ 594 milhões) a cada temporada. Hegerberg não estará na Copa do Mundo, como protesto, justamente porque defende melhores condições para as mulheres no futebol.

O mecanismo do programa de benefício na Copa feminina é o mesmo que na masculina: o início do período do pagamento é duas semanas antes da partida inaugural da Copa, dia 7 de junho, entre França e Coreia do Sul, e se encerra um dia depois da eliminação no Mundial da seleção da convocada. Há, porém, uma diferença na distribuição do dinheiro: entre as mulheres, o clube que tem o contrato atual da atleta recebe obrigatoriamente 50% do total que será pago pela participação daquela jogadora no torneio. Os 50% restantes serão divididos entre os clubes pelos quais ela atuou entre os 12 e 22 anos, proporcionalmente. Já entre os homens a proporcionalidade foi feita inclusive com o time atual — alguns com contrato válido receberam até menos do que clubes anteriores.

Vadão convocou na quinta passada (16) 23 jogadoras que defenderão a seleção brasileira no Mundial. O Corinthians foi o time que mais cedeu atletas, inicialmente quatro, mas Adriana acabou cortada por lesão. Se o Brasil avançar até a decisão, o time brasileiro receberá da Fifa como indenização R$ 248 mil. Se isso ocorresse na Copa masculina, por três convocados com a seleção chegando até à final o valor pago teria que ser de R$ 4,8 milhões. Além de corintianas, Vadão convocou atletas que atuam no Brasil nas equipes do Avaí/Kindermann, no Inter e no São Paulo.

O Corinthians, por sinal, foi dos oito times brasileiros bonificados o que recebeu maior quantia por ceder atletas à Copa da Rússia em 2018, total de US$ 645,2 mil. Na sequência vieram o Flamengo (US$ 435,8 mil), o Palmeiras (US$ 425,2 mil), Grêmio, Cruzeiro e Vasco (US$ 322,6 mil cada), o São Paulo (US$ 237,7 mil) e o Sport (US$ 41,035 mil).

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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