"De doido não tem nada", Ceará renasce com Lisca e já planeja 2019 com ele
O assédio está tão grande que Luiz Carlos Cirne Lima de Lorenzi, ou simplesmente Lisca, só vai dar entrevistas agora nas coletivas oficiais do Ceará, clube que dirige e que virou a sensação da parte final do Brasileirão com improvável arrancada depois de somar três pontos nas nove primeiras rodadas da competição. Determinação da direção, que nas últimas semanas viu seu técnico receber ligações diárias de veículos de imprensa que tentam entender como que o gaúcho de 46 anos virou a chave de uma equipe que, ao que parecia, voltaria à Série B.
Quem vive o dia a dia do clube tem duas explicações para a reviravolta na campanha do Ceará após a chegada de Lisca, no começo de junho: o treinador "fechou" o vestiário, para usar uma gíria presente nos bastidores do futebol para grupo unido, e a parada do campeonato durante a Copa do Mundo, que deu oportunidade de Lisca fazer uma mini pré-temporada e criar uma maneira de jogar em cima do elenco que tem nas mãos.
"Eu cheguei aqui vindo lá de Porto Alegre e ninguém servia no Ceará, ninguém prestava, não tinha jogador para jogar na Série A, o clube não tinha nível para Série A. As pessoas que falaram isso, agora, vão ter ao menos que compreender que estamos vivos e que se equivocaram. O Ceará tem time para brigar para ficar na Série A", disse Lisca após a vitória de 2 a 0 sobre o Vitória, dia 15 de setembro no Castelão, resultado que fez o time, enfim, sair da zona de rebaixamento — hoje, a sete rodadas do fim, está em 13º, com 37 pontos.
"Quando eu fui apresentar o Lisca ao elenco eu disse a eles: "olha, de doido ele não tem nada. Ele é muito inteligente e ele não é um treinador, é um professor. Mesmo os mais experientes vão aprender muito com ele", contou o presidente do Ceará, Robinson de Castro. A aposta em Lisca, que tem o apelido de doido da época que trabalhava em Caxias do Sul, foi pessoal do cartola que o tem como amigo depois de terem trabalhado juntos na primeira passagem do treinador pelo Ceará, entre 2015 e 2016.
Naquela Série B de 2015 o Ceará estava na beira do abismo, com péssima campanha e perto da Série C quando Lisca chegou e a reviravolta ocorreu: fez 19 pontos em 9 jogos e saiu das últimas posições para 15º. "A energia que ele traz é algo impressionante, foi assim em 2015 e agora também. A atmosfera muda e o grupo vai junto. Muitas pessoas não tem essa percepção, ele é um dos melhores técnico do Brasil", disse Castro.
Contra a pressão
Em maio, o presidente demitiu Marcelo Chamusca após o início de Brasileiro desastroso. "Eu já queria contratar o Lisca, mas sofri pressão interna, de torcida, e acabei optando pelo Jorginho. Queriam nome de peso, mas medalhão só serve para fazer festa em aeroporto. No julgamento final é diferente. Quando o Jorginho [pediu demissão e logo depois acertou com o Vasco, após 15 dias e três jogos de trabalho] eu falei, não, agora vou na minha convicção".
Deu certo. Lisca chegou e mudou o esquema tático: da derrota de 1 a 0 para o Cruzeiro, ainda com Jorginho, para o 0 a 0 frente ao Botafogo, reestreia de Lisca, o time foi do 4-3-3 para o 3-5-2. O técnico queria fortalecer o meio de campo, mas não gostou do que viu na primeira partida e no confronto seguinte, frente o forte Palmeiras (2 a 2) , mudou quase tudo novamente, indo a um 4-4-2 e colocando cinco novos atletas em campo. Lisca honrou o apelido de doido neste momento, que recebeu em Caxias do Sul pela maneira efusiva como comemorava as vitórias, mas ali começou a arrumar o time que seria aperfeiçoado na parada da Copa.
"Além do fato de poder conhecer um pouco mais as peças que eu tenho à disposição, também pude devolver aos meus atletas uma recuperação física e psicológica que estavam precisando", disse Lisca sobre a parada da Copa. O Ceará que vem jogando atualmente tem mais de Lisca do que dos antecessores. O meio de campo está mais congestionado, num 4-4-2 que varia para o 4-5-1, e dois dos atletas que pediu estão jogando, Edinho e Calyson — o presidente Robinson de Castro admitiu que dos vários solicitados foram os únicos que conseguiu trazer.
Renovação
Escaldado com a nula estabilidade de treinadores de futebol, Lisca não levou a família do Rio Grande do Sul para Fortaleza. Nesse momento, porque ele já conversa com Robinson de Castro para uma renovação em 2019. Dia 19 de novembro ocorrerá a eleição para presidente no clube e o provável é que o atual mandatário não tenha rival para tentar a reeleição. "Já conversamos, eu disse que quero que ele fique, independentemente da Série A ou B. E ele deu sinal positivo, disse que quer trazer a família", afirmou Castro.
"O grupo todo tem um bom relacionamento com o Robinson. Não estamos nem no começo do mês e todo mundo recebeu o salário. É difícil você ver isso por aí. Quando ele confirmou a reeleição, sentou comigo e me fez um convite para permanência. E que se der tudo certo, eu vou participar da montagem do elenco e não vai ser como da outra vez que estourou tudo na minha conta. Vamos fazer um trabalho de médio e longo prazo, agora com tudo da forma certa", disse Lisca na terça (30), em entrevista coletiva. Por enquanto, Lisca e o Ceará vão mantendo o casamento na Série A em 2019.
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