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São Paulo é mais um clube a apostar em auxiliar, mas a regra é fracassar

Marcel Rizzo

27/11/2018 04h00

André Jardine assumiu o São Paulo após saída de Diego Aguirre (Crédito: Paulo Whitaker/Reuters)

O 1º de março de 2017 poderia ter repetido uma história que se faz comum no futebol: se o Corinthians tivesse sido eliminado pelo Brusque (SC), da quarta divisão nacional, em uma disputa de pênaltis na segunda fase daquela Copa do Brasil a carreira de Fábio Carille como técnico do time do Parque São Jorge poderia ter sido bem mais curta e seguiria o roteiro de auxiliares que são efetivados em grandes clubes brasileiros.

O Corinthians venceu por 5 a 4, Carille seguiu, conquistou dois paulistas e um brasileiro, aceitou proposta milionária do futebol da Arábia Saudita, foi embora e agora, depois de não receber a estrutura prometida pelos árabes, está prestes a retornar ao Corinthians. Caso raro de auxiliar que vira treinador principal e dá certo e inspiração para o São Paulo apostar em André Jardine para 2019 — no sábado, o presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, confirmou que o interino nessa reta final de Brasileiro, após a demissão de Diego Aguirre, está efetivado e garantido no ano que vem. O problema é que a regra com auxiliares promovidos é de pouca paciência e demissão ao primeiro tropeço.

Dos 12 clubes de maiores orçamento e torcida do Brasil, oito promoveram auxiliares a técnicos principais em algum momento desde 2015, quando esse movimento começou. O levantamento conta apenas os casos de profissionais que estavam em cargos inferiores dentro da comissão técnica do profissional, ou estavam na base, e que acabaram efetivados imediatamente ou algum tempo depois de assumirem interinamente. Destes, total de dez, somente três ganharam títulos, e apenas Carille de envergadura nacional. Marcelo Fernandes, no Santos em 2015, e Zé Ricardo, no Flamengo de 2017, faturaram os Estaduais, mas não duraram quando resultados negativos começaram a aparecer.

Dois são os motivos que fazem os clubes adotarem a solução "caseira" e efetivar profissionais que muitas vezes estreiam como treinador quando assumem o cargo: economia, já que o salário muitas vezes nem muda e ele continua ganhando como auxiliar por um tempo, e falta de opções. Cartolas e agentes não cansam de repetir a escassez de nomes que podem movimentar o mercado nos últimos anos.

No caso do São Paulo, ao que parece, a opção por Jardine é menos por economia e mais por não ter um nome melhor disponível que empolgue. Os tops do mercado nessa entressafra 2018/2019 são Abel Braga, que é caro e não agradava totalmente à cúpula são-paulina, Rogério Ceni, credenciado pelo ótimo trabalho de acesso e título da Série B com o Fortaleza, mas que não tem boa relação com Leco, que o demitiu em 2017, Carille, que quer voltar da Arábia mas parece ter dado preferência ao Corinthians, e Cuca, que deixou o Santos mas ficará um tempo parado cuidando da saúde. A opção por Jardine, portanto, parece coerente mas esbarra justamente na questão paciência.

O São Paulo vai segurar um treinador inexperiente se os resultados não vierem com rapidez? A média de tempo no emprego dos auxiliares que foram efetivados, nos últimos três anos, é de sete meses. Esse número cresce por causa de quatro profissionais que ficaram mais de um ano no cargo: Carille, Zé Ricardo, Jair Ventura, no Botafogo e Odair Hellmann, agora no Inter. Esses dois últimos, mesmo sem conquistas, conseguiram uma sequência, mas se excluir esses nomes a média dos restantes não passa dos três meses empregados.

Felipe Conceição, que substituiu Jair Ventura no Botafogo em dezembro de 2017 quando este decidiu ir para o Santos, durou pouco mais de dois meses. O mesmo clube que havia tido paciência com um auxiliar recém-promovido não teve com o outro. O Flamengo, que manteve Zé Ricardo mais de um ano, ficou com Mauricio Barbieri por apenas quatro meses. No Atlético-MG, Thiago Larghi comandou 32 jogos como interino depois que Oswaldo de Oliveira foi mandado embora, em fevereiro. Quatro meses depois, em junho, foi efetivado e como técnico de fato durou apenas 17 partidas, quando foi trocado por um medalhão, Levir Culpi.

O próprio Corinthians, que tanto sucesso teve com Carille, deu menos de quatro meses a Osmar Loss, a opção quando o campeão brasileiro foi para a Arábia. Quem convive em ambiente de clube de futebol diz que auxiliar que é efetivado precisa de resultado rápido, senão não aguenta a pressão e a diretoria fica com receio de bancar. Carille venceu o Paulista depois da turbulência de quase eliminação no Brusque. No Botafogo, Jair Ventura teve bons resultados na Libertadores e Odair Hellmann reconstruiu um Inter que voltou da Série B para brigar pelo título brasileiro.

Mas mesmo calmaria muitas vezes não adianta. O Cruzeiro, bicampeão brasileiro em 2013 e 2014 deu chance ao ex-centroavante Deivid depois que perdeu Mano Menezes no fim de 2015 para a China. Mesmo em um departamento de futebol bem estruturado e com títulos recentes ele durou quatro meses no cargo.

Para Jardine dar certo é preciso vencer logo. O Campeonato Paulista, por exemplo. Caso contrário com poucos meses os fantasmas de técnicos experientes que estejam no mercado começam a aparecer…

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Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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