Conmebol quer mais filiados e Brasil pode encarar Suriname, Guiana e Aruba
Marcel Rizzo
13/04/2018 04h00
A Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) tenta viabilizar projeto para aumentar o número de filiados (hoje são dez). A ideia é que alguns territórios membros da Fifa que hoje fazem parte da Concacaf (Confederação das Américas do Norte, Central e Caribe) sejam incorporados pelos sul-americanos.
Os dois principais alvos são Suriname e Guiana, que geograficamente fazem parte da América do Sul — têm divisa com o Brasil — , mas há também interesse em algumas ilhas que estão próximas ao continente, como Aruba e Curaçao.
Há divisão entre membros da Conmebol sobre o assunto. Os favoráveis avaliam que seria importante aumentar o número de membros e, consequentemente, de votos no Congresso da Fifa agora que temas importantes, como escolha de sede de Copa do Mundo, por exemplo, são decididos pelos 211 filiados.
Hoje, a Conmebol é a confederação da Fifa que menos eleitores tem, apenas dez. A Concacaf, por exemplo, tem 35 filiados, a Uefa (União Europeia de Futebol) 55, a CAF (África) 54, a AFC (Ásia) 46 e a OFC (Oceania) 11. Votos são importantes para conseguir apoio a projetos, e normalmente as confederações votam em bloco.
Há também uma questão financeira no projeto de aumentar os filiados. As federações que chegariam à Conmebol são pequenas, pouco estruturadas, e a Fifa tem projetos de desenvolvimento do futebol em que despeja milhões de dólares para aperfeiçoamento de profissionais, construções de campos, entre outros pontos. Como a Concacaf tem, em sua maioria, membros pobres, a divisão do dinheiro é maior, sobrando menos a cada um dos filiados.
Se Suriname e Guiana, por exemplo, se tornarem filiados à Conmebol, a confederação da América do Sul poderia gerenciar verbas maiores para o desenvolvimento do futebol no continente, o que deverá impactar também em outros filiados como Bolívia e Venezuela, que também não têm grandes estruturas.
Aqueles que são contra argumentam que tecnicamente seria um desastre ter seleções tão fracas disputando as competições no continente, como Copa América, torneios de base e, principalmente, as Eliminatórias — que, para a Copa de 2026, provavelmente teria que mudar seu formato de disputa, atualmente feito no sistema de pontos corridos, todos contra todos.
No classificatório da Concacaf para a Copa do Mundo da Rússia, dos países citados como alvo, Suriname e Guiana chegaram à segunda fase e foram eliminados, respectivamente, por Nicarágua e São Vicente e Granadinas. Curaçao e Aruba avançaram à terceira etapa (que ainda não tinha México, EUA, Honduras, Panamá e Costa Rica, as forças do continente participando), mas perderam para El Salvador e São Vicente e Granadinas, respectivamente. No ranking Fifa, Curaçao aparece na melhor posição, em 71º, enquanto Suriname (154º), Guiana (162º) e Aruba (182º) estão bem abaixo.
CBF vê com bons olhos
Na Confederação Brasileira de Futebol há um entusiasta sobre esse assunto: o presidente em exercício Antônio Carlos Nunes, o Coronel Nunes, que comanda a entidade enquanto Marco Polo Del Nero está suspenso pela Fifa, que investiga suspeitas de corrupção. Nunes é ex-presidente da Federação do Pará, Estado brasileiro próximo ao Suriname e à Guiana e que vê anualmente vários atletas brasileiros indo jogar nesses países.
A ideia é que se integrados à Conmebol, seria mais fácil para a CBF ajudar os países com fornecimento de material e profissionais para o desenvolvimento do futebol. Como é praticamente amador, muitos brasileiros que se aventuram por lá acabam jogando e vivendo em condições precárias, muitos sem receber.
Para ganhar filiados, o primeiro passo da Conmebol é apresentar um projeto à Fifa com motivos técnicos e financeiros que expliquem a motivação. O segundo é convencer o membro da Concacaf a fazer parte da Conmebol — sem o consentimento do país, claro, não há negócio. A Concacaf pode até apresentar argumentos pela manutenção dos membros, mas se o filiado quiser, e a Fifa entender que há argumentos favoráveis a isso, não tem o que a Confederação das Américas do Norte, Central e Caribe fazer para mantê-los.
Não é incomum federações mudarem de confederações, e a geografia da Fifa é muito peculiar com relação a isso — você não precisa fazer parte territorialmente da América do Sul para estar na Conmebol. Caso clássico é o da Austrália, que para a Fifa desde 2005 faz parte da Ásia, e não da Oceania. Nesse caso, o pedido partiu dos australianos, que viam o futebol em seu continente muito fraco e maiores chances de chegar às Copas do Mundo atuando pela Ásia — o que se comprovou, já que esteve nos últimos quatro mundiais.
Nesta quinta (12), ocorreu o Congresso da Conmebol, em Buenos Aires, na Argentina, com a presença do presidente da Fifa, Gianni Infantino, e de representantes da Concacaf, entre eles o presidente da entidade, o canadense Victor Montagliani. O assunto seria debatido extraoficialmente.
A Conmebol tem acordo com a Concacaf para apoiar a candidatura tripla de EUA/ México/Canadá como sede da Copa-2026, em disputa contra Marrocos — a eleição será realizada dia 13 de junho, em Moscou, véspera da abertura da Copa da Rússia. Em troca, espera que a Concacaf apoie a candidatura também tripla (Argentina/Uruguai/Paraguai) para o Mundial de 2030. Por isso um acordo para que alguns membros migrem de confederação não deve ser difícil de ser costurado.
Sobre o Autor
Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.
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