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Marcel Rizzo

VAR chega a 25 países e 'modelo' inglês já é discutido como a melhor opção

Marcel Rizzo

05/09/2019 04h00

O VAR (árbitro de vídeo) já é utilizado por 25 países, além de Fifa e confederações filiadas, número considerado excelente por membros da Ifab, o órgão que regula o futebol e que, em março de 2018, incluiu o uso da tecnologia nas regras do esporte. Há, porém, muitas dúvidas e críticas principalmente quanto à utilização excessiva em lances interpretativos, em que se discute, por exemplo, se foi ou não pênalti. Pela orientação da Ifab com o lema "mínima interferência, máximo benefício", jogadas assim não deveriam ir para a revisão, valendo a decisão do árbitro em campo.

Na Premier League, a liga da Inglaterra, o VAR tem ignorado o protocolo da Ifab e já há outras ligas e federações avaliando usar o modelo que, por exemplo, diz para o assistente levantar a bandeira em caso de impedimentos óbvios e não esperar o fim da jogada para marcar a infração. Esta é a recomendação hoje para que se possa fazer a revisão caso seja necessário e isso, na visão dos executivos ingleses, trava mais as partidas com paradas para checagens desnecessárias.

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A Inglaterra implementou o VAR em sua primeira divisão na temporada que teve início recentemente, mas testou a tecnologia em 2018 em Copas e também offline, quando não há comunicação entre árbitro e cabine, portanto não como se alterar decisões de campo. Nesses testes entendeu que havia demora excessiva no reinício da partida quando o árbitro vai à beira do campo checar lances interpretativos. Para os dirigentes ingleses era necessário manter a interpretação com o que foi decidido em campo, não vendo imagens em câmeras lentas.

Estudos da Ifab mostram que a checagem do árbitro de campo na beira do gramado, em média, para o jogo por 68 segundos. Quando ela é feita somente pelos profissionais na cabine em lances objetivos, como posição de impedimento ou cartão para o jogador errado, a partida fica paralisada por 35 segundos em média.

Além da orientação para os bandeirinhas não deixarem jogadas em andamento em casos de impedimentos óbvios, a Premier League também sugere, por exemplo, para que o VAR não atue em caso de um goleiro se adiantar em um pênalti ou que evite checar pênaltis em jogadas que peguem no braço, a não ser que o VAR comunique ter certeza do erro da marcação de campo (algo que se orienta também no Brasil, mas que muita vezes não é seguido).

Os 25 países que hoje usam o VAR em algum grau de competição (não necessariamente em seus torneios nacionais) são Alemanha, Austrália, Bélgica, Brasil, China, Grécia, República Tcheca, Inglaterra, França, Itália, Coreia do Sul, México, Holanda, Israel, Polônia, Portugal, Qatar, Kuwait, Arábia Saudita, Espanha, Turquia, Suíça, Emirados Árabes, Rússia e EUA. A Uefa estreou em seus torneios continentais nesta temporada 2019/2020 e um torneio de seleções que reúne apenas países árabes, a Uana, também.

O VAR no mundo

O VAR passou a ganhar forma em 2015. Três países enviaram sugestões para Ifab e Fifa sobre como regular o uso do vídeo no futebol: Alemanha, Holanda e Brasil. Em setembro de 2015, a CBF tentou a liberação para testar o modelo que considerava ideal, mas recebeu um não – modelo que, entre outros pontos, não apresentava um monitor na beira do campo para o árbitro principal rever a jogada, mas apenas as imagens nas cabines e os auxiliares de vídeo informando, por rádio, o que analisaram das jogadas. A CBF ainda entende que a tela no campo fez o jogo perder muito tempo, mas o modelo do VAR adotado foi o sugerido pela Holanda.

Em março de 2016, a Ifab aprovou que fossem realizados testes e três meses depois, em junho, deu o aval para apenas seis países: Alemanha, Portugal, Holanda, Austrália, EUA e Brasil. Naquele ano, porém, somente holandeses (cinco partidas amistosas) e americanos (dois amistosos) testaram de fato a tecnologia 100%, com a cabine entrando em contato com o árbitro principal e lances podendo ser modificados — no Brasil houve testes em off, sem possibilidade de alterar decisões de campo, nas finais do Campeonato Carioca. Em dezembro, a Fifa estreou no mundo tecnológico em seu Mundial de Clubes, no Japão, com oito confrontos, todos com o VAR.

No ano seguinte, 2017, outros 11 países usaram o VAR, em escalas diferentes: Austrália, Bélgica, Coreia do Sul, Alemanha, Itália, Portugal e EUA o adotaram em jogos de seus principais campeonatos nacionais, no caso dos australianos e europeus a partir do segundo semestre, quando se deu o início da temporada 2017/2018. Os americanos passaram a usar na parte final da Major League Soccer (MLS), sua liga profissional, e os coreanos durante toda sua primeira divisão, entre julho e novembro.

Outros países, como França, República Tcheca, China, Brasil e Polônia, além da Holanda, utilizaram em algumas partidas, principalmente de Copas ou amistosos — os poloneses, no fim do ano, decidiram que o VAR seria utilizado em todo o segundo turno de sua divisão de elite. Por aqui foram os dois jogos da final do Campeonato Pernambucano, entre Sport e Salgueiro.

Para 2018, se esperava que o VAR, introduzido de vez nas regras do futebol em março e confirmado para a Copa do Mundo da Rússia, seria integrado ao Campeonato Brasileiro da Série A. Só que em fevereiro, durante o Congresso Técnico da competição, a maioria dos clubes participantes vetou o uso da tecnologia. O principal motivo para a recusa foi o custo, de cerca de R$ 50 mil por partida, que teria que ficar a cargo dos participantes. A CBF também daria as condições de uso somente para o segundo turno (por questões de profissionais habilitados e compra de equipamentos). Ao final, portanto, haveria um custo total de quase R$ 10 milhões, considerado alto. O VAR só estreou no Brasileirão em 2019, com a maior parte dos custos pago pela CBF.

No mundo também houve avanço no uso do VAR. Mais sete países passaram a utilizá-lo em 2018 e as ligas da China, França, Turquia, Holanda e Espanha passaram a ter o VAR em suas primeiras divisões. A Inglaterra, berço das regras do futebol como conhecemos e que tem o pé atrás com os equipamentos, iniciou-se na tecnologia em jogos da Copa da Inglaterra e da Copa da Liga Inglesa e agora está na Premier League. Para 2019, outros cinco países passaram a usar o VAR em torneios nacionais: Israel, Kuwait, Grécia, Suíça e Rússia. A Croácia pode ser o sexto e já pediu autorização para a Ifab.

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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