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Fifa tem acordo em 23 países com empresa acusada de pagar por Copa do Qatar

Marcel Rizzo

12/03/2019 04h00

Joseph Blatter anuncia vitória do Qatar em dezembro de 2010 (Crédito: AFP)

A empresa acusada de pagar pela candidatura do Qatar para a Copa do Mundo de 2022 detém os direitos dos dois principais torneios da Fifa em 2019, a Copa do Mundo feminina e o Mundial sub-20 masculino, para 23 países na África e na Ásia. A beIN Sports, que é subsidiária da Al Jazeera, mantém contrato com a Fifa, apurou o blog, pelo menos até 2022.

O jornal inglês Sunday Times publicou no domingo (10) que a Al Jazeera pagou à Fifa US$ 400 milhões (R$ 1,53 bilhão) poucos dias antes da escolha da sede da Copa de 2022, em dezembro de 2010 — esta informação já havia aparecido no livro "Custe o que custar", de 2018, da australiana Bonita Mersiades, que trabalhou na candidatura derrotada da Austrália para a Copa-2022. Na época o governo qatariano tinha participação na empresa. Destes, US$ 100 milhões (R$ 385 milhões), segundo documento obtido pelo Times, só seriam pagos se o Qatar fosse confirmado como sede do Mundial.

Três anos depois, em 2013, outros US$ 480 milhões (R$ 1,84 bilhão) foram pagos à Fifa, já pela subsidiária beIN Sports. Este valor explicaria os contratos vigentes para os torneios da Fifa, como a Copa feminina e o Mundial Sub-20. A Fifa respondeu ao Times que "as acusações relacionadas à atribuição da Copa do Mundo da Fifa 2022 já foram comentadas amplamente pela Fifa e que, em junho de 2017, publicou integralmente o relatório García no site Fifa.com. Por outro lado, a Fifa apresentou uma denúncia na Procuradoria Geral da Suíça e o processo segue em andamento. A Fifa coopera e continuará cooperando com as autoridades".

O relatório independente elaborado pelo advogado Michael Garcia apontou pagamento de propina a cartolas para que o Qatar fosse escolhido como sede da Copa, mas em nenhum momento a Fifa cogitou mudar a sede da competição. Os citados no relatório, como o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira, estão afastados de cargos diretivos do futebol — ele nega as acusações.

A beIN Spots informou ao Times que o pagamento extra de US$ 100 milhões foi referente à contribuições de produção e que se tratava de uma prática padrão de mercado frequentemente impostas sobre as emissoras por parte das federações e empresas detentoras de direitos de transmissão. "Ocorre um significativo aumento em interesse e em receitas adicionais de uma emissora e custos significativos da produção local para um detentor de direitos de transmissão quando um evento de grande porte é entregue ao mercado doméstico da emissora".

Fifagate

A beIN Sports tem os direitos da Copa do Mundo feminina, que ocorrerá de 7 de junho a 7 de julho na França, em dez dos 11 territórios africanos que terão a transmissão da competição. O único a não ser da beIN é o departamento francês Reunião, que terá a TF1 como retransmissora, mesma emissora que comprou os direitos para a França. Na Ásia, a beIN tem 13 dos 19 países que passarão a Copa feminina e também o Mundial Sub-20 na Polônia, de 23 de maio a 15 de junho.

A Fifa vende diretamente os direitos de transmissão para todas as plataformas (TV, rádio, internet e mobile) para empresas que pagam valores, como visto, bem altos. Não precisa ser necessariamente uma emissora, pode ser uma companhia especializada em marketing esportivo e que, depois, repassa às TVs ou rádios especificamente. É o caso do que ocorre nas Américas.

Para a Copa feminina e o Sub-20 em nove dos dez países da América do Sul filiados à Conmebol, com exceção do Brasil, a Fifa vendeu os direitos para a Mountrigi Management Group, uma subsidiária da mexicana Televisa com sede na Suíça. Ela, depois, repassa esses direitos às emissoras. Na Argentina, por exemplo, houve uma triangulação: da Mountrigi vendido para a TyC, que repassou para a DirecTV Latin América, que de fato transmitirá as partidas. No Brasil, o Grupo Globo detém os direitos dos torneios da Fifa.

A TyC esteve envolvida no Fifagate, caso que desnudou propinas pagas a cartolas por empresas de marketing esportivo para conseguir os direitos de transmissão de torneios nas Américas. Dezenas de cartolas foram acusados, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin, condenado pela Justiça dos EUA a quatro anos de prisão por conspiração para organização criminosa, fraude financeira nas Copas América, Libertadores e do Brasil e lavagem de dinheiro nas Copas América e Libertadores. Marco Polo Del Nero, outro ex-presidente da CBF, foi banido para sempre do futebol pela Fifa por causa dessas acusações. Ambos negam tudo.

Territórios que a beIN Sports têm os direitos de transmissão da Copa do Mundo feminina e do Mundial Sub-20 masculino em 2019:

África
Argélia
Egito
Líbia
Marrocos
Mauritânia
Djibouti
Comores
Somália
Sudão
Tunísia

Ásia
Bahrein
Irã
Iraque
Jordânia
Kuwait
Líbano
Omã
Palestina
Qatar
Arábia Saudita
Síria
Emirados Árabes Unidos
Iêmen

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Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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