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Marcel Rizzo

Conmebol teme precedente e vê como mínima chance de anular cartão de Dedé

Marcel Rizzo

20/09/2018 15h56

Dedé no lance com Andrada que gerou sua expulsão (Crédito: Demian Alday/Getty Images)

O artigo 23 do Código de Disciplina da Conmebol diz que "as decisões tomadas pelo árbitro em campo são finais e não suscetíveis de revisões pelos órgãos judiciais da Conmebol". Esse texto tem sido repetido por cartolas na sede da Confederação Sul-Americana de Futebol nesta quinta (20), um dia depois de mais uma polêmica com relação à arbitragem na Libertadores. Há na entidade o consenso de que anular o cartão vermelho dado ao cruzeirense Dedé abrirá um precedente perigoso em que qualquer expulsão poderá ser questionada.

O Cruzeiro vai pleitear que o tribunal disciplinar anule o cartão vermelho de seu zagueiro na derrota de 2 a 0 para o Boca Juniors, na quarta à noite, pelas quartas de final da Libertadores. O árbitro paraguaio Eber Aquino usou o árbitro assistente de vídeo (VAR, na sigla em inglês) para expulsar Dedé depois que o brasileiro acertou o goleiro argentino Andrada com a cabeça em uma bola dividida. Os brasileiros viram exagero na punição.

A chance de isso ocorrer, apurou o blog, é mínima na avaliação de membros da Conmebol. Poderia ocorrer, com relação a cartão vermelho, se a punição tivesse sido dada ao jogador errado, ou seja, o árbitro tivesse em campo identificado erroneamente aquele que cometeu a infração. Há também possibilidades de mudança de decisões do árbitro em campo em casos de corrupção (recebimento de propina, por exemplo). E apenas assim.

Nas conversas que Eber Aquino manteve nas últimas horas com membros do departamento de arbitragem da Conmebol (que, por sinal, tem um brasileiro, Wilson Luiz Seneme, como chefe), o paraguaio disse que identificou "uma jogada brusca grave, que pode causar danos físicos ao adversário". Mesmo sem intenção, na visão de Aquino, Dedé usou de força excessiva com a cabeça na jogada e mereceu receber o cartão vermelho.

Na Conmebol, o fato de Andrada ter se machucado seriamente é usado como argumento de que não foi tão absurda assim a expulsão de Dedé. O goleiro do Boca teve fratura no maxilar inferior e ficará, ao menos, dois meses fora — dirigentes argentinos disseram a membros da confederação que é capaz de Andrada nem voltar a jogar em 2018.

A repercussão negativa da expulsão, porém, incomoda a direção da Conmebol, que já conviveu com algumas polêmicas nessa Libertadores, como os jogadores de River Plate e Boca Juniors que jogaram suspensos e não houve punição — diferentemente do Santos, que por usar Carlos Sánchez de maneira irregular perdeu a partida de ida das oitavas para o Independiente por 3 a 0 (em campo resultado foi 0 a 0).

Nesse caso o Independiente reclamou no prazo necessário, 24 horas pós-jogo, e os rivais de River e Boca, que ignoravam os casos, deixaram passar o prazo e não houve julgamento. Clubes brasileiros, principalmente, veem privilégios a argentinos e já pediram que a CBF atue mais fortemente nos bastidores. 

O fato é que Dedé dificilmente não cumprirá a suspensão automática obrigatória pelo vermelho, e portanto não deve estar em campo no segundo jogo das quartas de final contra o Boca, dia 4 de outubro. Ele será julgado ainda pelo Tribunal de Disciplina, que pode até aumentar a pena. Isso parece improvável que aconteça depois da repercussão negativa da expulsão, criticada até por meios de comunicação da Argentina.

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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