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Marcel Rizzo

Fardo da Fifa, Mundial de Clubes terá um dos piores públicos da história

Marcel Rizzo

21/12/2018 04h00

O Mundial de Clubes é o fardo da Fifa e a edição de 2018, que está em disputa nos Emirados Árabes, mantém a tradição. Até a semifinal, a média de público nos seis jogos da competição foi de 16.404 espectadores, pior até que a mais baixa da história do torneio, de 16,5 mil registrada em 2017, também nos Emirados Árabes.

Mesmo se mais de 30 mil pessoas comparecerem à final da competição no sábado (22), que terá o time da casa, o Al Ain, desafiando o poderoso Real Madrid, essa média não passará dos 17 mil e, na melhor das hipóteses, será a segunda pior das 14 edições do Mundial da Fifa no formato atual, com sete participantes (os seis campeões de cada uma das confederações filiadas e um representante do país-sede) . Em 2000, no primeiro organizado pela Fifa e disputado no Brasil, o regulamento foi diferente e depois teve um hiato de cinco anos até voltar ao calendário.

Chivas Guadalajara (México) e Kashima Antlers (Japão) jogaram por uma das quartas de final para 3.997 pessoas, em Al Ain. No mesmo dia e estádio, mas mais tarde, o Al Ain, em casa, atraiu pouco mais de 21 mil pessoas contra o Esperance (Tunisia). O jogo até agora com maior público foi a semifinal entre Real Madrid e Kashima, com 30.554 pessoas — estima-se que a final tenha mais ou menos essa presença de público em Abu Dhabi no sábado (22).

Não é à toa que o presidente da Fifa, Gianni Infantino, insiste na remodelação da competição, a turbinando com mais participantes (24) para poder receber investimento privado: há uma oferta de conglomerado de empresas na mesa da Fifa de mais de R$ 85 bilhões para a criação desse novo Mundial e de um outro torneio de seleções, batizado de Liga das Nações, que seria uma espécie de mini-Copa do Mundo entre os Mundiais. Boicotado pelos europeus, as discussões sobre o projeto não têm avançado e o máximo que Infantino conseguiu até agora foi designar um grupo de estudo para avaliar os novos campeonatos.

Sem perspectivas a curto prazo para o novo Mundial de Clubes (a Fifa pensava em lançá-lo em 2021, na vaga da Copa das Confederações, que como o blog mostrou pode até ressuscitar com todos esses impasses), o torneio no formato atual não pode simplesmente acabar porque a Fifa tem um contrato com o grupo chinês Alibaba, de compra e venda de produtos online, como parceiro da competição até 2022. O acordo ajuda a balancear as despesas do torneio, que em 2017, financeiramente, não foi tão ruim para a Fifa, segundo relatório da entidade: a receita com o torneio foi de US$ 37 milhões, a maior parte por contratos de patrocínio, contra US$ 22 milhões de gastos para organização. Para o período de 2019 a 2022, quando encerra o contrato com o grupo Alibaba, a previsão da Fifa é uma receita de US$ 83 milhões com a competição.

Os números parecem bons, mas a Fifa avalia que poderiam ser muito melhores se mais times com bom potencial de mercado participassem. Leia-se aí os poderosos da Europa. A ideia da Fifa era que 12 times do continente estivessem no novo Mundial e, para garantir que fossem os maiores, sugeriu convidar potências como Real Madrid, Barcelona, Manchester United, Bayern de Munique e Juventus, que nem precisariam se classificar por índice técnico.

Com esses atrativos, a cúpula da Fifa avalia que dificilmente fracassaria em público a nova competição, e atrairia mais investimento. Incomoda a entidade, que gosta de se gabar que a maioria dos jogos da Copa do Mundo, por exemplo, são disputados com ingressos esgotados, organizar um torneio que não se coloca nem 20 mil pessoas no estádio.

Das 14 edições do Mundial de Clubes no atual formato (já contando 2018), oito foram no Japão por questão de patrocinador (a montadora Toyota). Por lá em 2007, por exemplo, a média bateu os 45 mil espectadores, considerado excelente. Isso, porém, foi caindo com os anos, mesmo no Japão e no Marrocos e desabando no Oriente Médio (Emirados Árabes). Também por isso a Fifa recomendou à Conmebol que não mandasse a final da Libertadores em Doha, no Qatar, e articulou para o jogo ir a Madri. Temia um fracasso de público justamente no país onde será a próxima Copa do Mundo, em 2022.

Não se sabe até agora onde será o Mundial de Clubes em 2020, nesse formato como conhecemos. A China, não por coincidência o país do grupo Alibaba, apareceu como favorita a receber a primeira edição de um novo torneio, mas como esse não saiu do papel o país asiático pode ser o destino do Mundial no ano que vem. Só não se sabe se os estádios vão encher um pouco mais.

Veja a média de público dos Mundiais de Clube da Fifa no formato atual (desde 2005)

2005 (Japão) – 37 mil espectadores
2006 (Japão) – 33 mil
2007 (Japão) – 45 mil
2008 (Japão) – 35 mil
2009 (Emirados Árabes) – 19,5 mil
2010 (Emirados Árabes) – 25,3 mil
2011 (Japão) – 38 mil
2012 (Japão) – 35 mil
2013 (Marrocos) – 34 mil
2014 (Marrocos) – 28 mil
2015 (Japão) – 34 mil
2016 (Japão) – 29 mil
2017 (Emirados Árabes) – 16,5 mil
2018 (Emirados Árabes) – 16,4 mil (até as semifinais)

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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