Você pode não ter onde ver o jogo decisivo de seu time no Brasileiro-2019
Marcel Rizzo
07/09/2018 04h00
As negociações de Palmeiras, Bahia e Atlético-PR com a Globo para TV aberta e pay-per-view no Brasileiro da Série A de 2019 se arrastam por meses, continuam travadas, e o cenário no momento é que nenhuma partida dessas três equipes, contra nenhum rival, tem garantia de passar nessas plataformas no ano que vem.
A indefinição atinge um momento importante em que a emissora trata do plano comercial de suas transmissões de futebol em 2019, quando patrocinadores recebem o pacote que terão à disposição caso fechem contrato. Ainda é preciso esperar a definição dos 20 participantes da Série A para a próxima temporada (descenso das Séries A para a B e acesso da B para a A), mas o cenário atual deixaria, por exemplo, telespectadores sem Palmeiras x Corinthians ou até sem o confronto decisivo do campeonato, algo que não ocorre desde os anos 1980.
Mas por que isso? A Lei Pelé, em seu artigo 42, diz que os direitos de transmissão, retransmissão e produção de imagens pertencem às entidades de prática desportiva. Apesar de algumas pessoas afirmarem que o texto indica que o clube que detenha o mando de campo tem o direito de transmissão daquele jogo, especialistas e executivos das principais emissoras de TV do Brasil avaliam que o artigo diz que os dois times possuem esse direito. Ou seja, ambos precisam autorizar a transmissão. Se um time A fechou com a Globo e o B não, e esse B não der o aval para a transmissão, o jogo não tem TV.
Redutor
Os três clubes citados fazem parte dos 16 que fecharam contrato com a empresa norte-americana Turner pelos direitos de transmissão em TV fechada. Inicialmente os jogos seriam transmitidos pelo canal Esporte Interativo, concorrente do SporTV, da Globo, mas em agosto foi anunciado que a Turner acabaria com o EI como canal independente, e as transmissões ocorrerão em outros canais do grupo, como o Space e a TNT, que hoje têm programas de variedades e filmes como foco.
A Globo entendeu que esses clubes que acertaram com a concorrência deveriam, por questão de mercado, receber menos pelos contratos de TV aberta e pay-per-view (acordos separados). Os chamados redutores fariam, em média, Palmeiras, Bahia e Atlético-PR ganharem 20% a menos em TV aberta e 5% no pay-per-view. Este é o principal motivo que emperra a negociação, já que não há concorrência para a Globo nessas duas plataformas. O blog apurou que o Palmeiras, por exemplo, pretende esticar a corda até onde puder já que financeiramente depende menos dos contratos de TV do que outros clubes.
O trio também se apega ao fato de que, se não assinar com a Globo, a emissora não terá 108 dos 380 jogos do Brasileiro, tanto na TV aberta quando no pay-per-view, e isso poderia influenciar em contratos da emissora com patrocinadores, já que eles não teriam, como em 2018, a garantia de transmissão de todos os jogos, incluindo os decisivos. Imagine que, na última rodada, qualquer time que tenha acordo com a Globo e que esteja brigando pelo título enfrente Palmeiras, Bahia ou Atlético-PR, mesmo essas equipes já sem chance de taça. O jogo em que provavelmente sairia o campeão não poderia ser transmitido, algo que não ocorre com a Globo desde 1986, quando o São Paulo bateu o Guarani.
Para 2018, o pacote comercial da Globo para o futebol (sem a Copa do Mundo da Rússia) custava inicialmente R$ 230 milhões cada cota. Foram fechados seis contratos (Itaú, Brahma, Chevrolet, Hypermarcas, Unilever e Vivo), não necessariamente pelo valor oferecido, já que cada contrato tem sua particularidade.
Em nota enviada pela assessoria de comunicação, a Globo falou sobre o assunto: "não comentamos negociações em andamento. O que podemos antecipar é que o Futebol na Globo é o mais importante e completo projeto de comunicação da indústria da propaganda no Brasil, reconhecido pela sua eficiência e pela visibilidade que oferece às marcas dos patrocinadores ao longo do ano".
Sobre o Autor
Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.
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