Opinião: Ceni erra ao voltar para o Fortaleza após conquistar 'tudo' no CE
O que Rogério Ceni quer de sua carreira? A ida ao Fortaleza, em dezembro de 2017, foi acertadíssima – o que os resultados depois comprovaram. Meses antes ele havia deixado o São Paulo, clube do qual é o maior ídolo e onde começou a carreira de treinador sem ter qualquer experiência anterior. Natural, por sua idolatria, mas um erro principalmente porque, hoje, o São Paulo convive com falta de títulos e portanto forte pressão. Nem o ídolo aguentou.
Um passo atrás, portanto, era natural, e o Fortaleza se encaixava bem nisso: time de massa da quinta maior cidade do Brasil, com uma diretoria com visão moderna e que retornava para a segunda divisão depois de anos na terceirona. Havia ambição, dos dois lados, ao mesmo tempo que Ceni saía do eixo Rio-SP-RS-MG onde, talvez, seus métodos fossem ser questionados muito antes dos resultados aparecerem.
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O 2018 acabou com o objetivo conquistado, o acesso para a Série A com o título de lambuja. Mas não foi só isso: com uma carta-branca para apitar em diversos setores do clube, Ceni ajudou o Fortaleza a se modernizar. Centro de treinamento melhorado, estádio e sede do clube também, áreas médica, de fisiologia, de alimentação, de preparação física, tudo ficou de acordo com um time de primeira divisão com o orçamento a qual o Fortaleza tem acesso atualmente. O combo Rogério Ceni e título multiplicou a receita com sócios-torcedores e os títulos chegaram também em 2019.
Primeiro o cearense em cima do maior rival, o Ceará, depois a Copa do Nordeste, este inédito, e o projeto que Ceni abraçou em 2017 tinha os frutos colhidos. Analistas o colocavam como dos melhores da nova geração que preza por um futebol bem jogado, de posse de bola e de criar mais e destruir menos. Colocar o Fortaleza em pé de igualdade a times com melhor estrutura e maior orçamento na Série A fez Ceni ser cobiçado. Primeiro o Atlético-MG fez uma oferta, recusada pelo técnico também por questões pessoais. Depois o Cruzeiro, este aceito.
Naquele momento pós-Copa América, período que o Brasileiro parou por semanas, o Fortaleza já não vivia seu melhor momento. Houve perda de jogadores, não repostos à altura e a cada coletiva que Ceni dava na capital cearense ou após os jogos aparecia uma certa frustração por naquele momento não ter material para produzir o que achava possível. Aceitar o Cruzeiro, portanto, foi o passo natural. E que se mostrou errado, como a volta ao Fortaleza também.
No Cruzeiro, que vive crise política mas também de gestão de elenco, Ceni acabou sendo demitido em seis semanas. Não conseguiu impor sua filosofia, dentro e fora de campo. Não havia parceria de parte do grupo de jogadores e nem boa vontade da diretoria em deixar que ele colocasse o dedo em alguns departamentos que não é função do técnico naturalmente.
Ceni deixou o Cruzeiro, o Fortaleza viu a oportunidade de tê-lo de volta e mandou embora Zé Ricardo, que havia sido contratado como substituto. O clube jurou, em nota oficial, que a negociação só ocorreu após confirmada a saída de Zé e Ceni demorou dois dias para dar o sim — apesar do jornal O Povo, por exemplo, já ter publicado na sexta (27) que o técnico havia dado sinal positivo para o negócio.
O contrato é curtíssimo, até 15 de dezembro, o que deixa ainda mais estranha a negociação: Ceni volta para salvar o Fortaleza de um rebaixamento — time hoje é o 15º na tabela, duas posições acima do Z4? Não há, portanto, um projeto de logo prazo, o que também não faria sentido. Ceni ganhou tudo o que ele e a direção do clube cearense colocaram como objetivo quando o contrataram. Qual a ambição de Ceni ao retornar para Fortaleza?
Ele vai explicar, claro, quando for reapresentado. Hoje, porém, o movimento parece errado para uma carreira que parece muito promissora.
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