Depoimento de delegado define se Santos será denunciado por injúria racial
Marcel Rizzo
26/10/2019 04h00
O depoimento do delegado da partida contra o Ceará definirá se a procuradoria do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) denuncia ou não o Santos por injúria racial. Thiago Galhardo, do time cearense, disse que houve ofensas de torcedores santistas em jogo do dia 17 de outubro, na Vila Belmiro. Segundo ele, na saída do gramado o meia Fabinho ouviu xingamentos racistas e houve também ofensas xenófobas da arquibancada.
Alessio Gamberini Junior, delegado do confronto, já respondeu a ofício enviado pelo procurador-geral do STJD, Felipe Bevilacqua –o teor não foi divulgado. Procurado pelo blog ele confirmou que respondeu, mas não quis revelar o conteúdo. Bevilacqua ouviu de dirigentes do Ceará que Gamberini presenciou as ofensas, por isso enviou ofício pedindo um depoimento a respeito. A procuradoria analisa agora se denuncia o Santos com base no artigo 243-G do CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva), que prevê punições por preconceito "em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência" a jogadores e técnicos, mas também ao clube caso essas ofensas ocorram por parte dos torcedores.
Se denunciado e depois condenado, o Santos não deve perder pontos ou mando de campo, apesar de o artigo 243-G prever isso e a Fifa ter em seu Código de Disciplina essas possibilidades (em casos extremos há até eliminação do campeonato e rebaixamento) — como não é reincidente, o clube pode ser multado em valor que chega até a R$ 100 mil. Caso o torcedor que tenha xingado seja identificado ele pode ser proibido de ir a estádios de futebol por no mínimo 720 dias. Em maio, o Grêmio foi multado em R$ 30 mil depois que torcedores insultaram o jogador Yony González, do Fluminense.
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O árbitro Rafael Traci (SC) não colocou na súmula do jogo, que terminou 2 a 1 para o Santos, as ofensas. Isso dificultou num primeiro momento o trabalho da procuradoria, que solicitou portanto mais um testemunho, o de Gamberini,. Não há prazo para se decidir pela denúncia ou para que o processo seja julgado por alguma das turmas do STJD.
O Santos, num primeiro momento, soltou uma nota oficial lamentando o fato e prometendo investigar quem poderia ser a pessoa que realizou as injúrias. "Qualquer ato de preconceito e xenofobia é absolutamente repugnante e inaceitável. Diante dos relatos passados por alguns veículos de comunicação, o Clube está investigando e irá tomar as providências cabíveis frente a quaisquer casos dessa natureza. O repúdio absoluto a atos de discriminação faz parte da identidade do Santos Futebol Clube", escreveu o clube.
Depois foi além e usou as redes sociais em uma campanha agressiva contra o preconceito nos estádios, dizendo que não quer pessoas assim na Vila Belmiro, como sócio-rei e até mesmo como torcedor da equipe.
Em 2014, em um dos casos mais emblemáticos de injúria racial do futebol brasileiro, torcedores do Grêmio foram identificados chamando o goleiro do Santos Aranha de macaco. O time gaúcho foi eliminado da Copa do Brasil, quatro pessoas foram denunciadas à Justiça e fizeram um acordo para não frequentarem mais estádios de futebol.
A Fifa orienta, desde o meio de 2019, que árbitros parem o jogo caso identifiquem cantos racistas, xenófobos ou homofóbicos de torcedores em partidas de futebol. Há três passos a se seguir: interromper o jogo e avisar pelos alto-falantes e telão que parem as ofensas, suspender a partida por 30 minutos e seguir pedindo para que cessem os xingamentos e, por último, a suspensão definitiva do confronto.
Sobre o Autor
Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.
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