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Empresa que admitiu ter pago propina continua comprando torneios da Fifa

Marcel Rizzo

16/12/2016 05h00

A empresa argentina Torneos y Competencias (TyC), que admitiu à Justiça dos Estados Unidos o pagamento de propinas a cartolas para comprar direitos comerciais de torneios de futebol, continua adquirindo competições da Fifa, por meio de terceiros, e repassando à emissoras de TV.

Além dos direitos da Copa do Mundo de 2018 para Argentina, Uruguai e Paraguai, que já havia sido noticiado, a TyC intermediou repasses para três torneios da Fifa em 2016: o Mundial de futsal, disputado em setembro na Colômbia, e os Mundiais femininos sub-17 (em outubro, na Jordânia) e sub-20 (entre novembro e dezembro, na Papua-Nova Guiné).

A empresa, por meio da TyC International B.V., sua marca internacional com sede na Holanda, também negocia, segundo apurou o blog, para adquirir os Mundiais masculinos sub-20 (na Coreia do Sul) e sub-17 (na Índia), que serão disputados entre maio e outubro de 2017.

Não há ilegalidade, mas mostra que a empresa, que fechou acordo com o Departamento de Justiça dos EUA para pagar mais de R$ 380 milhões em multa, continua atuando na área em que admitiu ter praticado corrupção.

A compra das competições pela TyC não acontece diretamente da Fifa, mas de uma empresa que adquire inicialmente os direitos da entidade que comanda o futebol no mundo. A Mountrigi Management Group tem sede na Suíça e é um braço da gigante mexicana Televisa.

A Mountrigi tem comprado os direitos dos torneios da Fifa mais recentes para todos os países da América do Sul, com exceção do Brasil, que tem a Globo negociando diretamente com a Fifa.

Os suíços, então, revendem os direitos, o que é comum nessas negociações. A TyC compra da Mountrigi os torneios da Fifa para revender para a Argentina, o Paraguai e o Uruguai.

Por exemplo: no Mundial sub-20 feminino da Papua-Nova Guiné, a Mountrigi comprou da Fifa os direitos para o Uruguai, em todas as plataformas (TV, rádio, mobile e internet). Depois vendeu, todas também, para a TyC, que as revendeu para cinco empresas diferentes.

Em outros países da América do Sul, como Chile, Peru e Equador, a Mountrigi fez o repasse direto para emissoras de TV que de fato transmitirão o evento, sem intermediário.

Procurada, a Fifa respondeu que não poderia fazer comentários sobre esse assunto. Também procurada, a TyC não respondeu. Ninguém da Mountrigi foi encontrado para tratar do tema.

O caso

A TyC é pivô do escândalo de corrupção que levou dezenas de dirigentes de futebol à prisão, desde maio de 2015 – entre eles o ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) José Maria Marin, acusado de corrupção pelo Departamento de Justiça dos EUA e que está em prisão domiciliar em Nova York.

O atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, também é acusado de receber propinas de empresas de marketing esportivo. Ambos negam as acusações. Outras 20 pessoas já admitiram à Justiça americana terem praticado crimes, e fizeram acordos para pagamento de multas.

Na terça (13), o Departamento de Justiça dos EUA divulgou que fechou acordo com a TyC, que pagará cerca de R$ 380 milhões para conseguir uma anistia.

A empresa admitiu pagamento de propina a cartolas pela compra de direitos comerciais de competições, incluindo as Copas do Mundo de 2018 e 2022, e torneios na América do Sul.

O acordo dá à empresa uma anistia no prazo de quatro anos em troca do pagamento de multa e da devolução do dinheiro obtido de forma ilegal, além da implementação de mecanismos de controle interno e uma cooperação total com a investigação do escândalo de corrupção envolvendo a Fifa.

Ao final dos quatro anos, caso a TyC tenha cumprido os requisitos, o governo americano eliminará as acusações por fraude bancária.

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Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

Sobre o Blog

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