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Marcel Rizzo

Impeachment no Corinthians obrigaria uma nova eleição. Direta ou indireta?

Marcel Rizzo

15/11/2016 05h00

Dilma Rousseff sofreu o impeachment, e seu vice, Michel Temer, assumiu a Presidência da República. No Corinthians, se Roberto de Andrade for impedido de seguir seu mandato até fevereiro de 2018 (é investigado por falsidade ideológica), não será o seu primeiro vice, nem o seu segundo vice, quem assumirá.

Pelo menos não sem passar por uma eleição.

O estatuto do clube exige que um novo pleito seja realizado caso o presidente deixe o cargo, por qualquer motivo, com mais de seis meses de mandato ainda vigente. Este é o caso de Andrade, que ainda tem pela frente 15 meses.

Essa eleição, porém, gera controvérsia entre aliados de Andrade que sonham em ocupar seu lugar caso ele fique sem condições de continuar no poder, e opositores.

Há um grupo, dos que não fazem parte hoje da situação, que defende que o pleito seja feito por meio dos associados, modelo adotado nas eleições a cada três anos. Outro grupo, entretanto, entende que por ser uma eleição atípica, devido à força maior, deveria ser indireta, realizada dentro do Conselho Deliberativo.

Hoje, o conselho corintiano é formado na maioria por apoiadores do grupo de Roberto de Andrade, que é o mesmo do ex-presidente e hoje deputado federal Andrés Sanchez, apesar de distanciamento entre esses dois personagens.

A eleição indireta seria praticamente uma vitória certa desse grupo, que manteria o poder até fevereiro de 2018. Já uma escolha direta dos sócios, com o time em baixa e toda a polêmica sobre a construção do estádio e a alta dívida, aumentaria muito a chance de a oposição vencer.

"Acredito que numa eleição direta, teríamos muitos candidatos inscritos, que veriam uma chance de vencer nessa situação instável. Pelo Conselho esquece, vence o grupo atual", disse o conselheiro e ex-diretor de futebol Antônio Roque Citadini, derrotado por Andrade na eleição de 2015.

O primeiro vice hoje é André Luiz Oliveira, conhecido como André Negão. Ele assumiria temporariamente em caso do impeachment passar por todos seus trâmites: é preciso a abertura do processo pelo presidente do Conselho Deliberativo, Guilherme Strenger, que o mandaria à Comissão de Ética. Esse grupo envia um parecer ao conselho, aconselhando ou não o impedimento. O conselho, então, vota se segue ou não a indicação da comissão.

Mas não para aí. Se o Conselho Deliberativo votar a favor do impeachment, e neste momento Roberto de Andrade é afastado temporariamente, é preciso que os associados, em uma Assembleia Geral, ratifiquem a decisão. O sim ganhando, o presidente do CD marca a eleição, em até 30 dias.

"Ainda não recebi pedido de impeachment. Mas o processo teria todo esse rito, até chegar à eleição", disse Strenger.

O artigo 42 do estatuto prevê que em caso de vacância em qualquer um dos poderes, será feita nova eleição, com exceção se faltarem menos de seis meses para o fim do mandato, quando aí o primeiro vice termina o mandato. Os apoiadores do pleito indireto defendem que há uma brecha para que seja feita indiretamente, já que não há menção ao modelo nesse artigo do estatuto.

Do grupo que está no poder, e acabou rachando, André Negão tem poucas chances de ser eleito, em qualquer modelo adotado, já que foi envolvido em suposto recebimento de propina da construtora Odebrecht para a construção da arena em Itaquera. Ele nega.

O segundo vice, Jorge Kalil, rompeu com o presidente, e poderia ser candidato. O grupo mais próximo a Andrade hoje chegou a cogitar lançar, em caso de pleito indireto, o presidente do Cori (Conselho de Orientação), Osmar Basílio. Não há consenso, porém.

Crise

Revelações da revista "Época" de que Roberto de Andrade assinou dois documentos dois dias antes de assumir o clube, em 7 de fevereiro de 2015, abalaram o clube. Um dos documentos cede o gerenciamento do estacionamento da arena em Itaquera para uma empresa chamada Omni, que detém pouca experiência nesse ramo de atuação.

Andrade nega a fraude e o departamento jurídico do clube informou que ele já estava em exercício quando assinou o documento, que demorou semanas para ser validado e assinado.

A possível falsidade ideológica gerou um inquérito na Polícia Civil.

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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