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Palmeiras pode alcançar dobradinha de títulos que só o Santos de Pelé tem

Marcel Rizzo

15/10/2018 09h50

O Palmeiras pode alcançar um feito raro: conquistar o Campeonato Brasileiro e a Libertadores no mesmo ano — o time de Luiz Felipe Scolari lidera a Série A a nove rodadas do fim e está na semifinal do torneio sul-americano. Desde que a principal competição do país passou a figurar como Campeonato Brasileiro, em 1971, nenhum time venceu o nacional e o continental na mesma temporada. Antes, somente o Santos de Pelé conseguiu isso.

Em 1962 e 1963, o Santos venceu a Libertadores e também a Taça Brasil. O torneio nacional foi precursor no país ao integrar equipes de várias regiões em uma época em que prevaleciam os Estaduais e os regionais, como o Rio-São Paulo. Em um formato que hoje se assemelha à Copa do Brasil, com confrontos eliminatórios, a Taça Brasil foi equiparada ao Campeonato Brasileiro pela CBF em dezembro de 2010 — o mesmo correu com o Roberto Gomes Pedrosa, disputado de 1967 a 1970 e que tinha regras mais parecidas com o Brasileiro como conhecemos hoje.

Até a década de 1990, os times brasileiros não tinham a Libertadores como prioridade e preferiam vencer competições nacionais, e até seu Estadual. Isso explica o hiato de 13 anos entre o bi santista de 1963 e a taça levantada pelo Cruzeiro em 1976. Ou o motivo para que, nos anos 1980, somente Flamengo e Grêmio tenham levado para casa a Libertadores, e uma vez apenas cada um, com elencos tão fortes.

A partir do bicampeonato do São Paulo na Libertadores, em 1992 e 1993, que se seguiu com vitórias no Mundial Interclubes contra Barcelona e Milan, com transmissão destacada na TV, os brasileiros passaram a olhar com mais carinho para a Libertadores. Deu-se também uma diminuição de interesse nos Estaduais, que na década seguinte teve seu calendário diminuído quando o Brasileiro, em 2003, passou a ser disputado por pontos corridos.

De um campeonato secundário, a Libertadores acabou se tornando obsessão a clubes que argumentavam que o título sul-americano faria com que suas marcas fossem reconhecidas internacionalmente (em um momento em que a palavra da moda no mundo era o da globalização). E foi o calendário dos anos 1990 e 2000 que ajudou a dificultar que um time vencesse o Brasileiro e a Libertadores no mesmo ano.

Até 2016, a Libertadores era um torneio disputado apenas no primeiro semestre, chegando no máximo até julho. O time campeão, portanto, tinha o restante do ano para se preparar para o Mundial de Clubes, jogado em dezembro desde 2005, quando a Fifa assumiu a organização da competição. Naturalmente os brasileiros que venciam a Libertadores no meio do ano abdicavam do Brasileiro para se preparar para o Mundial.

O time que chegou mais perto de levar Libertadores e Série A no mesmo ano foi o São Paulo, em 2006. Esteve na final da competição sul-americana e perdeu para o Inter, em partidas disputadas excepcionalmente em agosto devido à paralisação do calendário por causa da Copa do Mundo da Alemanha. Talvez esse seja o motivo de o São Paulo não ter largado o Brasileiro: quando jogou a final da Libertadores, já se passavam 15 rodadas do campeonato da CBF e o time liderava o torneio, posição que manteve até o fim.

Em 2018 o Palmeiras usa a força do forte elenco para se dividir entre as duas competições — eram três até pouco tempo atrás, mas o time caiu na semifinal da Copa do Brasil para o Cruzeiro. Felipão tem conseguido rodar o grupo, mas há o ingrediente da mudança de calendário, que pode fazer com que nos próximos anos mais times possam realizar a dobradinha.

Desde 2017, a final da Libertadores é em novembro, próximo ao fim do Brasileiro, em dezembro. Se um time largar o Nacional tão cedo, pode acabar ficando sem as duas taças. No ano passado, o Grêmio priorizou a Libertadores e conseguiu conquistá-la. Mas se, por exemplo, tivesse sido derrotado pelo Lanús na final, ficaria de mãos abanando, já que no Brasileiro acabou em quarto.

Campeões nacionais em ano que brasileiro ganhou a Libertadores:

1962 – Santos (Libertadores) – Santos (Taça Brasil)
1963 – Santos (Libertadores) – Santos (Taça Brasil)
1976 – Cruzeiro (Libertadores) – Internacional (Brasileiro)
1981 – Flamengo (Libertadores) – Grêmio (Brasileiro)
1983 – Grêmio (Libertadores) – Flamengo (Brasileiro)
1992 – São Paulo (Libertadores) – Flamengo (Brasileiro)
1993 – São Paulo (Libertadores) – Palmeiras (Brasileiro)
1995 – Grêmio (Libertadores) – Botafogo (Brasileiro)
1997 – Cruzeiro (Libertadores) – Vasco (Brasileiro)
1999 – Palmeiras (Libertadores) – Corinthians (Brasileiro)
2005 – São Paulo (Libertadores) – Corinthians (Brasileiro)
2006 – Internacional (Libertadores) – São Paulo (Brasileiro)
2010 – Internacional (Libertadores) – Fluminense (Brasileiro)
2011 – Santos (Libertadores) – Corinthians (Brasileiro)
2012 – Corinthians (Libertadores) – Fluminense (Brasileiro)
2013 – Atlético-MG (Libertadores) – Cruzeiro (Brasileiro)
2017 – Grêmio (Libertadores) – Corinthians (Brasileiro)

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Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

Sobre o Blog

Notícias dos bastidores do esporte, mas também perfis, entrevistas e personagens com histórias a contar.


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