Fifagate: o que está deixando Marin mais aliviado para o julgamento nos EUA
Marcel Rizzo
21/06/2017 04h00
José Maria Marin presidiu a CBF de março de 2012 a abril de 2015 (Crédito: Brendan McDermid/Reuters)
A diminuição dos acusados pelo Departamento de Justiça dos EUA de corrupção no futebol que vão a julgamento em 6 de novembro, em Nova York, foi tratada como positivo pela defesa do brasileiro José Maria Marin, ex-presidente da CBF.
Somente Marin e outros dois cartolas ainda se declaram inocentes no chamado "Fifagate" – eles são acusados de receber propinas para vender direitos comerciais de torneios de futebol nas Américas.
No último mês, dois ex-dirigentes admitiram a culpa e fizeram acordos com a promotoria. Em 24 de maio foi Costas Takkas, empresário nascido na Grécia que foi secretário-geral da Associação de Futebol das Ilhas Cayman e teve cargo diretivo na Concacaf (Confederação de Futebol das Américas do Norte, Central e Caribe).
Nove dias depois, em 2 de junho, o guatemalteco Hector Trujillo, ex-secretário-geral da Federação da Guatemala, além de juiz da Suprema Corte do seu país, também mudou sua posição, que até então alegava inocência. Eles pagarão multas, terão a sentença anunciada, mas não irão mais a julgamento.
Dos 28 denunciados pela Justiça americana que foram presos ou se apresentaram voluntariamente aos EUA, somente três não se declararam culpados e serão julgados: o ex-presidente da Conmebol Juan Ángel Napout (paraguaio), o ex-presidente da Federação Peruana Manuel Burga, e Marin – que está preso desde maio de 2015 (foi extraditado para os EUA em novembro de 2015, onde está em prisão domiciliar desde então).
O blog apurou que as admissões de Takkas e Trujillo foram consideradas positivas por dois fatores por defensores de Marin: primeiro porque desde o começo a defesa queria que os julgamentos dos acusados fossem feitos separadamente. Inicialmente, poderiam ser 15 julgados ao mesmo tempo. Agora, com três, a defesa entende que será mais fácil separar possíveis responsabilidades de cada um.
Os crimes que teriam sido cometidos são os mesmos (fraude e lavagem de dinheiro), mas as situações são diferentes. A suposta propina recebida por um não é a mesma que outro negociou, por isso os defensores avaliavam que seria complicado mostrar aos jurados que ilícitos não foram cometidos por seus clientes com uma enxurrada de informações diferentes que receberiam.
Com apenas três acusados, a avaliação é que na prática serão feitos três julgamentos distintos, com ponto a ponto de cada um sendo discutido com tempo e dando para se separar com precisão o que realmente cada acusado teria cometido.
O segundo ponto que foi tratado como positivo é que os três que vão a julgamento eram membros da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) – todos os acusados ligados à Concacaf se declararam culpados.
A defesa avalia que será mais fácil aos julgadores analisarem os casos parecidos dos três acusados sul-americanos, já que a acusação de pagamento de propina a membros da Concacaf ocorre por torneios e com modus operandi diferentes.
Outros acusados
Há mais acusados de corrupção além dos 28 que estão presos ou que fizeram acordos com a Justiça dos EUA. Entre eles estão o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, e o antecessor de Marin no comando da confederação brasileira, Ricardo Teixeira. Eles não foram presos (a Justiça americana não tem como prender cidadãos brasileiros dentro do país), nem se apresentaram para fazer acordo, o que os deixam no momento livres de irem a julgamento. Os dois negam terem cometido atos ilícitos.
Desde 27 de maio, quando retornou da Suíça onde ocorreram as prisões de cartolas, antes de reunião da Fifa, Del Nero não sai mais do Brasil, segundo disse à CPI do Futebol por orientação de seus advogados.
No dia 15 de junho, mais um executivo acusado de participar do esquema se declarou culpado. Foi o argentino Jorge Arzuaga, que trabalhava em um banco na Suíça e, na acusação, teria ligações com o ex-presidente da Associação de Futebol da Argentina, e ex-vice da Fifa, Julio Grondona. O cartola morreu em 30 de julho de 2014, mas apareceu nas investigações como um dos que teria recebido propina.
Sobre o Autor
Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.
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