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Marcel Rizzo

Medo de estádio vazio na sede da Copa fez final da Libertadores ir a Madri

Marcel Rizzo

01/12/2018 04h00

Na quarta (28) à tarde a cúpula da Conmebol e a diretoria da Qatar Airways, empresa aérea que é uma das patrocinadoras da confederação sul-americana, bateram o martelo de que a final da Libertadores entre River Plate e Boca Juniors seria em Doha, capital do Qatar. Faltava assinar os contratos, já que além do pagamento de todos os custos de deslocamento e hospedagem dos times argentinos haveria também premiação extra a se pagar aos finalistas, tudo bancado pelo parceiro comercial.

Mas na noite da mesma quarta, contatos telefônicos entre membros da Fifa e da Conmebol trataram de um problema que preocupava o presidente da federação internacional, Gianni Infantino: a possibilidade de a decisão continental, que tantos problemas já tivera com dois adiamentos e o ataque ao ônibus do Boca por torcedores do River, ser um fracasso de público. E a Fifa entende de estádios vazios no Oriente Médico, já que o Mundial de Clubes quando jogado por lá nunca despertou interesse mesmo com times estrelados como Barcelona e Real Madrid.

Havia a preocupação natural de dificuldade de deslocamento de torcedores argentinos até Doha, por custos e tempo curto para preparar a viagem, já que a final estava marcada para 8 de dezembro, a dez dias portanto. Se os argentinos fossem poucos, a Fifa tinha certeza que o público local não lotaria o estádio, o Khalifa Internacional, com capacidade para quase 50 mil pessoas. Seria mais um vexame, na avaliação da entidade, e com um agravante: no país que será sede da próxima Copa do Mundo, daqui a pouco menos de quatro anos.

Infantino, então, sugeriu que a melhor opção seria jogar na Europa. Talvez facilitasse o deslocamento de torcedores da Argentina, com trâmites burocráticos mais fáceis e preços mais em conta, e também há grande quantidade de argentinos e latinos que vivem no continente e se interessariam pela partida, também com viagens rápidas entre países como Espanha, Portugal, França e Inglaterra, por exemplo.

A primeira opção foi Paris, por sugestão do Qatar, que tem participação no PSG, clube francês. Mas foi a Conmebol quem optou pela Espanha, pela grande quantidade de argentinos que vivem por lá — a Fifa entrou em contato com a federação espanhola e com o Real Madrid para saber da possibilidade de jogar no Santiago Bernabéu em 8 ou 9 de dezembro (ficou definido para o dia 9, um domingo). Com o sinal positivo, o acordo foi amarrado e a Qatar Airways topou continuar bancando as despesas da partida (o contrato da empresa com a Conmebol vale até 2022).

Parece estranho a Fifa sugerir tirar um jogo do país que será sede da próxima Copa do Mundo, em 2022, mas daqui quatro anos, no Mundial, a certeza de ter estádios cheios por tudo o que representa um Mundial é a mesma que a Fifa tem de seu Mundial de Clubes jogado no Oriente Médio é um fracasso de público. Este é um dos motivos que faz a entidade brigar por um novo formato de competição, com 24 clubes. Há anos a entidade tem prejuízo em seu torneio de clubes.

Em 2017, por exemplo, a média de clubes do Mundial realizado nos Emirados Árabes, vizinho ao Qatar, foi de 16,5 mil pessoas — o Real Madrid foi o campeão, com o Grêmio de vice. Em 2009, primeira vez na região, a média foi de 19,5 mil com o Barcelona vencedor e o Estudiantes vice, caindo muito das médias registradas no Japão anos anteriores, que bateu até os 45 mil espectadores em 2007, com Milan e Boca Juniors na competição.

O Mundial de 2018, que será disputado de 12 a 22 de dezembro novamente nos Emirados Árabes, e terá o vencedor de River x Boca presente, também tem expectativa de público baixo. A Fifa ainda não divulgou a sede da competição em 2019, que a princípio terá o mesmo formato atual, com sete participantes, o campeão de cada uma das seis confederações, mais um representante do país-sede. Em julho, a China foi cotada para receber o torneio nos dois próximos anos, mas nada está confirmado. O certo mesmo é que a Fifa temeu que uma final com tantos problemas fosse um fiasco de público bem no país onde daqui quatro anos a Copa do Mundo será disputada.

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Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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