Jesus e Sampaoli fazem clubes priorizarem estrangeiros. Dará sempre certo?
O português Jorge Jesus, no Flamengo, e o argentino Jorge Sampaoli, no Santos, fizeram trabalhos elogiáveis e provavelmente abrirão caminho para uma enxurrada de técnicos estrangeiros no Brasil em 2020. O Palmeiras demitiu o diretor Alexandre Mattos e Mano Menezes e quer Sampaoli. Se não der o santista, deve mirar outros nomes de fora do país — o português Carlos Queiroz, hoje na seleção colombiana, é um alvo segundo o apresentador e também blogueiro do UOL Benjamin Back.
O efeito Jesus e Sampaoli é natural. Se costuma ir atrás do que deu certo e a moda agora são técnicos estrangeiros, como se fosse certeza de sucesso. O Inter já acertou com o argentino Eduardo Coudet, que fez um trabalho de muita qualidade no Racing (ARG), e não se espante se o São Paulo demitir em breve Fernando Diniz e também sair ao mercado atrás de um treinador de fora do Brasil. É certeza que dará certo? A história mostra que não.
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O São Paulo mesmo teve experiência recente com dois estrangeiros que foram embora para assumir outros compromissos: o colombiano Juan Carlos Osorio abandonou em 2015 o clube que vivia uma crise política séria, é verdade, para ir à seleção do México e o argentino Edgardo Bauza foi embora em 2016 para assumir a seleção argentina. Os dois fizeram trabalhos bons em campo, mas decidiram por outras propostas assim que a receberam.
Este é um ponto a se avaliar ao contratar um técnico estrangeiro: é difícil prever um trabalho a longo prazo. Ah, mas no Brasil não existem projetos a longo prazo. Ok, mas tem que se entender que para treinadores como Jorge Jesus e Jorge Sampaoli o Brasil acaba sendo um trampolim para voltarem a ter mercado na Europa, principalmente.
Se Jesus tiver uma proposta que o interesse, provavelmente irá embora. Como o colombiano Reinaldo Rueda foi do próprio Flamengo à seleção do Chile após alguns meses de trabalho em 2017. Algum flamenguista irá odiar Jesus se ele sair depois do que conquistou este ano? Provavelmente não. Mas será um trabalho interrompido que tem tudo para render muito ainda — e que fique registrado: não acho que Jesus sairá antes do meio de 2020.
O mercado de técnicos brasileiros passa por uma entressafra. Há aqueles mais veteranos, que podemos incluir Abel Braga, Vanderlei Luxemburgo, até mesmo Mano Menezes, um pouco mais novo do que esses dois, que já têm dinheiro e conquistas que de certa maneira pode tê-los acomodado. Tem Renato Gaúcho, o que melhor conseguiu se adaptar entre os mais veteranos. E há uma geração chegando, mas que não vingou ainda. Veja o caso de Fernando Diniz, tido como uma das grandes novidades do futebol no Brasil, com estilo ousado, mas que não vem dando certo em clubes de massa.
Mas não há treinadores brasileiros promissores? Claro que sim. O Corinthians pegou um deles, Tiago Nunes. A ver como se portará em um clube em que a pressão será maior do que encontrou no Athletico-PR. Rogério Ceni é outro. O período de Cruzeiro talvez tenha exposto o que ele precisa aprimorar, a gestão de grupos com jogadores medalhões. Mas suas ideias dentro de campo não deixam a desejar a técnicos como Jesus e Sampaoli, vide o que fez com o limitado elenco do Fortaleza.
Há espaço para técnicos estrangeiros e para brasileiros da nova e até da velha geração. O que não pode achar é que somente um desses perfis é a solução para modernizar o jogo por aqui.
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